27 de setembro de 2024

Lanzarote IV (Casa José Saramago).


    “Uma casa feita de livros”. Foi desta forma que José Saramago definiu a sua residência dos últimos dezassete anos de vida. Foi, realmente, a visita mais interessante da estadia em Lanzarote e uma das mais interessantes que fiz na vida. