31 de outubro de 2019

Parasitas.


   Quiçá estejamos perante o melhor filme de 2019. Esta longa sul-coreana foi a melhor surpresa do ano, após um amigo ma recomendar. Torci o nariz, que a minha experiência com filmes asiáticos não é a melhor. É, acima de tudo, uma majestática sátira à sociedade capitalista da aparência, estratificada, do deslumbramento, com sucessivas referências aos Estados Unidos e ao ocidente através do estilo de vida da classe alta da Coreia do Sul, tão alheio da realidade das populações menos favorecidas, confinadas a guetos superpovoados e insalubres. Atingir um patamar de riqueza e bens materiais, de ostentação, numa sociedade desenvolvida como o é a Coreia do Sul, torna-se numa febre capaz de gerar todo o tipo de actos irreflectidos. O modo engenhoso em que o argumento foi elaborado, com tamanha maestria, não nos faz surpreender a aclamação universal (em Cannes, arrecadou a Palma de Ouro).

  Não menos interessante é perceber que o filme conjuga vários elementos dos filmes mainstream. Tão depressa passa da comédia como ao drama e ao terror. O que parece, à primeira vista, tratar-se de uma história de quatro vigaristas familiares, capazes de todo o tipo de patifarias e esquemas sórdidos, daí o parasitas, revela-se, afinal, um retrato social corajoso e original, totalmente subversivo, capaz de despoletar várias das nossas emoções, da lástima ao riso, à piedade e ao horror, particularmente no seu terrível e inusitado final.




   A vida troca-nos as voltas. É o que ali sucede. Tão depressa estamos rodeados de iguarias raras, desfrutando de luxos, como, num ápice, nos vemos arrastados em ruelas. E para quê fazer planos quando somos confrontados com verdadeiros vendavais que arrastam atrás de si todos os nossos sonhos?
  O cheiro impregnado nas roupas daqueles quatro perdidos, o bêbado que lhes urinava à porta e o próprio cenário de inundação, naquela cave imunda, ajudam a completar o quadro de degradação. A degradação moral aliava-se às más condições em que viviam, e entretanto pouco procuravam fazer para, licitamente, mudar para melhor. Escolheram o caminho mais fácil, sem olhar a meios, sofrendo as devidas consequências. E pesadas que foram.

6 comentários:

  1. Resenha muito bem feita. Não assisti o filme ainda.
    Gostei do blog. Estarei por aqui agora.
    Bom fim de semana!

    Até mais, Emerson Garcia

    Jovem Jornalista
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    1. Obrigado pelas palavras.

      Um bom fim-de-semana. :)

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