Olá! Agora que posso respirar de alívio, após mais de uma semana complicada, entre fazer um teste, um exame, receber três, receber notas finais e passar tardes e noites na sala de estudo, sendo que se prolongarão até pelo menos ao final do mês, lembrei-me de que já não dava notícias há algum tempo. Não há realmente muito para contar, também, que não tenho feito nada. Só o trajecto costumeiro: casa - faculdade / faculdade - casa. Na quinta-feira, sim, fui a uma conferência subordinada ao tema que consta no título da publicação. Teve lugar na Casa da Comarca da Sertã, na Rua da Madalena, e contou com a presença de Paulo Drumond Braga, historiador, e de Dom Miguel de Bragança, irmão de Dom Duarte Pio.
Foi extremamente interessante, porque muito se diz sobre o relacionamento de Salazar com os monárquicos, e até, num exercício de direito comparado, comparamos com a solução da vizinha Espanha, em que Franco, nos anos 40, restaura a monarquia, deixando, porém, o nome do seu sucessor em aberto. Havia, à época, várias linhagens candidatas que não apenas os Borbón, na pessoa de Juan Carlos. O que parecia claro é que seria Juan Carlos, e não o pai, o sucessor de Franco.
Por cá, Salazar, pelo simples facto de não ser chefe de estado, não nomeou sucessor, e, qual malabarista, na senda daquilo que foi o Estado Novo, um regime de consensos, procurou sempre encontrar a harmonia entre os militares, os veteranos da I República, os monárquicos, os proprietários, os trabalhadores. Enigmático como sempre, Salazar foi deixando claro que a questão da restauração ou não da monarquia, sobretudo após a morte do General Carmona, em 1951, no mesmíssimo ano do congresso da União Nacional, era uma não-questão. E terá sido em torno desse ano que os monárquicos, cuja maioria era salazarista, se convenceram de que, por ora, a monarquia não tornaria ao país. Em 1950, a lei do banimento, mais concretamente a Lei da Proscrição, que afastava os Bragança do país para todo o sempre, foi revogada, permitindo que Dom Duarte Nuno, os filhos, os irmãos e demais família pudessem regressar àquela que consideraram sempre ser a sua terra, e que não lhes era desconhecida, porquanto, sem alarido, mas com o conhecimento de Salazar, já cá tinham estado por diversas vezes em visitas à margem do que a lei estabelecia.
Sou a "oitava cabeça" |
Salazar nunca privou com Dom Duarte Nuno, mas manteve uma relação de grande proximidade com uma das suas irmãs, Dona Filipa, com quem trocou correspondência por anos. Dona Filipa de Bragança, na verdade, teve uma paixão quase platónica por Salazar, admirando-o, respeitando-o e rejeitando qualquer crítica ao estadista. Dom Duarte Nuno, igualmente, sempre manifestou apoio a Salazar. Como em tudo, o regime português foi muitíssimo diferente do espanhol, desde logo nas pessoas de Salazar e Franco, com estilos de governação distintos e personalidades também elas distintas.
Quando se deu a morte política de Salazar, em 1968, há muito que não se falava em restauração monárquica. Marcello Caetano, republicano, havia sido, décadas atrás, um crítico acérrimo dessa ideia de retorno à monarquia. Já quanto a Salazar, embora haja monárquicos que gostem de alimentar alguma simpatia do professor de Finanças pela monarquia, a verdade e tudo quanto se sabe é que Salazar, independentemente de regimes, apenas se importava com a sua manutenção no poder. O regime que mais lhe convinha era a república, uma vez que um chefe de estado que só o era porque gozava da sua confiança, e foi assim com os três que o Estado Novo conheceu (quando Craveiro Lopes a perdeu, sabemos que já não se recandidatou…), podia ser completamente manietado. Era, efectivamente, uma mera figura protocolar. Numa monarquia, não seria assim. Um rei, desde logo pela sua legitimidade, não está sujeito ao escrutínio popular ou de parte alguma. Em Itália, Vítor Emanuel III participou da demissão de Mussolini, não nos esqueçamos.
