Em Agosto de 2017, abordei a situação da Venezuela aqui no blogue, que já na altura era dramática. Nestes últimos dois anos, nada acalmou. Pelo contrário. Maduro insiste em levar o país para o limite de uma intervenção externa, porque na bancarrota já está. Milhares de venezuelanos arriscam as suas vidas para alcançar a fronteira com o Brasil, escapando à fome crónica, à escassez de medicamentos, de serviços básicos de saúde. A Venezuela, hoje, é o espelho do fracasso do socialismo. É a prova viva de que os regimes de esquerda não trazem quaisquer benefícios para o povo. Visam, tão-só, enriquecer uma classe política corrupta e sedenta por poder, que se perpetua e que coloca os seus nos sectores-chaves da economia, da indústria, como um polvo cujos tentáculos se fazem sentir em todo o lugar.
Há um princípio básico, no direito internacional, de não-ingerência nos assuntos internos de outro país. No caso do país da América do Sul, já ultrapassámos esse limite, a partir do momento em que não há um poder reconhecido internacionalmente. A comunidade internacional divide-se entre Guaidó e Maduro, o último que só consegue vislumbrar reconhecimento entre regimes iguais, ditatoriais e desrespeitadores da dignidade humana. O mundo civilizado reconhece Guaidó por ora, sabendo de antemão que a solução para a Venezuela, no imediato, passa pela convocação de eleições livres e democráticas, para que o povo venezuelano, legítimo detentor da soberania, se possa expressar nas urnas e decidir o seu futuro. O futuro dos venezuelanos não pode ser sequestrado por Maduro, o último dos tiranos na América Latina. Maduro não encontra problemas éticos, morais, em mandar abater cidadãos inocentes. Os confrontos dos últimos dias na fronteira com o Brasil atestam a sua falta de escrúpulos, a sua desumanidade.
Há casos de militares que conseguiram cruzar a fronteira e desertar. Entendem, e com motivos, que a solução para a Venezuela não é militar, e sim política. Maduro continua a procurar instrumentalizar as forças armadas para que o apoiem, sabendo que deixou de ter reconhecimento. A sua situação é profundamente ambígua. O que temo é que haja, efectivamente, uma intervenção externa em território venezuelano, conduzindo a milhares de mortes civis. Ele não desistirá tão facilmente. Acredito que prefira ser quase um mártir a renunciar livremente e permitir que a Venezuela possa enterrar este passado recente de miséria e sofrimento.
No caso de Portugal, e tendo em consideração a comunidade enormíssima de emigrantes na Venezuela, temos de adoptar uma postura contida. Guaidó tem-se desdobrado em agradecimentos ao governo português. Guaidó não é um impostor, não é um usurpador. Como presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, encabeça um dos órgãos de soberania daquele país. Não reconhecendo, como nenhum organismo internacional fidedigno reconhece, a legitimidade de Maduro, que se fez eleger num processo eleitoral pouco claro e com vícios, Guaidó, para que o poder não caísse nas ruas, encontrou, na sua autoproclamação, uma decisão temporária, até que se realizem eleições livres e representativas. É isto que se espera. Guiadó é presidente interino. É uma solução que até em Portugal encontra consagração constitucional. O Presidente da Assembleia da República pode, interinamente, ocupar o cargo presidencial, até à realização de novas eleições.
O mais lamentável é que não se deixe a ajuda humanitária chegar àquelas população. Não quero imaginar o que será não poder dispor do mais básico para se acudir a uma emergência médica, ou pior: não ter que comer. Temo que qualquer provocação, do lado brasileiro, possa ser entendida como uma declaração de guerra. Morrendo um civil brasileiro às mãos de um militar venezuelano, Bolsonaro não hesitará. Esperam-se dias mui conturbados naquela região do globo.
Muito boa e bem articulada análise dos fatos que vivenciamos por aqui na
ResponderEliminarAmérica do Sul. Lamentável em todos os aspectos.Torcendo por um desfecho rápido e pacífico para este embrolho. #foraMaduro
Muito obrigado, amigo.
EliminarSim, torcendo para que o facínora saia.
