26 de outubro de 2019

Maleficent - Mistress of Evil.


   No primeiro filme sobre Maléfica, que fui ver quando estreou, em 2014 (e podem ler a crítica aqui), estranhei a benevolência e até mansidão da vilã da Disney, comummente considerada em sondagens como a mais malvada. Aquele argumento não me convenceu minimamente. Neste, já ia preparado para isso. A realização como que procurou justificar a fórmula que utilizou no primeiro filme, dotando-a de desenvolvimentos para que compreendêssemos o percurso de Maléfica. Evidentemente, há contradições lógicas. Como é que tornamos uma vilã - a pior das vilãs! - numa criatura que, meh, afinal nem é assim tão má como parece? É uma desconstrução difícil.

  Maléfica, em Mistress of Evil, já não é má. É apenas mal-encarada e antipática. A caracterização e a sua postura altiva deixam de fazer sentido. Entretanto, esta sequela tem um argumento e um background mais verosímeis dentro daquele universo de fantasia. Conhecendo nós as origens de Maléfica, os seus pares, iguais fisicamente, deixamos de a associar, com aqueles cornos e aquelas vestes, a uma personagem necessariamente má, porque, no nosso imaginário, um ser que se apresenta como ela tem de ser mau.

   Na parte dois desta sequência dedicada à vilã, há dois mundos em oposição: o Reino dos Moors, das fadas, e o Reino de Ulstead, de humanos, que vivem lado a lado e se odeiam. Outra vez, humanos e natureza em confronto. É um modo mais simpático, convenhamos, de trazer a discussão do impacto do ser humano no ambiente, apresentando-os como terríveis e impiedosos. Terão razão? Sê-lo-emos?

  Embora a narrativa esteja centrada em torno de Maléfica, não senti a falta de algumas das paradigmáticas personagens d' A Bela Adormecida. As três boas fadas, madrinhas de Aurora, que neste filme é uma personagem apagada e totalmente prescindível, ficaram reduzidas a um papel minúsculo, e diluíram-se completamente naquele emaranhado de fadas do Moors, reino onde todos são fadas e vulneráveis à acção do ferro. Sim, o ferro, o metal. No final, lá recuperaram a inesquecível cena do vestido de noiva de Aurora, que ora é tingido a vermelho, ora a verde, e creio que foi só aí que as três boas fadas surgiram de verdade. A Primavera, a fadinha azul, é corajosa quando tem de enfrentar uma serviçal da Rainha Ingrith, mas até ela, carismática n' A Bela Adormecida, desaparece aqui. E a falta não lhes achei.




   Com uma Maléfica boa, teria de haver outra vilã, que aqui é a mãe do príncipe Filipe, a pérfida e calculista Rainha Ingrith, numa excelente interpretação de Michelle Pfeiffer, que rivalizou, devo dizer, com Angelina Jolie, não só em beleza como no papel de protagonista. Aurora e Filipe são totalmente olvidáveis. Aquela rainha má ainda vai dar que falar.

   Dos efeitos especiais, gostei sobretudo da batalha final e das cenas em que os Feiticeiros da Sombra sobrevoam os reinos. E, até que enfim, vemos Maléfica a transformar-se num gigante dragão negro (ou seria um pássaro?), tal qual como da primeira vez em que surgiu nos nossos ecrãs, algures por 1959. Todavia, não foi apenas com o dragão e a cena protagonizada pelas três boas fadas que senti correlações com o filme original: o fuso da roca de fiar foi recuperado na sua maldição.

  Sujeita a que os fãs de Maléfica fiquem descontentes, que a vilã não o é mais, e da sua anterior condição e personalidade só resta um feitiozinho especial, a Walt Disney atribuiu uma biografia digna a Maléfica, afinal, a maldade pode ter uma justificação. Quase sempre assim é. A Maléfica de Angelina Jolie passou de cruel e sinistra, capaz de amaldiçoar um bebé por não ter sido convidada para o seu baptismo, para uma figura sensual, que transborda a afectos. Teremos sempre a Maléfica de '59 por lá, intocável.

2 comentários:

  1. Vi o primeiro filme e gostei muito. Ansioso por esse segundo.
    Bom fim de semana!

    Até mais, Emerson Garcia

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    1. Este segundo, a meu ver, superou o primeiro.

      Até!

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