Ontem, dia 1, Jair Bolsonaro tomou posse como chefe de estado da nação amiga e irmã brasileira. Portugal fez-se representar ao mais alto nível, através do nosso presidente, o que demonstra a importância que atribuímos às relações bilaterais entre os dois estados. O Brasil não é um país qualquer. Pertence, como Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, ao grupo selecto de amigos e parceiros de Portugal. Não negarei todo o paternalismo. A Portugal é importante ver um Brasil forte e pujante, ainda que as relações comerciais entre ambos os países sejam residuais. É algo sentimental, efectivamente. Um Brasil próspero conforta-nos o ego, como o pai que gosta de ver o seu filho bem e saudável.
Em primeiro lugar, e eu acompanhei toda a cerimónia, gostei do aparato, da sumptuosidade. Investir-se alguém na mais alta magistratura da nação não é um acto qualquer. Merece toda a pompa. Creio que o Brasil tem sobejos motivos para comemorar esta viragem, este abandono do socialismo, nas palavras de Bolsonaro, que tantos prejuízos acarretou. E indo aos discursos do já presidente em exercício, há a salientar a coerência: Bolsonaro disse, já presidente, o que veio dizendo ao longo da campanha que o elegeu: mais segurança, luta contra a ideologia de género, luta contra a criminalidade, medidas para enfrentar a crise económica, luta contra o desemprego (que atinge 13 milhões de brasileiros), liberalização do porte de armas e defesa da família tradicional. É um momento de viragem, que se reflecte na percentagem (porcentagem, no Brasil) de brasileiros que estão, agora, confiantes no futuro, e são mais de sessenta por cento.
Só no ano passado morreram mais de 60 mil pessoas, no Brasil, vítimas da criminalidade violenta. Na lista das cidades mais perigosas do mundo, metade são brasileiras. Divirjo de Bolsonaro quando defende que facilitar o porte de armas ajudaria a diminuir os índices alarmantes da criminalidade no Brasil. Eu creio que não. Poderá ser mera manobra de maquilhagem, e poderá, no limite, levar a que um criminoso pense duas vezes antes de atacar alguém; poderá, psicologicamente, confortar os que sabem que o Estado não se faz sentir nos seus bairros, mas a origem do problema é bem mais profunda: a desigualdade social e a quebra nos valores. O Brasil precisa, e nisso também Bolsonaro se comprometeu, de lutar contra a evasão fiscal e a corrupção, apostando, ainda, em medidas exequíveis, e que se cumpram, de justiça social. Não há paz social onde há tamanhas desigualdades. Urge, igualmente, valorizar quem defende os cidadãos, a polícia, frente aos criminosos, que gozaram, nos tempos de Lula e de Dilma, de uma quase impunidade. Reeducar a sociedade brasileira para os valores do respeito e da ordem é uma hercúlea tarefa que caberá a Bolsonaro e à sua equipa. O Brasil é um país de estrutura político-constitucional complexa. A experiência de Bolsonaro como parlamentar poderá ajudá-lo no diálogo com os seus parceiros, com a câmara dos deputados. O Brasil precisa de um compromisso que vise o crescimento sustentável e o ataque direccionado à criminalidade e à violência.
Os EUA serão, expectavelmente, a grande referência de Bolsonaro. No mesmo dia, Bolsonaro e Trump trocaram cumprimentos no Twitter, rede social que, aliás, aproximará o presidente do povo brasileiro. É toda uma outra forma de se fazer política, à qual ainda não estamos habituados aqui na Europa. Eu espero que Bolsonaro seja sensível aos problemas da CPLP, que se empenhe no aprofundamento dos laços com Portugal e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, praticamente ignorada nos anos de Dilma Rousseff, que não tinha, ela mesma, grande apreço por Portugal, porque Portugal representa a tradição, a tradição que Bolsonaro defende e que a esquerda brasileira sempre negou.
Portugal, claro, não alinhando ideologicamente com Bolsonaro - no discurso de Ano Novo, Marcelo alertou para os perigos do populismo -, continuará a manter a sua postura de país de pontes e de diálogos, cooperante, honrando a sua tradição de agregador de povos. Marcelo foi o único chefe de estado europeu na tomada de posse de Jair Bolsonaro, único chefe de estado de um país membro da União Europeia. De certo modo, Marcelo representou-nos no acto solene e representou a União Europeia. Portugal, a par de toda a ligação histórica, cultural, social e linguística, representa, para o Brasil, um parceiro especialíssimo no diálogo com a organização supraestadual europeia.
Israel será outro dos parceiros especialíssimos do Brasil. Bolsonaro já avisou que mudará a embaixada do Brasil para Jerusalém. Interesses geoestratégicos e de alinhamento com os EUA subjazem à decisão. Bolsonaro quer introduzir o Brasil entre as grandes potências, entre os países que figuram nas decisões que afectam todo o planeta. Um papel que, diga-se, é mais do que devido ao quinto maior e mais populoso país do mundo, nona economia mundial. Sempre fui um crítico da postura indolente do Brasil, qual gigante adormecido, na cúpula da comunidade internacional.
Tempos de grandes desafios esperam o Brasil. Se não for agora, direi eu, não será tão cedo. O Brasil tem todas as condições, neste momento, de construir um futuro melhor para as gerações vindouras, de recuperar a credibilidade que perdeu, perante os brasileiros e aqueles que, como eu, de fora, olham para a sua realidade.
