28 de outubro de 2018

First Man.


   Estava com imensa curiosidade neste First Man, realizado por Damien Chazelle, que nos brindou com La La Land  no ano passado. Por vários motivos: por rever Ryan Gosling, um actor do qual confesso gostar, e por abordar uma temática que me interessa sobremodo: a expansão espacial. Já vos disse que nutro um carinho pela Astronomia desde pequeno. Se envolve planetas, estrelas, asteróides, eu estou lá. A missão da Apolo 11 consubstanciou um passo decisivo para a Humanidade, embora curto para o homem, parafraseando aqui Neil Armstrong. Ninguém diria melhor.

   E é precisamente em Armstrong que a narrativa incide. Vai alternando entre o pai de família e o astronauta. O pai que não recupera de uma dolorosa e antinatural perda e o astronauta dedicadíssimo, que passa das críticas e da desconfiança de todos a cabeça primeira do novo, à época, projecto que se propunha a levar o homem à lua e a ultrapassar os soviéticos, então pioneiros. Não nos esqueçamos de que haviam lançado o primeiro homem para o espaço, Gagarin, anos antes.

  A competição com os soviéticos, que não foi esquecida no filme, era um imperativo nacional, em anos em que a Guerra Fria se expandiu para além da atmosfera terrestre. Kennedy investira bastante nos programas, e a NASA, sob fortes críticas da opinião pública, manteve o propósito de, até ao final da década, provar ao mundo que os americanos estavam um passo à frente da URSS.


   Creio que perderam demasiado tempo com os driving tests. Mais de metade do filme, que alterna entre 1961 e 1969, recai nos falhanços da NASA, nos acidentes que vitimaram astronautas antes da bem sucedida missão de Armstrong, para, bem perto do final, nos presentearem com escassos minutos de Lua. Parece que se esqueceram do culminar, improvisando uma sequência de cenas. Quanto aos pormenores técnicos, não abusaram nos efeitos, o que considero excelente. As sequências das missões, inclusive as fatidicamente falhadas, tiveram um realismo ímpar, com alguma ressalva, devo dizer, da aterragem no satélite. Gostei da fotografia da superfície lunar, se bem que não se teria perdido nada se houvessem afastado um pouco as objectivas, dando-nos uma visão mais ampla da solidão daqueles dois homens (com um no módulo, que não desceu) no meio de um nada estéril, a 300 e tal mil quilómetros de casa, ainda sem saber se voltariam.

  De igual modo, gostei imenso das interpretações, quer de Ryan Gosling, quer de Claire Foy, que faz de sua esposa. A interacção dos dois foi intensa. Janet temia, e naturalmente, perder o marido, após ter conhecimento de tantos projectos fracassados da NASA. Por seu lado, Armstrong sabia que tinha em mãos o maior desafio da sua vida, que não podia falhar, nem que para tal tivesse de sacrificar os momentos em família. Gosling soube transpor, para o grande o ecrã, o desalento de um homem pela perda da filha, que o acompanha sempre, ao longo da estória. Um engenheiro aeroespacial de inestimável valor e coragem, um pai desolado. Um homem a quem a tragédia pessoal veio a ajudar na determinação necessária para enfrentar as expectativas de milhões e a pressão de outros tantos que queriam estar no seu lugar. Jogava-se o tudo ou nada.

  Na cena final, de que gostei particularmente, entre Armstrong e a mulher, Gosling e Foy dão um show de interpretação. Os olhares de ambos denotam o que lhes vai por dentro. Em Janet, um misto de medo de que aquele casamento falhe, uma vez que a estabilidade que tanto pedira não passava de um velho sonho. Ela sabia que teria de dividir o marido com o espaço, arriscando-se a perder o pai dos seus filhos. Opções que os grandes têm de tomar. Segundo li, o casamento fracassaria duas décadas depois, quem sabe motivado por feridas abertas nestes tempos.

  Aconselho vivamente. Entre o drama e a acção, temos aqui um filme que irá render algumas categorias, direi eu, nos Oscars do próximo ano.

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