15 de janeiro de 2019

Cultural Sunday (take 24).


   Dia de sol radioso. Embora tenhamos sido alvo de tantas ameaças, o dia não foi tão frio assim como vaticinavam. De todo o modo, nada me afastaria do meu plano inicial. E qual era? Pilar 7, pela manhã, e Castelo de São Jorge, à tarde, seguido da Sé de Lisboa, tendo tempo.

   O Pilar 7, como é designado, fica na Avenida da Índia, e está bem sinalizado. É um dos pilares da Ponte 25 de Abril. Não sendo gratuito, justifica bem o que pedem. Além de miradouro em si, de 2017, terão ainda uma pequena exposição, com maquete, sobre a história da ponte, e uma vasta informação - dados sobre a sua construção - que está literalmente escrita no betão, seja pelo chão ou pelas paredes. Por mais uns euros, terão acesso a um espaço de realidade virtual, onde podemos observar a ponte com óculos tridimensionais.



    A vista é assombrosa, mas desaconselhada aos que sofrem de vertigens. Eu, que não posso dizer que amo alturas, mas que também não sofro propriamente de vertigens, vi-me com algumas dificuldades. Depois da dita exposição permanente sobre a ponte, somos convidados a entrar numa pequena sala onde projectam um vídeo nas paredes de betão, em homenagem aos trabalhadores da ponte. De seguida, subimos num pequeno elevador, numa ampla divisão escurecida e já a ouvir o som do tráfego. Aí, há dois pequenos miradouros, chamemos-lhes assim, onde podemos observar os cabos metálicos da imponente construção de 1966.
   Todavia, é o elevador final, todo em vidro, que nos atrai até lá e que nos perturba o sentido da visão. Já lá em cima, a 80 metros de altitude, ao nível do tabuleiro da ponte, podemos, num pequeno miradouro todo em vidro, incluindo na base, desfrutar de uma vista única sobre a zona ocidental da cidade e o Tejo.



   Aviso já que os primeiros 5 minutos são complicados, até que nos acostumemos àquelas alturas. Depois, custa vir embora.


   A próxima visita também foi bastante bem planeada. Já não ia ao Castelo de São Jorge há uns anos. Há muitos anos, a ponto de não me recordar de praticamente nada. Estive, por lá, salvo erro em 2017, mas apenas no átrio de entrada, para uma noite de fados.

Uma das torres

   É encantador, e tem tanto para ver. Importa dizer, em início de conversa, que o castelo primitivo já não existe. Existirá, quando muito, as pedras da base, que o restante foi sendo construído e destruído ao longo dos séculos. Há, em toda aquela cidadela medieval, ainda um núcleo arqueológico do tempo dos árabes. Tudo o que conhecemos lhe é posterior. Com a conquista de Lisboa por Afonso Henriques, em 1147, o castelo passou a ser o local que acolhia a corte. Tornou-se um espaço de cortesãos, com o rei, os clérigos, e inclusive o arquivo real, que durante muito tempo esteve ali instalado. A construção do palácio, do qual hoje também só há ruínas, muito se deveu aos antigos espaços habitacionais islâmicos, daí que tenha resistido tão pouco até aos nossos dias. A pedra das casas islâmicas foi usada no palácio. No século XVI, com a construção do Paço da Ribeira, no Terreiro do Paço, pertinho da Casa da Índia, o vetusto castelo perdeu o posto de paço real, assumindo uma função puramente militar, que manteria até ao século XIX.



   Lisboa foi fustigada por três grandes terramotos, embora a memória colectiva só se lembre com frequência do último, de enormíssima magnitude, o de 1755. Houve outros dois, um no século XIV e outro no século XVI, que ajudaram, e em muito, à destruição quase integral do castelo. O que vemos actualmente nem cem anos tem. Data de uma reabilitação de finais dos anos 30, inícios de 40, com o Professor Salazar, no seu espírito nacionalista e patriótico. A descoberta do núcleo arqueológico, nos finais do século passado, ajudou a devolver aquele espaço ao usufruto dos cidadãos. Hoje, está aberto a todos, com um preço simbólico para o que se vê, e acreditem: terão muito para ver. Além do castelo propriamente dito, com as muralhas, as torres (onde poderão subir), têm o núcleo arqueológico, uma sala interactiva (giríssima!), um museu e, claro, uma vista belíssima sobre Lisboa.

