20 de abril de 2019

Dina (1956 - 2019).


   Assim como assim, eu não era fã da Dina. Sabia-a doente, porque havia lido sobre isso, algures, e até sabia que era algo pulmonar. Desconhecia os contornos. Dina sofreu de fibrose pulmonar - uma doença que me era completamente desconhecida - durante treze anos, quando a maioria dura três. Já não fazia nada sem a botija de oxigénio. No ano passado, deu a sua última entrevista, não se deixando fotografar para que o público se lembrasse de si saudável e ainda bem. É de mulher, de grande mulher.

   A Dina sofreu daquele mal que aflige muitos artistas em Portugal: a injustiça. Quando se é mulher, lésbica e se participa no Festival da Canção, é meio caminho andado para se cair na maledicência do povo e no boicote das rádios. É que, em Portugal, facilmente se catalogam as pessoas. Não conheço os números porque há muito tempo que não se ouve nada sobre o assunto, mas recordo-me de que praticamente não se passava música portuguesa nas rádios nacionais. Só estrangeira. Às vezes, quando queriam colmatar um espaçozinho minúsculo em língua portuguesa, recorriam à música brasileira ou aos GNR, Xutos, Rádio Macau e por aí. Sempre os mesmos. Os clássicos. Espero que tenha mudado. Depois, temos inúmeros preconceitos com a nossa música. Arranjamos um monte de catálogos, que vão desde a erudita, à menos comercial, à música pimba, ultimamente rebaptizada como ligeira. Eu também não a consumo, mas não veria com maus olhos se separássemos alguma e a colocássemos nas rádios. A Dina, enquanto letrista, tinha canções engraçadas, melódicas, que ficavam bem na sua voz e que me parecem bastante apropriadas para a rádio. E, indiscutivelmente, Dina era mais do que o Amor d'Água Fresca, que a popularizou e eternizou entre os portugueses. A minha preferida, do seu repertório, é uma canção menos conhecida, de seu nome Acordei o Vento.

   Evidentemente, foram as participações no Festival da Canção e na Eurovisão, em 1992, que marcaram uma geração. A minha, inclusive. Eu guardarei na memória a imagem da mulher roliça, de brinco na orelha e viola entre braços, a enfiar uma catrefada de frutos num cesto bastante colorido e melódico, canção de refrão pegajoso, que entra do ouvido e de lá não mais sai. E é esse momento que deixo aqui.


6 comentários:

  1. Não a conhecia mas extasiei-me com a pequena mostra de seu talento ...

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  2. Também não era pessoa cuja voz me entusiasmasse, pese o facto de a ouvir cantar no Memorial, há muitos, mas mesmo muitos anos atrás, e o facto de a ouvir ao vivo, tornava a experiência mais aceitável.
    Como costumava acompanhar um amigo (já desaparecido também) que tinha viva paixão pela voz dela (e, creio, também pelo que ela representava), e que, de certa forma, a seguia na sua carreira, acabava por ouvi-la mais amiúde.
    No entanto, era um ícone para muitas pessoas, e valia o valia, por isso mesmo.
    Lastimo o seu desaparecimento ... mais um elemento do meu tempo que deixou de existir, como é natural que aconteça.
    Uma boa semana, que é mais curta :)
    Manel

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    1. Não tinha aquela voz deslumbrante, de facto. É como diz: mais uma da velha guarda que se vai.

      p.s.: Ainda lhe devo um e-mail de resposta. Desculpe.

      Uma boa semana!

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  3. Também só gostei de uma ou outra canção :) o mundo gay no feminino é que a adorava ehehehehehhehehe

    abraço

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