27 de dezembro de 2019

Professor Augusto Silva Dias (1954-2019).


   Uns dias antes do Natal, mais concretamente no dia 19, soube da morte de um ex-professor, o Prof. Augusto Silva Dias, um dos maiores penalistas deste país, insigne professor e jurista. Foi o meu docente da disciplina de Direito Penal III, no ano lectivo de 2014/15.

   Na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, encontram-se muitos alunos com más opiniões sobre os professores. A exigência muitas vezes é confundida com a má vontade, e às tantas gera-se a ideia de que os professores daquela casa são implacáveis. Haverá de tudo. Uma vez que são tão bons, que tanto deram de si, querem o retorno. É natural que nem sempre as notas reflictam o estudo feito, mas é aí que distinguimos entre o mau, o razoável e o bom. E o bom há-de sê-lo sempre na sua área. O que se passa é que temos gente que se julga boa, ou que quer ser boa, numa área que, por vocação, não é a sua. Aplica-se-me também.

   O Prof. Silva Dias, sendo regente, não lidava de perto com os alunos. Os professores assistentes têm outra proximidade, mediante que são eles os responsáveis pelas aulas práticas, aquelas que se ministram em salas pequenas. A Direito Penal III, tratando-se de uma disciplina optativa, não éramos muitos. O Senhor Professor conseguia, ao menos visualmente, ter uma ideia do rosto de cada um de nós, ou pelo menos daqueles que se sentavam nas filas da frente. Era o meu caso. Não raras vezes eu e o Professor trocávamos olhares de anuência. Recordo-me ainda de, anos depois, quando nos cruzávamos pelos corredores, me cumprimentar. Não me havia esquecido.

   Esta partida lembrou-me da do Prof. Eduardo dos Santos Júnior, em 2016, meu professor anos antes (entre 2013/2014), de que só vim a tomar conhecimento em 2018 por ter estado uns anos afastado da faculdade. Também aí fiquei abalado. Gostava deste Professor. Da mesma forma que houve contacto visual com o Prof. Silva Dias, houve-o com o Prof. Santos Júnior. Houve mais: uma oral de passagem a Direito das Obrigações II, e o Senhor Professor foi extraordinariamente compreensivo comigo, o que até destoa do procedimento da maioria dos professores da FDUL nas orais. É o que se consta. Eu não tenho essa experiência.

    Num e noutro caso, não os sabia doentes. Ambos faleceram precocemente. O Prof. Silva Dias, com 65 anos; o Prof. Santos Júnior, com 59. Provavelmente ainda com tanto para dar à academia e à ciência do direito.

   Há coincidências curiosas. O Prof. Silva Dias morreu no início de Outubro. Vim a saber da sua morte mais de dois meses depois. Nesse meio-tempo, a FDUL inaugurou uma exposição evocativa da bibliografia do Senhor Professor e do seu contributo intelectual para o Direito Penal, a sua área, exposição essa que esteve patente do dia 20 de Novembro ao dia 20 de Dezembro, ou seja, um dia depois de ter tido conhecimento do seu falecimento. Ignorei a passagem da depressão Elsa e, munido de coragem, pus-me a caminho para visitar a exposição, no piso inferior da biblioteca. Deixo-lhes aqui o link das fotografias do evento (registo fotográfico). 
    
   Ao Senhor Professor, deixo o meu até sempre, lamentando não o poder encontrar mais por lá, quer enquanto aluno seu, quer enquanto aluno da instituição.

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