Entre le murs foi rodado em 2008, e tem como pano de fundo uma turma multicultural de um liceu parisiense. Somos encaminhados a conhecer os meandros que a segregação, e muitas vezes a auto-segregação, provoca, com consequências a nível comportamental nos alunos. A imigrante do Mali que não sabe francês, os alunos filhos de imigrantes que se discriminam entre si e que revelam problemas se sociabilização e integração. França, como Portugal, e presumo que numa realidade comum a vários países europeus, depara-se com índices de criminalidades infanto-juvenil, de quebra da autoridade dos professores junto dos alunos e de níveis de insucesso escolar. Há uma crise de valores que se vem acentuando gradualmente. Aquela turma, que o filme passa-se inteiramente numa sala de aula do 8º ano, reúne um pouco de cada enfermidade de que padecem as escolas francesas, não obstante haver um esforço notório dos professores para os entender e para se fazerem entender e até alguma flexibilidade no ensino dos conteúdos.
Esta longa é um claro filme big brother, de verosimilhança social. Dispondo de poucos meios técnicos e com um argumento que é o próprio quotidiano escolar, é mais um retrato quase documentado do que propriamente um filme. Aqueles alunos confrontam - e o filme é um permanente confronto entre professor e alunos - os professores como se habitassem num universo paralelo. Isso transparece nitidamente quando, numa aula de Francês, desdenham de vocábulos ditos eruditos. A determinado momento, um traduz para francês coloquial o que o professor acabara de dizer. Há um problema de comunicação notório, geracional, que se acentua com as diversas sensibilidades culturais. É nas actividades mais lúdicas que as barreiras se esbatem e que se vislumbra algum saudável entendimento, porém, a tensão está sempre presente. Eles desconfiam do professor e jamais o vêem como alguém que está ali para os ajudar.
Não sendo um desastre, não lhe vejo mais interesse do que como útil representação dos problemas que as escolas enfrentam.
Uma obra a ver.
ResponderEliminarObrigado pela dica. Como professor obrigo-me a ver este tipo de filmes/séries que tantas vezes me ensinam ou perspetivam o futuro, dada a degradação da educação no nosso país.
Gostava de ver-te pelo Insensato.
Abraço,
P. do https://insensato.pt
Ainda bem que gostaste. :)
EliminarSim, mal possa passarei no teu espaço.
Um abraço.
Deixei comentário, mas não deve ter sido gravadao.
ResponderEliminarAbraço,
P.
Chegou, sim. Eu é que ando desleixado com os comentários.
EliminarUm abraço.