11 de outubro de 2019

Joker.


   Joker é um grandioso filme, pelo brilhante argumento e pela impressionante actuação de Joaquin Phoenix, que provavelmente se esforçou para arrecadar a estatueta de Melhor Actor na próxima edição dos Oscars. Temo que o efeito Jodie Foster o contagie. Às vezes, quando um actor dá tudo de si, sai-lhe o tiro pela culatra. Phoenix parece esforçar-se demasiado para impressionar.

  A produção soube extrair da interpretação de Phoenix toda a insanidade de um homem profundamente perturbado, vítima de maus-tratos e abusos vários - não só em criança -, que cresce com uma mãe paranóica. 

  O filme aborda realidades interessantes. Desde logo, identifico uma crítica clara a políticos populistas que se investem de uma moral que não têm. Por outro lado, aquele mundo da televisão, de glamour e fama, que tanto fascínio exerce em Arthur, é profundamente hipócrita e até desumano, não olhando a meios para atingir os fins, no caso, audiências, nem que para tal tenha de ridicularizar alguém em directo.




   Arthur é o espelho da infelicidade, que se transforma em frustração. Como ele diz a certa altura, nunca foi feliz "nem por um único segundo da vida". Essa infelicidade contida, em estados de nervosismo que degeneravam em ataques histéricos de riso descontrolado, encaminharam-no à prática de crueldades inimagináveis. O meu sentimento por aquela personagem oscila entre o encanto, a piedade e a repulsa, uma vez que não conseguimos ser indiferentes a todo o contexto familiar em que cresceu e viveu. O encanto advirá do seu lado artístico. Ele parece ter um qualquer talento inato para entreter.
   Quantos Arthurs não ajudamos nós a criar com a falta de empatia e a humilhação que infligimos nos outros? A alienação de Arthur Fleck tornou-se colectiva, numa cidade louca e revoltada contra a falta de princípios dos seus governantes. Era como se a dor que sentia se transportasse para cada um dos moradores de Gotham. O palhaço pobre que enfrenta os ricos e poderosos e que, como tal, vira herói e serve de inspiração a revoltas contra o poder instituído, numa clara alusão também ao descontentamento político que se vive nos EUA com a administração Trump. Thomas Wayne é claramente uma referência (in)discreta a Trump.

  É um filme extraordinário, com planos muitíssimo bem produzidos e uma iluminação, caracterização e fotografia de excelência.

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