A conferência durou duas horas, e eu expus uma pergunta: se se conheciam cartas de Dona Filipa a Ramalho Eanes ou a Mário Soares. Pelo que parece, não. Com a morte de Salazar, Dona Filipa ter-se-á desinteressado da vida pública, recolhendo-se na sua moradia do Algarve, refúgio habitual à azáfama de Lisboa, que detestava.
Dona Filipa não é uma figura conhecida em Portugal. Eu iria mais longe e diria que nem o pai de Dom Duarte Pio é conhecido pela generalidade das pessoas. O sentimento monárquico esfumou-se entre os portugueses. A actual família real, pretendente ao trono, goza de respeito, é certo, mas sobretudo de uma enorme indiferença. Os portugueses não sentem apego à monarquia ou aos Bragança. Eu, que me assumo como conservador, rejeito a monarquia. Da esquerda à direita, a república é consensual. Há ideia de paridade, de igualdade, que nos é cara. Gostamos muito de eleger os nossos representantes, incluindo o chefe de estado.
Foi muitíssimo útil para mim aprofundar conhecimentos nesta relação específica entre o homem que governou o país por quarenta anos e os Bragança. Uma relação de desconfiança e de algum aproveitamento mútuo.
A conferência durou duas horas, e eu expus uma pergunta: se se conheciam cartas de Dona Filipa a Ramalho Eanes ou a Mário Soares. Pelo que parece, não. Com a morte de Salazar, Dona Filipa ter-se-á desinteressado da vida pública, recolhendo-se na sua moradia do Algarve, refúgio habitual à azáfama de Lisboa, que detestava.
Dona Filipa não é uma figura conhecida em Portugal. Eu iria mais longe e diria que nem o pai de Dom Duarte Pio é conhecido pela generalidade das pessoas. O sentimento monárquico esfumou-se entre os portugueses. A actual família real, pretendente ao trono, goza de respeito, é certo, mas sobretudo de uma enorme indiferença. Os portugueses não sentem apego à monarquia ou aos Bragança. Eu, que me assumo como conservador, rejeito a monarquia. Da esquerda à direita, a república é consensual. Há ideia de paridade, de igualdade, que nos é cara. Gostamos muito de eleger os nossos representantes, incluindo o chefe de estado.
Foi muitíssimo útil para mim aprofundar conhecimentos nesta relação específica entre o homem que governou o país por quarenta anos e os Bragança. Uma relação de desconfiança e de algum aproveitamento mútuo.
Super interessante tudo isto ... gosto ...
ResponderEliminarMuito. :)
EliminarSairia mais barato ter um rei do que estes ladrões todos que tem assento na AR...
ResponderEliminarAbraço
Numa monarquia moderna, continuarias a ter AR e deputados. :)
Eliminarabraço.
Ontem tinha um relambório completo sobre este tema, mais uma vez partido em dois comentários, mas ... hélas!!! perdi-o todo e não tenho paciência para o refazer.
ResponderEliminarMas, essencialmente, tinha a ver com o papel dúbio entre Salazar e a Monarquia e da simbiose que se estabeleceu entre eles. Falava do aproveitamento da parte do homem do que a monarquia tinha de prestável e da acolhimento favorável que os monárquicos tiveram por parte do regime.
Culminava com uma frase da ex-rainha Amélia de Orleães a Leitão de Barros, numa entrevista publicada no "Século", onde esta prestou homenagem a Salazar e da sorte que os portugueses tinham por o ter, pois, se Carlos de Bragança o tivesse tido como homem de estado, nada do que aconteceu teria sucedido.
Também pretendi estabelecer o paralelo entre os dois países ibéricos ...
Mas perdi o comentário.
No entanto gosto muito da ideia de viver numa república e não quero de forma alguma regressar ao regime monárquico ... ainda que o que tenhamos não seja o melhor, a um regime de um rei não!!!! Seguramente!!! Sanguessugas temos muitas, não são necessárias mais!!!
Um bom final de semana
Manel
Salazar sabia viver na aparente sombra como ninguém, decidindo e controlando tudo. Era do seu feitio manter tudo sob controlo.
EliminarE, como o Manel, rejeito monarquias peremptoriamente. Gostos dos rituais e gosto muito das nossas casas reinantes, mas lá atrás, na História.
um bom início de semana!