O núcleo arqueológico

   Ah, já me esquecia: há visitas guiadas ao castelo, incluídas no preço do bilhete, às 13h e às 16h. O núcleo arqueológico pode ser visto de perto numa visita guiada. A sala interactiva também é guiada. Todas as visitas a que fui, três, foram em inglês. Dependendo dos horários, disponibilizam-nas em português e em castelhano.


   Cinco horas, das 13h às 18h, à hora em que o castelo fecha as suas portas. Posso, garantidamente, afirmar que calcorreei tudo, como gosto. Não ficou nada por ver, e com a devida calma.

Sem palavras

   À saída, preferi descer pelo meu pé, pois ainda queria entrar na Sé de Lisboa. Encantadora, claro, embora também ela nos seja contemporânea, que foi sendo reconstruída. A última reabilitação deu-se já no século passado.




   Um dia cheio, que começou às 9h da manhã, quando saí de casa, e que terminou já passava das 21h, quando cheguei. Sinto-me tão bem com estas visitas, mas tão bem, que nem dou pelo cansaço. Ele não existe sequer.

   Neste fim-de-semana, já sei onde irei, claro está. Até lá então!

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

5 comentários:

  1. O seu passeio foi ilustre! A visita a estes monumentos foi repetido por mim vezes sem conta, quer em solitário, quer acompanhado, e continua a sê-lo, porque ímpar e, muito importante, faz-me sonhar.
    É parte da nossa "sala de entrada" lisboeta.
    Quanto ao Castelo, é um simulacro do que foi, em termos arquiteturais, mas a sua posição e vistas são fantásticas.
    Faz-nos sonhar com o S. Jorge montado num alazão a combater dragões, qual príncipe encantado de uma história de encantar (esta estátua está numa das entradas do castelo), e em princesas debruçadas sobre balcões de pedra, com os longos cabelos armados em tranças, qual Rapunzel, à espera que o príncipe as salve do tirano.
    Mas de verdadeiro aquele castelo tem só o espaço em que está implantado, e mesmo este é constituído por construções sobre construções, dos muitos períodos por que Lisboa passou, e nós temos uma história muiiiiito longa, tão longa que se perde na lenda de Ulisses.
    Quanto à Sé, bem, este é outro edifício descaracterizado do original, mas como poderia ser diferente, após tantos cataclismos?
    As torres fronteiras, segundo desenhos anteriores ao terramoto do séc. XVIII, parece terem sido coroadas por volumes piramidais. O cruzeiro teria uma cúpula de maior altura, que desabou neste no último terramoto, e foi substituída por uma cobertura mais baixa, uma torre-lanterna assente em trompas de ângulo, não fora outro terramoto fazê-la desabar.
    A cabeceira não poderia estar mais afastada do original, que parece ter sido constituída por três espaços semicirculares, um, a capela-mor e dois absidíolos laterais. Ainda restam indícios destas construções nas paredes.
    No terramoto do século XIV estes elementos arquitetónicos foram seriamente danificadas e substituídos por uma cabeceira com deambulatório, de capelas radiantes, como tinha sido feito em Alcobaça cerca de dois séculos antes.
    E este espaço é lindíssimo, ganhou mais luz, espaço e, do ponto de vista religioso, maior número de capelas, dedicadas a um número mais diversificado de entidades, onde a população poderia deixar um maior número de esmolas, segundo as suas crenças ou ligações espirituais. Tal como nas igrejas de peregrinação medievais, esta passou igualmente a ter a mesma função, dada a existências das relíquias de São Vicente na capela do mesmo nome. A religião estava/está sempre de olho posto no dinheirinho que cai em manancial nestes espaços, claro!!!! Basta que repare em Fátima!
    Parece que, inicialmente, não me parece que exista uma certeza absoluta, haveria uma comunicação feita por aberturas entre a capela-mor e o deambulatório, à semelhança do que acontece em Alcobaça, o que daria uma verdadeira iluminação, quase transcendente, por não ser direta, ao seu interior a partir do clerestório deste deambulatório. Seria um ambiente lindíssimo este, começo eu a imaginar. O interior de Alcobaça é algo de ideal para mim, baseado na abadia de Claraval, casa-mãe de S. Bernardo, que estabeleceu os princípios por que se regiam os Monges Brancos de Cister. E, se estou de acordo com os pensadores religiosos, este é um deles - estou de acordo com muitos outros, mas com este especialmente.
    No entanto, com o terramoto do XVIII, esta comunicação, se existiu, desapareceu, e a capela-mor passou a ostentar um revestimento barroco e a ser iluminado diretamente por janelas altas. A luz terá ficado mais "crua", julgo.
    Foi Raúl Lino, entre outros, que impediu que este revestimento barroco fosse demolido aquando das intervenções levadas a cabo por Fuschini e Couto Abreu, no séc. XX, e ainda bem, digo eu, pois a história de um edifício deve apontar para todas as suas reestruturações ao longo do tempo, faz parte da vida intrínseca das obras.

