Amour é uma dolorosa perspectiva, de resto comum, do envelhecimento e da morte. Este filme lembrou-me instantaneamente dos meus avós paternos, e sobretudo da dedicação da minha avó ao meu avô, na doença, ao longe de catorze anos.
Os silêncios, em Amour, fazem a diferença. Percebemos o estertor da morte a percorrer aqueles cómodos escuros, à medida em que as lembranças se avolumam e as despedidas se tornam inevitáveis. Na cena em que Anne folheia um velho álbum de fotografias, assistimos à antítese da vida nas suas palavras, quando a define, "bela e comprida". A morte não lhes bateu à porta, como o vizinho que traz as compras, ou a empregada de limpeza (protagonizada por Rita Blanco, curiosamente). Entrou de rompante, qual intrusa, apoderando-se de todos os momentos daquele apartamento espaçoso, requintando, que se torna palco de um definhar lento e gradual, profundamente desconfortável para o espectador.
Facilmente perdemos a sequência às acções, como se a lógica cedesse se fundisse numa imagem estática: a de Anne, já morta, que nunca nos sai da cabeça. Esta alienação com a realidade e com a verdade da narrativa confere um carácter metafísico ao filme. É a morte que toma o tempo, que o torna lodoso e que nos faz entrar naquele microcosmos angustiante, vedado ao mundo, só perturbado na sua unidade com as visitas fugazes de uma filha. George, aliás, age com brusquidão às recomendações de Eva. Não. Aquele é o seu mundo, e cabe-lhe, ora com paciência, ora com impaciência, acompanhar a mulher no seu calvário.
Esta longa é um retrato cru, sem sentimentalismos, impiedoso, da última etapa da vida humana, da degradação física e mental, da solidão, mas também do amor, do cuidado, do maior e mais difícil gesto do bem-querer, do auto-sacrifício, em juras que se cumprem até ao final. Um drama que nos comove e aterroriza, embora não saibamos bem o porquê. Talvez porque a realidade consiga ultrapassar a ficção, ou talvez porque aquela ficção é a realidade que não queríamos conhecer / ter.
Resta acrescentar que vi Amour há dias, na vigésima amostra de cinema francês, o primeiro de vários filmes.
Esta longa é um retrato cru, sem sentimentalismos, impiedoso, da última etapa da vida humana, da degradação física e mental, da solidão, mas também do amor, do cuidado, do maior e mais difícil gesto do bem-querer, do auto-sacrifício, em juras que se cumprem até ao final. Um drama que nos comove e aterroriza, embora não saibamos bem o porquê. Talvez porque a realidade consiga ultrapassar a ficção, ou talvez porque aquela ficção é a realidade que não queríamos conhecer / ter.
Resta acrescentar que vi Amour há dias, na vigésima amostra de cinema francês, o primeiro de vários filmes.
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