15 de fevereiro de 2019

Gata em Telhado de Zinco Quente.


   Mais uma noite na Cinemateca, mais um grande clássico. Gata em Telhado de Zinco Quente traz-nos grandes actores, em anos onde se produziam grandes filmes, com grandes interpretações. Tudo é grande neste filme, desde logo a presença de Paul Newman e Elizabeth Taylor, uma verdadeira gata de sensualidade e fogosidade.

   A acção desenrola-se numa casa de família, palco de disputas pela herança de um homem prestes a morrer. Disputa entre os seus dois herdeiros, sendo que a um, precisamente aquele que Paul Newman encarna, pouco lhe importam os bens materiais. Fala-se de desavenças, uma principal: entre Maggie e Brick, um casal, e entre Brick e Big Daddy, o seu pai.

   Ao contrário da peça que lhe serviu de inspiração, de Tennessee Williams, onde se explorava a homossexualidade de Brick, a Hollywood de finais dos anos 50 ainda não estava preparada para a abordar. As referências ficam mais ou menos implícitas, sob a forma de uma grande amizade. Claro que não vemos em como uma grande amizade entre dois homens poderá estar na origem da deterioração do relacionamento de um deles com a mulher, se entre eles não houver mais do que mera amizade.



    De um lado, vemos a falta de carinho, no caso de Brick, que cresceu rodeado de tudo, mas sem a atenção devida do pai; do outro, de Maggie, cujo marido não lhe nutre especial carinho até ao final do filme. Maggie que é profundamente altruísta e engenhosa. Engendra uma gravidez para que o sogro, que não durará muito mais, morra confortado, de certo modo. Casar-se, para ele, implicava ter filhos para se perpetuar, para que algo sobrevivesse com a sua morte. A ira de Brick, que o leva à destruição da cave, repleta de porcarias caras que pouco valem sentimentalmente, é o exteriorizar de uma raiva contida pelo casamento infeliz, pela infância e adolescência sem afecto de um pai presente fisicamente e ausente no carinho e pela morte daquele grande amigo, omnipresente na narrativa, Skipper.

    As interpretações, como referi acima, são inenarráveis. Muito ao estilo Broadway, na entoação das palavras, na teatralidade. Fazia-se cinema com uma paixão que não encontramos presentemente, quando poucos filmes, por melhores que sejam, e temos tido óptimos nos últimos anos, nos ficam na memória. Aquela Maggie de Elizabeth Taylor, mais do que o filme em si, é inesquecível. Não só pela sua beleza, e a beleza daquelas mulheres, a candura, era outra, mas também pela postura.

8 comentários:

  1. Eu, que raro comento os seus post cinéfilos, pois não estou à vontade para isso, e porque não vejo a grande maioria dos filmes que comenta, neste, sinto que é quase um dever :)
    É um dos meus filmes de culto, que já devo ter visto talvez uma meia dúzia de vezes. É um filme que me faz falta, e é raro dizer isto de alguma coisa, muito menos de um filme.
    É de um autor que admiro profundamente, Tennessee Williams, o qual escreveu obras que até foram muito bem passadas para a sétima arte como foi o caso de:
    . a "Rosa Tatuada", protagonizada por uma Anna Magnani (uma das minhas atrizes fetiches - que dá vida à peça "A Voz Humana" de Cocteau, numa versão de Rosselini, e é simplesmente fantástica - em italiano esta versão denomina-se "L'Amore"), que, apesar de não estar muito à vontade nesta obra, pois encontra-se num país que não é o dela e falando uma língua onde, nota-se, não lhe é fácil exprimir o seu lado telúrico na representação, vale a pena ver,
    . a "Noite da Iguana", com outra atriz fetiche, Ava Gardner (o "mais belo animal do mundo", como alguém lhe chamou, e que tem uma "Condessa Descalça" digno de ser visto), que contracena com um Richard Burton, que tenta responder com o mesmo talento, e creio que consegue,
    . "Um Elétrico Chamado Desejo", que mostra um elenco fantástico, onde pontuam um Marlon Brando, ainda sexualmente eletrizante e uma Vivien Leigh inesquecível - gosto mais dela neste papel do que como Scarlett O'Hara, apesar de ter sido considerada única para encarnar esta personagem,
    . "Suddenly last summer", perfeito nas representações de Katharine Hepburn, Elizabeth Taylor e um Montgomery Clift mais fraco (nunca o consegui ver como um sex-symbol, confesso), e, de todos os que vi, lembro por último o
    . "Glass Menagerie" que não me deixou grandes recordações, com uma Jane Wyman (que veio a ser a 1ª mulher do medíocre Ronald Reagan, que nem como presidente se conseguiu salvar) e um Kirk Douglas, que não me pareceu no seu melhor.
    Outras das suas peças foram adaptadas ao cinema, mas não as vi.