Eu que NÃO vou para guerra se Bolsonaro resolver colocar o Brasil em uma!Ele que vá e leve seus filhos, depois militares que apoiaram, depois eleitores que apoiaram, e que vá para guerra até portugueses que o apoiaram! Sou brasileiro mas sei que sou terráqueo antes de ser brasileiro, então a Terra é meu lar. Ainda bem que não sou nacionalista como certas pessoas e a retórica de Trump e Bolsonaro. Guerra é uma ficção inventada por humanos, assim como o dinheiro e as fronteiras. Boa sorte para quem for pra guerra, eu NÃO vou!
ResponderEliminarBom, estará no seu direito. Resista. Pelo que sei, o Brasil tem tanto pessoal para participar numa guerra que até dá muitos rapazes como inaptos quando chamados ao cumprimento do serviço militar. Creio que não o chamarão. :)
EliminarIsto é o puro Socialismo/Comunismo no século XXI e mesmo assim, há muita gente que não se toca e prefere falar de Balsonaro lololololol
ResponderEliminarTão mau Bolsonaro, mas que os venezuelanos querem ir todos para lá, mesmo correndo risco de vida
Abraço amigo
Disseste uma grande verdade. O Brasil teve o seu melhor primeiro mês de uma presidência.
EliminarUm abraço, amigo. Espero que o primeiro dia de praia tenha sido bom.
"O Brasil teve o seu melhor primeiro mês de uma presidência." Filho do presidente envolvido com milícia, filho do presidente envolvido com "rachadinha", partido do presidente envolvido com laranjas, Brasil perigando se envolver em uma guerra. Ótimo primeiro mês, porque vocês dois não saem de Portugal governado por um partido/governo socialista e vem para o Brasil ou EUA governado pela direita? Podem até participar da guerra aqui já que gostam tanto do Bolsonaro!
Eliminarhttps://www.diarioconservador.org/2019/02/01/bolsonaro-tem-o-melhor-1o-mes-de-governo-na-historia-do-brasil/
EliminarContra factos não há argumentos.
"diarioconservador" que fonte confiável!
EliminarComo já lhe disse aqui no seu blog, qualquer movimento de totalitarismo ou ditadura, ainda que camuflada ou menos severa, terão sempre o meu voto contra.
ResponderEliminarE, de acordo com o que conhecemos da comunicação social, a situação está a deteriorar-se de momento a momento, se é que ainda é possível isso acontecer, pois a vida tornou-se uma corrida contra relógio naquele país.
Creio que Maduro tem uma situação insustentável, e mais tarde ou mais cedo deverá abdicar da sua posição, ou pelo menos assim o espero.
Claro que o facto de Trump estar contra Maduro, é algo que me atemoriza. Mas depois penso que ele estará, logicamente, a resguardar os interesses americanos naquele país! Não se pode permitir que um país cheio de riquezas naturais possa viver independente! É necessário tê-lo sempre numa qualquer dependência, para que se possa controlar!
Preferia que estivesse contra Guaidó, estaria mais de acordo com a mente mentecapta desse senhor. Também não é igualmente seguro, nem claro, que esteja exatamente a favor de Guaidó. Ele deve preferir um regime protecionista, qual títere que possa manipular a seu bel-prazer!
Como é que um país tão rico e cheio de recursos como este foi cair num lodaçal tão profundo?
Fico sempre a perguntar-me como é isto possível.
Será que a população venezuelana, a par de outras sul americanas, não consegue distinguir o trigo do joio? Será que não mecanismos de controlo?Não me parece! Não nesta idade global em que o conhecimento flui de forte bastante mais livre que no passado.
No entanto, quando me lembro que, ainda não há tanto tempo atrás, tivemos aqui na Europa um Salazar ou um Franco, e que Hitler ou Mussolini ainda estão frescos o suficiente nas tumbas, fico a pensar que isto é mais possível do que aquilo que julgamos, desgraçadamente.
Basta que a conjuntura das situações económica social e política propicie este tipo de desenvolvimento e ... eis que aí nos batem à porta.
A História é importante para nos alertar para estes perigos, e os organismos fiscalizadores importantes para controlo de regimes políticos, mas, ainda assim, não creio que estejamos seguros.
Continuação de boa semana
Manel
Foi o socialismo que levou a Venezuela aos caos em que se encontra. As nacionalizações levaram às grandes inflações. Quando o Estado se imiscui demasiado na economia é o que acontece. Jamais será o Estado a criar riqueza. São os agentes económicos que a criam. Eis o que a muitos custa a entender. E nenhum agente económico gosta de se fixar num Estado extremamente pesado, burocrático e de carga fiscal elevada.
EliminarUma boa semana, Manel.