8 de janeiro de 2019

Cultural Sunday (take 23).


   Não, o título não é uma miragem. Voltei aos meus fins de semana culturais, e em grande, com um dia que começou às 8h da manhã e terminou às 20h. Como repararão, o título da publicação segue a contagem dos sábados / domingos culturais, interrompidos - não terminados - em Junho. Isto porque não houve um corte verdadeiramente, e sim uma mera interrupção por motivos que expliquei recentemente, salvo erro na revista a 2018.

   Farei tal e qual costumava fazer, enumerando os sítios que visitei e, de seguida, falando um pouco sobre cada um deles, e mais o que considerar pertinente. Estive, por esta ordem, na Fragata Dom Fernando II e Glória, no Santuário do Cristo-Rei e, tal como há um ano, precisamente no dia 7 de Janeiro, no Museu da Marinha, para visitar o seu estaleiro, que não vi da primeira vez em que lá estive, neste mesmo dia, neste mesmo mês do ano passado. Hoje, segunda, fui ao Museu do Ar, na cidade de Alverca.

   Como comecei por lhes dizer, o dia começou cedinho, com uma neblina espessa. O frio não me demove, como imaginam. Quando me decido a algo, não cedo.



   Quer a fragata, quer o Cristo-Rei estão na outra banda, do lado de lá do Tejo, em Cacilhas, concelho de Almada, distrito de Setúbal. O trajecto, para quem vem de Lisboa, não engana: o cacilheiro no Cais do Sodré. Um percurso ínfimo, de dez minutos. Pouco se podia ver, pelo nevoeiro e pelo estado dos vidros da embarcação.

   Chegado lá, a fragata encontra-se a uns meros 100 metros da estação fluvial, ou menos. É uma fragata bonita, totalmente recuperada e aberta ao público aquando da exposição universal de Lisboa, de 1998, vulgarmente conhecida por Expo 98. A sua construção data de meados do século XIX, o que justifica o seu nome, em honra do casal real, Dona Maria da Glória, a II de seu nome, e Dom Fernando II. O trabalho de recuperação foi meritório, como observarão. A fragata foi totalmente destruída por um incêndio, em 1963, tendo ficado fundeada no Tejo. Um grupo beneficente apoiou a reabilitação da antiga embarcação, que agora pode ser apreciada.



   Gostei bastante da fragata. Vamos pelo seu interior, pelo convés, que tem interesse, pelos conveses de bateria, pelos aposentos da tripulação e dos passageiros... Vale a pena. É uma das mais antigas do mundo, do seu género.



   A segunda visita foi aquela de que mais gostei, e gostei realmente muito. Não conhecia o Santuário do Cristo-Rei, e tem tanto interesse. É realmente enorme, um dos monumentos mais altos de Portugal. Tem mais de 100 metros, e a paz, não fosse tanto turista, seria total, aqui tão perto de Lisboa. Subi ao seu terraço. A vista é deslumbrante, equiparável, quanto a mim, àquela que podemos desfrutar desde o alto do Padrão dos Descobrimentos. Não é preciso ir-se ao terraço do Cristo-Rei, contudo - porque se paga; cá em baixo, já no recinto do monumento, também se pode usufruir da vista esplêndida sobre a Ponte Salazar - não resisti à provocação - e Lisboa, lá ao longe, parecendo uma maquete.

A Capela, no interior do monumento e subindo o elevador que dá acesso ao terraço

O Cristo, visto desde o terraço, já no topo



   Em certa medida, custa-me que as pessoas para lá se desloquem apenas pelas fotos. Estão num santuário. Convinha que meditassem um pouco, orassem, se aproximassem mais de Deus. Aquilo é meio uma arena de fotos, o que me incomoda. Eu também as tiro, mas tive os meus momentos na capela superior, já quando se sobe o elevador, lá ao alto. Um pormenor: comprei uma Bíblia Católica, que a que tinha era uma edição comum, e uma imagem linda do Sagrado Coração de Jesus. Um pouco caro, mas valeu muitíssimo a pena. Cá em baixo, e sem nada a pagar, também têm uma pequena capela, onde, inclusive, podem escrever uns pequenos desejos e depositá-los numa urna de vidro.




   Da parte da tarde, já depois de um breve almoço no Chiado, fui, pela segunda vez, ao Museu da Marinha. Revisitei-o pelo estaleiro, que não conhecia e do qual só tive conhecimento há uns meses. É maravilhoso. Figura, ex aequo com o Cristo-Rei, e não querendo ser injusto com a fragata e com o Museu do Ar, entre as minhas visitas favoritas do dia. Houve duas embarcações que me encheram a vista: uma galeota de Dom João V e um bergantim real de Dona Maria I, que reproduzirei seguidamente. Também têm uma réplica, presumo eu, da aeronave que transportou Gago Coutinho e Sacadura Cabral na primeira travessia aérea do Atlântico sul, em 1922, pelo centenário da independência do Brasil, ligando, pelos ares, Lisboa e o Rio de Janeiro. Entre mais, claro, muito mais. Deu tempo ainda de revisitar o museu, bem en passant, que o que me levava lá era o estaleiro, e já cheguei pouco mais de uma hora e meia antes do encerramento. 

