Segunda-feira foi dia de clássico. Um Crime no Expresso do Oriente (1974) será, seguramente, um dos filmes que já foram exibidos vezes sem conta na televisão. Eu, em jeito de curiosidade, só me recordava da sua derradeira cena, paradigmática e memorável, e tão-pouco a relacionava a este título.
Sendo um clássico da cinematografia, como não li o romance policial de Agatha Christie que lhe serve de inspiração, não poderei fazer um paralelismo entre a obra escrita e a sua adaptação. Ouvi uns rumores de que não lhe é fiel; algo, todavia, é certo: quarenta e cinco anos depois, continuamos a aguardar, expectantes, a solução do misterioso assassinato pelo não menos famoso detective Poirot, uma das mais célebres criações de Christie, aqui interpretado por Albert Finney, que lhe imprimiu um ar em certa medida descontraído, desajeitado e bonacheirão.
Incontornáveis são também os desempenhos individuais de Ingrid Bergman, que aliás levou o Óscar de Melhor Actriz Secundária, de Anthony Perkins e de Wendy Hiller. Infelizmente, quase todo o elenco já faleceu. Do tempo em que havia bons actores. Sentia-se toda uma escola de representação nas prestações de cada um. Mais do que pensando no reconhecimento futuro, importava fazer, e de preferência bem feito. Um apreciador de beleza feminina não deixará de se render aos encantos de Laura Bacall e de Jacqueline Bisset.
Há um toque a paródia que aligeira o argumento policial (Bianchi, que após cada interrogatório julga estar-se perante o autor do crime). Não sei em que medida a opção do realizador, Sidney Lumet, terá retirado algum do suspense. Em rigor, embora seja um clássico e queiramos saber quem está por detrás daquele homicídio, nunca parece ser esse o mote principal. Mais do que a narrativa, que se torna apelativa pelo mistério que a adensa, o leque de grandes actores é a grande mais-valia desta história. São uma verdadeira constelação, e aquele final foi como que encomendado à medida para que todos pudessem brilhar, e nem poderia ser de outra forma.
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