13 de dezembro de 2019

Compras de Natal e "One From the Heart" (1982).


   Ontem, fui às compras de Natal. Comprar uns pequenos mimos para mim e para as pessoas que me são mais próximas. Como creio que lhes tenha dito, não tenho por hábito oferecer (a não ser à minha mãe), como não é costume na minha família trocar-se presentes. Os meus pais nunca me compraram nada sem que eu não os acompanhasse. Pelo Natal, levavam-me às lojas e eu comprava o que queria. Não tem tanta graça, é verdade, e é uma deturpação da essência de se comprar algo para oferecer: o factor surpresa e a demonstração de gentileza / carinho de quem oferece. Acontece que assim evitavam uma frustração caso não gostasse, e é difícil apurar-se ao certo aquilo que uma criança quer. Já havia muita tecnologia nos anos 90.

  Compras feitas por aí, num dos centros comerciais da cidade, decidi ir almoçar à Avenida da Liberdade enquanto esperava pela sessão das 15h na Cinemateca. Mais um clássico, desta feita um de 1982, de Francis Ford Coppola, One From the Heart. E o que se me apraz dizer sobre este musical do início dos anos 80? Desde logo, creio que agora sei onde Damien Chazelle foi buscar inspiração para o La La Land. Notei tantas semelhanças, sobretudo nos números musicais. Tal como este último, One From the Heart pode deixar um gosto amargo em quem vai à espera de algo verdadeiramente arrebatador; não o é. É uma reinvenção do género musical, com uma falha aqui, uma imprecisão ali. Na busca pelo sonho, notei um certo descuido até nos cenários, mesmo considerando o ano em que o filme foi rodado. Este filme não honra as produções hollywoodescas, inclusive nos gastos exorbitantes que as rodeiam sempre.




   Inteiramente passado na noctívaga Las Vegas, os sentimentos e as angústias daquelas personagens perdem-se  no meio de tanta luz, tanta festa e tanto brilho. A cidade é como que um parque de diversões enorme, onde não há lugar para os infelizes. Aquele optimismo e a animação chegam a ser sufocantes.

   Coppola e o director de fotografia procuraram criar duplos planos no plano, num jogo de sombras e espelhos que nos cria a ilusão de coexistirem espaços diferentes dentro do mesmo plano. Tal é observável em algumas cenas. Um virtuosismo ambicioso naquela época, pretendendo-se fazer escola com isso. Acontece que a receptividade não foi condizente com a ambição de Coppola, que quis resgatar o musical e manter o trilho de produções bem-sucedidas dos anos 70 que o tornariam num dos maiores nomes da indústria da sétima arte norte-americana.

    Particularmente, gostei do filme pelo tanto que me fez imergir numa realidade diferente da minha. Julgamos estar num sonho, um sonho apaixonante. Não foi uma má experiência, não foi. Dificilmente tenho más experiências com os anos 80.

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