Bergantim Real (1778)

Galeota (1728)


   Hoje, segunda, decidi ir ao Museu do Ar, em Alverca, também um local que andava há algum tempo a querer visitar. Não é deslumbrante, longe disso, mas tem o seu interesse. Aviões, motores, hélices... Já se sabe. Encontrarão também miniaturas de aviões de combate, artefactos vários ligados à aeronáutica, alguns quadros e fotos, insígnias. Não sei se valerá a pena a deslocação propositada, mas, passando-se pela cidade, e sendo uma segunda-feira, é de visitar.




    Foi tudo, e não pouco, por este final de semana. Como de costume, já sei onde irei no próximo domingo. Até lhes direi mais: onde irei durante todo o mês, aos domingos. Curiosos? A seu tempo, tudo saberão. 

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

2 comentários:

  1. Isso é que é energia! Começar às 8h de um domingo!!!!!!! Desisto!!!
    Não conseguiria. Às 10h e ... olha lá!

    Nunca visitei a nau da D. Fernando e Glória, mas sei que é uma obra prima, feita toda em teca!!!!
    Teca é uma madeira que, não estando ainda em extinção, é considerada nobre, e muito adaptada ao fabrico de navios dada a sua resistência à água do mar, muito dura e resiste bem à podridão, não racha nem empena, aguenta o sol, com um óleo natural que a mantém com belíssimos veios muito mais tempo, e, muito importante na utilização náutica, pois não derrapa, quando molhada, o que a torna ideal para os "decks", de fácil manutenção e, "last but not the least", resistente aos parasitas marinhos que se alimentam da madeira, e igualmente aos xilófagos (o que faz dela uma madeira perfeita para o fabrico de mobiliário, não fora o seu preço menos acessível). Pode ser utilizada na construção, mas seria um desperdício, dado o seu elevado preço.
    As tonalidades desta madeira são absolutamente fantásticas, podendo ir do avermelhado quente, até ao prateado, dependendo do acabamento que se lhe dê e dos elementos a que esteja sujeita.
    O mobiliário indo-português de grande qualidade, utilizava esta madeira. Os antigos contadores indo portugueses utilizavam-na na estrutura, sendo depois embutida com madeiras ainda mais preciosas, como o sissó, pau-santo, ébano e não era raro o uso de metais preciosos, como a prata, quer igualmente em embutidos, quer nas ferragens.
    Rendo-me totalmente a estas peças de mobiliário!!!!
    Por consequência, possuir um navio totalmente feito nesta madeira é algo de grandioso, e a sua construção só se tornou mais comportável mercê das nossas posses asiáticas, pois este navio foi fabricado na Índia.
    Também não conheço o estaleiro do Museu de Marinha, e as embarcações cujas fotografias apresenta, são de uma beleza incomparável. Não sabia mesmo da sua existência. Fico satisfeito por sabê-lo.
    Quanto ao Museu do Ar, confesso que não me desperta qualquer curiosidade.
    Já utilizar os aviões é um autêntico suplício para mim, quanto mais andar a ver "caranguejolas" expostas.
    Sei que sem os aviões a nossa deslocação seria muito complicada e até recheada de perigos, como o foi no passado, e estes monstros do ar são cada vez mais seguros, mas quando um cai não mata uma ou duas pessoas, são às centenas; nunca me habituo ao medo que sinto nas decolagens ou aproximações à pista, não importa quantas viagens faça, e creio que devo ter feito muitas dezenas!!!!
    Fico sempre com suores frios, agarro-me à cadeira com "unhas e dentes", e o medo deve transmitir-se à distância, pois, quantas vezes a hospedeira me aborda e me oferece qualquer coisa para ... diminuir o meu pânico (fico sempre encabulado!) ... nada a fazer! :(
    Uma boa semana e boas visitas, eu cá o vou acompanhando
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      Tenho de começar cedo, senão não consigo fazer tudo aquilo a que me comprometo comigo mesmo. :)

      Tem de ir à fragata. Decerto que vai gostar, até porque se vê que o Manel tem interesse nela. Sabe esses pormenores todos da madeira. Efectivamente, foi construída no Estado Português da Índia, salvo erro em Diu.

      O estaleiro do Museu da Marinha é um encanto. Vá e veja com os seus olhos. Eu desconhecia-o completamente. Da vez em que lá estive, e porque não nos é informado na bilheteira, não soube de nada e não o visitei.

      Sim, embora o meio de transporte mais perigoso seja o rodoviário. O problema dos acidentes de aviação é que, como o Manel disse e bem, quando se dão morre muita gente, e impressionam sempre a opinião pública. Também teria medo - nunca andei de avião. Deve dar uma sensação de claustrofobia enorme. No carro, paramos, nem que seja na berma da estrada para apanhar ar...

      Uma boa semana, e obrigado pelas suas palavras.

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