Cléo de 5 à 7 é um filme francês de 1962, na última fase da Guerra da Argélia, que é sucessivamente referida ao longo da trama. Importa contextualizar Cléo de 5 à 7 numa década que assistirá à verdadeira revolução de hábitos e costumes no ocidente, o Maio de 68. Esta longa retrata uma Cidade Luz glamorosa, que acolhe encontros imprevistos nos seus jardins. Já é a capital do amor, da paixão assolapada. Cléo é, aliás, antes de mais, um valioso roteiro sobre a Paris dos anos 60.
É ainda, parece-me, um manifesto feminista. A personagem principal é uma jovem mulher, belíssima, fútil e influenciável (interpretada pela lindíssima Corinne Marchand), que se tem em enorme consideração. Os homens, neste filme, que são poucos e surgem pouco, são meros adereços. O que se pretende é abordar a realidade feminina, as preocupações femininas e a psique feminina. Não sei se a realizadora, Agnès Varda, já falecida, e cuja obra é homenageada neste festival de cinema francês, fez mais pelo feminismo com este filme ou menos.
A incerteza quanto à doença da protagonista surge como mote para que repensemos prioridades. O dia em que saberá o resultado do exame é aquele que marca o início do Verão, ou seja, o início de uma nova etapa. Conjugou-se esse elemento com a superstição da personagem e da sua empregada.
Claramente um filme da Nouvelle Vague, a câmara inquieta-se com Cléo, seguindo-a e deixando-nos segui-la. Varda dividiu a longa em pequenos capítulos definidos no tempo, para que nos apercebamos da sua dimensão inexorável e irreversível. A longa, em suma, é a constatação de Cléo perante a iminência da morte e da sua própria finitude. As cenas do engolidor de rãs e das máscaras africanas actuam como uma elipse na nossa memória: Cléo já se vê morta. O seu mundo não é aquele, e àquele ela não pode compreender. Repare-se que a personagem, que sempre envergou branco, passa a vestir o preto.
É quando encontra Antoine, uma personagem também com o tempo contado, que Cléo pode mitigar o seu sentimento de solidão. Com ele, no autocarro pelas ruas de Paris, em direcção ao hospital, vê a vida a ficar para trás, à medida em que observam os contornos da cidade. Lentamente, é como se se encaminhasse para o fim. Ao descobrir que a sua doença pode não ser assim tão grave, permite-se a poder amar. No diálogo final, quando diz a Antoine "nous avons tout le temps", intuímos esse renascimento da esperança, e a possibilidade de a vida retomar o seu curso normal.
Claramente um filme da Nouvelle Vague, a câmara inquieta-se com Cléo, seguindo-a e deixando-nos segui-la. Varda dividiu a longa em pequenos capítulos definidos no tempo, para que nos apercebamos da sua dimensão inexorável e irreversível. A longa, em suma, é a constatação de Cléo perante a iminência da morte e da sua própria finitude. As cenas do engolidor de rãs e das máscaras africanas actuam como uma elipse na nossa memória: Cléo já se vê morta. O seu mundo não é aquele, e àquele ela não pode compreender. Repare-se que a personagem, que sempre envergou branco, passa a vestir o preto.
É quando encontra Antoine, uma personagem também com o tempo contado, que Cléo pode mitigar o seu sentimento de solidão. Com ele, no autocarro pelas ruas de Paris, em direcção ao hospital, vê a vida a ficar para trás, à medida em que observam os contornos da cidade. Lentamente, é como se se encaminhasse para o fim. Ao descobrir que a sua doença pode não ser assim tão grave, permite-se a poder amar. No diálogo final, quando diz a Antoine "nous avons tout le temps", intuímos esse renascimento da esperança, e a possibilidade de a vida retomar o seu curso normal.
Sem comentários:
Enviar um comentário