    Este que agora menciona está quase no topo das minhas escolhas.
    Bem interpretado, e, apesar dos pruridos americanos, consegue haver uma sugestão pouco explicita da homossexualidade da figura interpretada por Paul Newman, como bem refere, e creio que mais não poderia ser feito à altura, quando imperavam os códigos de conduta rígidos de Hollywood, como era o caso do código Hays.
    Os americanos sempre foram uns falsos moralistas, claro, e com tendência para as mega produções, que raro estão à altura do que se investiu, e da capacidade criativa dos temas literários originais, no entanto, reconheço que produziram coisas muito boas também.
    Um excelente final de semana e continuação de bons filmes e ótimos passeios
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      Ainda não vi nenhum dos que mencionou, mas oportunidades não faltarão. Pode ser que a Cinemateca os exiba um dia destes.

      Não o marcou o "O Último Tango em Paris"? Apenas curiosidade minha.

      Um bom fim-de-semana, e obrigado.

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    2. No pós 25 de abril de 74, Portugal vivia na euforia das novas experiências, sendo uma delas o aceso a filmes considerados pelo antigo regime como "imorais", e, como tal, exibidos totalmente truncados ou pura e simplesmente interditos. A apresentação de um beijo, e não era necessário que fosse muito ousado, entre um par heterossexual, evidentemente, era motivo para que o filme fosse imediatamente considerado interditado a menores de 17 anos
      Assim, este filme, com cenas de sexo explícito, tinha sido pura e simplesmente banido das salas portuguesas, e só foi exibido pela 1ª vez em 1974. Durante meses, as pessoas faziam filas em frente à sala de cinema aguardando entrada. Depois, no interior, esperava-se somente e ansiosamente pela cena principal, onde a atriz era estuprada, o que era acompanhado com apupos, gozo, impropérios, e barulho. O resto do filme passava simplesmente em branco ...
      Foram cenas algo deprimentes, que me fizeram fugir de tais despautérios.
      Mas vi o filme, e fiquei algo em choque na altura, porque, para além de muito jovem, nunca tinha visto algo de semelhante.
      Por volta daquela altura surgiram outros filmes de caráter erótico, como a "Histoire d'O" ou o "Emanuelle", e a todos estes filmes o público português acorria de forma sôfrega, de quem esteve muito tempo privado de algo e, de repente, abrem-se as portas para o que antes era interdito.

      Não guardo muitas memórias do filme propriamente dito, nem tão pouco das cenas fatídicas, e confesso que não foi um filme que me tivesse impressionado por si mesmo. As cenas de sexo impressionaram-me, confesso, mas não o filme em si. Nunca mais o vi até hoje, nem creio que tenha a curiosidade suficiente para o ir ver de novo.

      Sei que o filme, à época, afetou de forma muito profunda a atriz, levando-a a situações complicadas de dependência de drogas, e a bradar aos sete ventos que nada daquilo estava no guião (Bertolucci dizia que sim, que estava, e que só não estaria o facto de Brando decidir utilizar a manteiga, o que tinha sido combinado entre Brando e o realizador, à última hora), e parece ter sido vítima de perseguição e chacota durante bastante tempo.
      Um escândalo para a época, hoje, é mais uma obra que marcou a história do cinema, abriu portas para se contemplarem outras formas de representação e redefiniu regras de conduta posterior.

      Achei curioso o facto de Bertolucci ter explicado posteriormente que aquele filme tinha sido influenciado por duas obras da pintura de Francis Bacon, que tinham estado patentes numa mostra do pintor no Grand Palais em 1971. Parece que Bertolucci era um admirador do artista.
      Eu, que também gosto imenso de Bacon, aceito que talvez se possa estabelecer alguns paralelos entre as obras de pintura e o filme, sobretudo na expressividade e no grotesco e na violência latente das representações.
      Uma boa semana
      Manel

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    3. Olá, Manel.

      Perdoe pela demora em aceitar o comentário, mas ando adoentado e as aulas começaram.

      No 'post' sobre o Último Tango eu faço menção a isso. O filme só estreou em Agosto de 1974.

      Maria Schneider ficou para sempre marcada. A sua carreira, que estava a começar, ficou terminantemente associada àquele filme. Ela não soube dos contornos da cena. Parece que estava tudo combinado apenas entre Bertolucci e Brando. O primeiro arrepender-se-ia, após a morte de Schneider, por não lhe ter falado na manteiga e naqueles pormenores todos. Para uma miúda de 19 anos, em 1972, o filme teve um impacto dramático.

      Não conheço esses filmes que mencionou, da mesma época.

      No início do filme, surgem essas telas de Bacon.

      Uma boa semana.

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  2. Que homem lindooooooooooooooooooooo

    estou velho,

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  3. Este clássico marcou minha vida quando jovem. Sem saudosismo, mas naquele tempo o cinema era pura magia. Atores, diretores, trilhas como não mais se vê hoje. Enfim, nota dez por resgatar esta lembrança para mim.

    Beijão Mark

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