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  2. Durante muito tempo admirei profundamente um presépio, esculpido por Machado de Castro, que se apresentava na Capela de Bartolomeu Joanes. Não sei se ele ainda lá está, se entretanto não o terão mudado de sítio, espero que não, pois era profundamente intimista e encantador na sua posição naquele espaço, pequeno e mais acolhedor. Eles passam a vida a mudar tudo de sítio, e nem sempre de forma assisada ou adequada!
    Os dois órgãos de cada lado da capela-mor são fantásticos, apesar do que está no lado do Evangelho já não funcionar há muito tempo. O do lado da Epístola, que era semelhante ao do Evangelho, foi retirado do seu lugar, restaurado na Holanda, creio eu, a expensas da Fundação Gulbenkian, e trasladado para o Panteão Nacional. O que lá se encontra em sua substituição, igualmente custeado pela Fundação Gulbenkian, é um aparelho moderno, dos anos 60, feito na Holanda (já foi restaurado neste novo século), e tem um dos sons mais bonitos que me foi dado escutar (e conheço a sonoridade de muitos órgãos europeus históricos, e mesmo do Brasil). Parece que respira, quando toca – e, na verdade, respira mesmo, pois possui foles.
    Não perca um concerto neste órgão e tente ficar sentado nas cadeiras que se situam frente a ele. Não perderá o seu tempo e ficará enfeitiçado, ou, pelo menos eu fico. Já tive ocasião de ouvir a Toccata e Fuga BWV 565 de Bach neste órgão e fiquei sem palavras … totalmente siderado e fora do mundo.
    O que escrevi creio ser do conhecimento geral, nada de especial, mas tive prazer em partilhar consigo aquilo que mexe comigo nestes locais por onde passou.
    Continue com as suas andanças, que não são as do Demónio, como as de Jorge de Sena, mas que vão muito bem.
    Uma boa semana - mais uma vez tive de partir o comentário em dois … não cabia!!!!!!, eles não me deixam escrever o que me vai no pensamento!!! :(
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      É verdade. E, muito embora carregue por nome São Jorge, o padroeiro de Lisboa é outro, São Vicente, e também não Santo António, como muitos pensam. De resto, o castelo é um encanto. Um óptimo passeio de domingo. Tem tanto para ver. Gostei bastante do museu também.

      O Manel falou em Fátima, Alcobaça… Dariam excelentes fins de semana culturais também, mas infelizmente não sou rico, pelo que não me posso afastar muito. A seu tempo, um dia, quem sabe. :)

      Esse presépio esculpido por Machado de Castro… Eu vi-o, no ano passado, mas já não me recordo onde. Sei que o vi. Tenho uma vaga lembrança.

      Manel, obrigado pelas sugestões - os concertos no órgão.

      Quero pedir-lhe para que não se desculpe sempre. Eu adoro lê-lo. Muito mesmo. Já lho disse. Dá-me um prazer enorme que o faça, que enriqueça este meu simples espaço com os seus deliciosos contributos. Sabe disso! Divida os comentários em dois, três, nas partes que quiser. Eu gosto. Deles e de si. :)

      Continuação de boa semana.

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  3. Um domingo espectacular :)

    Abraço amigo

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