12 de outubro de 2019

Antígona.


   No passado sábado, dia 5, fui ver a peça Antígona, a mítica tragédia grega de Sófocles que remonta a cerca de 442 a.C. Esteve em exibição no Teatro Dona Maria II durante um mês, sensivelmente. Escolhi um dos últimos lugares disponíveis. Por acaso, consegui um à frente, na primeira fila. Estava quase tudo esgotadíssimo. Comprei-o pela internet.




   Antígona conta-nos a estória de uma moça, precisamente a que dá nome à peça, que decide dar um enterro digno ao irmão, incumprindo com a ordem do rei de Tebas, Creonte, que preferia deixá-lo à sua sorte, a ser comido pelos cães e pelos abutres. Ao tê-lo feito, incorreu na pena capital. É um verdadeiro tratado político. Trata dos limites do poder, da tirania, do sentimento de justiça que concorre com o da misericórdia, da obediência à lei injusta, da consciência individual e da existência de um direito natural que antecede os homens e a eles se sobrepõe. Não deixa de ser curioso que Sófocles coloque uma mulher a desrespeitar as leis da cidade, quando a Grécia era imune à moral judaica. Esta peça como que vem sacralizar a conduta de uma mulher que ousou  respeitar os seus princípios em detrimento da lei. Hoje em dia, seria encarada como uma exaltação feminista.




   Apesar de ter gostado, fui ligeiramente ao engano. Pensei que se ambientassem o mais possível ao tempo de Sófocles. Afinal, não. Imprimiram um tom moderno, praticamente neo-realista, o que me desagradou. Ver actores a interpretar personagens clássicas de ténis, botas, saias coloridas etc, a tocar guitarra e com um dançarino de black dance pelo meio, não me enche a vista. Senti amadorismo também nalgumas interpretações. Quer-se dizer, Sófocles não é para todos. É preciso ter envergadura para honrar uma peça clássica da história da dramaturgia com 2.500 anos.

   Como eu, sou levado a crer que muitos esperavam outra coisa. No final, não os ovacionei. Limitei-me a aplaudir. E não fui o único.

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