2 de outubro de 2019

Porth Authority.


   «Às vezes, amamos pessoas que não são nossas para amar.»


   Como é que um rapaz heterossexual, cisgénero, assume estar apaixonado por uma moça trans, particularmente se no seu grupo de amigos parece existir certa homofobia / transfobia? Com claras inspirações na cena indie que dominou o cinema americano na década de 90, a narrativa perde-se demasiado no conjunto, esquecendo o individual. Conhecemos pouco de cada uma das personagens, em detrimento dos grupos, daquelas facções urbanas que se movimentam em NYC, e claramente há dois grupos, que coincidem com dois núcleos: o de Paul e dos colegas de abrigo, heterossexuais, rudes, suados, street boys, violentos, que se dedicam a expulsar incumpridores dos seus apartamentos (Paul foge à categorização; aliás, o seu olhar perante aquele novo mundo colorido, no qual é introduzido por Wye, é demonstrativo da sua curiosidade, sem juízos morais) e o de Wye, LGBT, composto por dançarinos, que se movimentam em circuitos nocturnos e dividem casa, naquilo que será uma irmandade. Em Direito, diríamos que vivem em economia comum. Identifico um certo estereótipo, como se os LGBTs tivessem necessariamente de conviver com o assédio, pela negativa, de pessoas daquele perfil que descrevi. Os papéis sociais estão demasiado estereotipados em Porth Authority, e também se pede que o cinema ouse, inove, modifique.




  Muito embora tenham escolhido uma actriz transexual para interpretar Wye, Leyna Bloom, numa escolha acertada, o filme explora pouco o universo trans. Na verdade, parece que a história pessoal de Paul é que está no centro da narrativa, e que o seu verdadeiro mote - a dificuldade que uma transexual tem para se impor nos diversos domínios da vida, incluindo no amoroso - se desvanece diante das peripécias do rapaz. Por exemplo, a reconciliação de Paul com a meia-irmã parece ter mais importância do que o seu reatamento com Wye, que nem chegamos a saber se se vem ou não a verificar. A realização esteve mais preocupada em trocar-nos as voltas, pondo o rapaz branco, cisgénero, masculino, a procurar enturmar-se no grupo de dançarinos LGBTs, composto maioritariamente por negros e mulatos.

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