Agora é que iremos ver o Brasil a ser uma potência do mundo :)
ResponderEliminarAgora os bandidos que matam, sabem que a família do morto também o pode matar lolololol
"Com ferros matas, com ferros morres... "
Grande abraço amigo
Bom, eu imagino que não seja assim. A facilitação no porte de armas não visa a que as pessoas façam justiça pelas próprias mãos, mas que, perante uma agressão actual e ilícita = legítima defesa, se possam defender.
Eliminarum abraço, amigo.
Eu, como já lhe escrevi há tempos atrás, e sobre esta mesma personagem, continuo a ter sérias dúvidas.
ResponderEliminarNão por ser de direita, que isso não constituí problema, mas por muitos dos comentários pouco equilibrados que vai deixando escapar, e que, rapidamente (demasiado rápido), são embelezados e desculpados pela "entourage" política.
E estas piscadelas de olho ao "pistoleiro" que ocupa a Casa Branca não são de augurar nada de bom. Aliás, este último senhor, e ainda bem, vai ter a vida bastante mais complicada com a maioria democrática no Congresso.
Facilitar o acesso às armas de fogo no Brasil, como praticamente desde sempre se fez nos EUA - estima-se que os cidadãos americanos possuem cerca de 392 000 000 de armas de fogo; para cada 100 pessoas há 120 armas; em cerca de 40% das vulgares casas de habitação existe pelo menos UMA arma! - e ainda que a lei neste último país tenha sido, de forma mais ou menos cíclica, revista e alterada (acertadamente, tem vindo a tornar-se mais apertada), sobretudo após qualquer atentado mediático, não me parece ser resposta, antes preocupação!
Se os EUA possuem regulamentos e hábitos de posse de armas de fogo desde há séculos, e acontecem os morticínios e hecatombes que se sabem, imagine-se um país sem esta legislação e tradição. Será uma vingança generalizada "do olho por olho", ou por "dá cá aquela palha"! Talvez esteja a ser um "Velho do Restelo", pois não seria a primeira vez, mas ... dá para preocupar.
E a caça às "bruxas" (comunistas, diga-se) no sistema governamental também deve constituir uma preocupação ... a era do McCarthyism ainda está presente na memória de muita gente!!!! Continua-se a não se permitir às pessoas que pensem da forma que lhes for mais adequada e apropriada.
Quanto à política fiscal, não sei bem se ele a conseguirá implementar no seu sentido mais próprio e ideológico, pois a linguagem utilizada pareceu-me uma linguagem populista, para "inglês ver", e para poucos acreditarem, pois é recorrente e o resultado tem vindo a ser sempre aquele que se conhece ... quanto maior e mais rico o país, maior o descalabro das contas, ..e do roubo ... sobretudo devido à legislação protecionista, compadrios, nepotismos, lavagens de dinheiro, lobbying, e "luvas" (o Lula, com toda a sua aura de esquerda, e para não destoar, não saiu imune! ...imagine-se os outros ... ainda me recordo, não sem um calafrio, do Collor!!!)
Conseguir educar toda uma sociedade e toda uma classe política nas regras do bem fazer e da boa gestão não me parece que esteja nos poderes de Bolsonaro, a não ser que acreditemos em milagres. Não sendo religioso, confesso que não consigo fazê-lo.
Mas creio que teremos de esperar para ver, e perceber como vão os mecanismos de controle do sistema político brasileiro.
Mas gostei muito da sua análise, que me parece cheia de positivismo, e é isso que é necessário, pois para negativo já basto eu. Prefiro a sua abordagem, mas ...
Um bom final de semana
Manel
Olá, Manel.
EliminarSim, os EUA têm uma longa tradição de posse de armas pelos civis. É um direito constitucional, inclusive, e, salvo erro, remonta à guerra civil. Entende-se que as pessoas têm o direito de proteger a sua propriedade, sobretudo, que era o valor mais importante no liberalismo do século XIX - nas constituições liberais novecentistas, os direitos relativos à propriedade apareciam em primeiro lugar.
Ainda hoje, a propósito, li uma notícia sobre Trump. Há já por lá quem o queira derrubar. Verdade seja dita: não se abateu, ao menos ainda, nenhuma desgraça sobre os EUA e o mundo desde que Trump chegou à Casa Branca.
Não sei, como o Manel, se Bolsonaro conseguirá cumprir com o que prometeu, contudo, a julgar pelas suas palavras já após ter tomado posse, não parece ter recuado um milímetro nas suas intenções.
Sabe, às vezes prefiro estas pessoas, que dizem o que pensam, que ignoram o politicamente correcto, àquelas que são muito certinhas, cheias de "onze horas", verdadeiros lobos em pele de cordeiro. Com Bolsonaro, mais ou menos já sabemos, ou já sabem, com o que contar. E, reconheçamos: o Brasil só lá vai com ordem e com uma mão corajosa. Há muito tempo que aquele país ultrapassou todos os limites. Comunico-me com alguns brasileiros, de confiança, pelo WhatsApp, por exemplo, em grupos, e bem me dizem como é o dia a dia por lá.
Obrigado, Manel. Muito obrigado por ter lido e pelo comentário.
um bom fim-de-semana!