20 de julho de 2019

That's one small step for man, one giant leap for mankind.


   Há exactos 50 anos, Neil Armstrong protagonizava a chegada da humanidade à Lua com uma frase que jamais esqueceremos, os que assistiam pela televisão e os que a conheceram a posteriori, ou muito a posteriori, como eu, que estava a largos anos de vir a nascer. Os EUA pisavam no único satélite natural do planeta, levando a dianteira sobre os seus rivais, os soviéticos, que em 1961 haviam posto o homem no espaço. Terá sido uma vitória para os americanos, ainda que eu a veja como uma vitória colectiva. Demos um passo decisivo. Armstrong teve consciência da importância de ter sido o primeiro, ele que tinha tido um percurso pessoal e profissional relativamente discreto e apagado.

   Por cá, vivíamos nos anos da primavera marcelista. Salazar agoniava a olhos vistos. As imagens chegavam-nos a preto e branco, durante toda a madrugada, através do sinal da RTP, claro está. É provável que alguns se tenham lembrado do que fizemos séculos antes, no século XV, quando, com menos conhecimentos do que aqueles de que os americanos dispunham, nos lançámos num mar de incertezas. A nossa façanha, não querendo com isto tirar os louros aos americanos, foi porventura mais surpreendente. Tecnologia, se é que lhe podemos chamar assim, tínhamos pouca. Muita, herdada dos sarracenos. Os meios, também eram escassos. Os homens, enfezados e malnutridos, sobretudo quando comparados aos neerlandeses e outros. Ora, diga-se lá se não fomos mais corajosos? Encarar o oceano, sem a certeza de encontrar terra firme, assemelha-se-me mais heróico do que ir à Lua, afinal, a Lua estava lá. Já sabiam que a encontrariam, na melhor das hipóteses. Os nossos homens, na melhor ou na pior das hipóteses, não sabiam nada. Sabiam, quando muito, que tinham Deus consigo. Levavam a fé e a esperança de regressar. 



    Não deixa de ser curioso que conheçamos mais dos planetas e asteróide que compõem o sistema solar do que do fundo dos nossos oceanos, das suas fossas abissais. Embora já tenha havido explorações, mantêm-se amplamente desconhecidas. Demos primazia ao espaço em detrimento dos oceanos. Acredito que tal se deva à conquista do ar. A aviação e a exploração espacial, pela inovação, desviaram-nos a atenção. A guerra tecnológica com os soviéticos ajudou a incrementar uma vantagem que já vinha de trás.

   Uma das décadas mais apoteóticas e conturbadas do século XX terminava com um feito extraordinário. Após Armstrong e Aldrin, vários outros astronautas tiveram a honra de pisar o solo lunar, até 1972, data da última missão ao satélite, pela Apolo 17. De lá para cá, a Lua passou para segundo plano. Fala-se em enviar o homem a Marte na década de 2030. Se assim for, e se lá chegar, certamente serei um dos que ficarão agarrados ao ecrã noite fora, como os nossos pais e avós, na emocionante madrugada de 20 de Julho de 1969.

4 comentários:

  1. Vamos ver o que acontece e se chegamos a 2030 ehehehehehhe

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  2. Vou comentando esporadicamente, pois raro estou em Lisboa. Vou viajando de um lado para o outro, por isso irei ser mais errático durante este período.
    Mas este facto que aqui traz foi, na altura, muito interessante para a sociedade que me rodeava, numa localidade situada a centenas de quilómetros a norte de Lourenço Marques (hoje denomina-se de Chókué), perdido nas planuras de Moçambique, terra de Samora Machel, e que, à época, começava a despontar como um aglomerado com relativa importância.
    Segundo as estatísticas, à altura, o concelho tinha cerca de 4000 habitantes brancos e mais de 70000 negros. A localidade, propriamente dita, era muito mais pequena, claro.

    Eu era um adolescente, mas recordo da excitação das pessoas todas, não se falava doutra coisa, e creio que tudo nos chegavam em diferido, através de radiodifusão, pois não havia rede de televisão em Moçambique.
    os factos estão um pouco nebulosos na minha cabeça, mas eram férias escolares (doutra forma estaria encerrado no colégio), recordo andar no carro com os meus pais e estarmos a ouvir algo sobre a alunagem e, posteriormente, a saída de Armstrong para o exterior do módulo.
    Parece-me que era madrugada, pois recordo que estava cheio de sono e, de vez em quando, acordavam-me quando a situação se tornava mais excitante.

    Nessa época, Salazar estava com problemas graves de saúde, o meu pai temia a primavera marcelista, e com tudo de errado que ele considerava que isso poderia trazer para as então colónias ultramarinas.
    Salazar tinha tido o acidente em 68, e no colégio religioso em que me encontrava, os boletins médicos sobre o estado do senhor eram-nos comunicados por volta da hora de almoço, assim, no pátio/claustro do convento, nós, os alunos, éramos reunidos, informados sobre o estado de saúde, e, colocados de joelhos, fazíamos orações a pedir pela saúde do então, ainda 1º ministro.
    Situação que, na altura, eu levava muito a sério, pois a política era algo de que nada sabia, nem fazia a mínima ideia sobre o regime sob o qual vivia. Só conhecia o que os meus pais falavam em casa (que eram totalmente pró-regime), e na escola, nada nos era comunicado ou discutidos quer entre os alunos quer professores.
    Eu, e tantos como eu, éramos mantidos na completa ignorância, e, de certa forma, isso não era mau, ajudava à nossa tranquilidade.

    Ainda sobre a alunagem, a minha avó sempre jurou a pés juntos que as imagens que nos chegavam do espaço não passavam de cenário hollywoodesco, e que nada daquilo era verdade. Acreditou na teoria do embuste à escala planetária até à morte.
    Um bom período de férias
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      Também eu estou errático no blogue. Peço-lhe desculpas pela demora em aceitar o comentário e em responder-lhe.

      Sim, em Moçambique, por esses anos, não havia televisão. Apenas rádio. O meu pai já não estava em Moçambique, em 1969, mas contou-me que apenas tinham a rádio. Em 1969, já ele era um jovem de 20 anos, politizado.

      Acredito que muitos vivessem a evolução do estado clínico de Salazar na expectativa (e esperança…) de ocorrer a sua morte, pelo fim que acarretaria ao regime, enquanto que outros se desdobravam em orações e penitências. O quadro de um regime que morria com o seu fundador. Pouco lhe sobreviveu.

      Ainda hoje há quem negue a chegada do homem à lua. Eu não acredito nas teorias da conspiração. O Manel quer crer que há brasileiros que defendem que o planeta não é redondo, mas plano? Eu soube dessas teorias há semanas e fiquei perplexo. A mente humana é muito imaginativa. Se os americanos não tivessem chegado à lua, os russos (soviéticos) seriam os primeiros a repor a verdade.

      Cumprimentos, e continuação de boas férias. Vá dizendo coisas.

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