24 de fevereiro de 2018

The Florida Project.


   Um amigo disse-me que detestou. Eu fiquei na dúvida, mas decidi avançar. Se me pedissem para descrever o filme numa simples palavra, usaria "morno". Está longe de ser brilhante. O interesse da narrativa reside na perspectiva que temos desde a protagonista, uma criança pequena, e é através de si que somos conduzidos à história. The Florida Project é um retrato duro, na maior parte do tempo, da América, do país que não é vendido para fora.

   No meio de tanta precariedade, o realizador quase que nos quis mostrar que é possível uma criança ser feliz tendo muito pouco. E ao contrário de Tonya, de que vos falei ontem, Moonee tinha amigos e o amor da progenitora. Uma mãe pouco ortodoxa, também ela jovem mulher, carente, que de infância há-de ter tido muito pouco, mas que não largava a filha em circunstância alguma. O filme é todo ele ambientado naquele complexo habitacional de veraneio, palco de brincadeiras e de traquinices, onde se constroem laços entre vizinhos, e onde o gerente, interpretado por William Dafoe, tem um papel determinante, movendo-se na mais desinteressada compaixão, e até afeição, por Moonee e por Halley, esta última desdobrando-se em esquemas, alguns degradantes, para conseguir manter a filha.

  Afinal, do que é que uma criança necessita para ser feliz? Não seria Moonee feliz, sem prejuízo de não ter uma vida considerada normal para os cânones da tradicional, e quantas vezes hipócrita, sociedade norte-americana? Respondendo, eu diria que sim, e que verdadeiramente se poderá falar em trauma quando a pretendem tirar da mãe e do seu espaço, levando-a, e à amiga, àquela fuga pelo parque da Disney, que coincide com o final surpreendente e inusitado.

   Não será, como apregoaram, o melhor filme do ano, mas também não é dos piores, pelo contrário. O filme é bastante despretensioso: a vida é assim, as pessoas agem como ali as vemos agir, com violência, com alegria, com atitudes irreflectidas, com más decisões. Aquela não é só a América. É a América e a sociedade ocidental, até nos estereótipos.

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