22 de outubro de 2019

Vivement Dimanche.


   Houve um sentimento de frustração que me acompanhou ao longo deste filme noir, a preto e branco, e é discutível o porquê de Truffaut se ter decidido pelo preto e branco estilizado em 1983. Talvez para imprimir à narrativa o carácter de verdadeiro filme de suspense, um policial à boa moda antiga. Em minha opinião, falhou como policial e como história de amor. Truffaut optou por nos deixar sobressaltados, nomeadamente na cena em que a secretária retorna da sua investigação e é surpreendida com uma bofetada. É-o ela e somo-lo nós. O mesmo se diz da cena inicial, quando vemos Barbara a caminhar despreocupadamente e, num ápice, estamos na cena do primeiro dos crimes. É esta arritmia na narrativa, esta quebra da lógica sequencial, que a reporta aos velhos policiais. 



   A história de amor falhou porque aquelas personagens - patrão e empregada - não conjugam. Nunca chegamos a equacionar uma relação entre dois. Porque é que Barbara se empenha tanto em ver esclarecidos aqueles crimes é pergunta que nunca vemos respondida. Amaria a Julien? Veria nele um porto seguro, um abrigo, após uma relação falhada? Personagem misteriosa, ela atravessa várias facetas ao longo da trama: secretária, actriz de teatro, prostituta encapotada e, por fim, num lado maternal, protectora de Julien. O interesse desta mulher reside nesses vários registos, não conseguindo nós fazê-la deter-se num único. Barbara é a super-mulher que carrega a investigação aos ombros.

   Qualquer uma das personagens é bastante inverosímil, assim como o são os diálogos ou os corpos das vítimas prostrados no chão. De policial, este filme é uma intriga quase caseira de um realizador renomado, de carreira irrepreensível, que já se permitia a afrontar as formulações e as convenções dos seus pares.

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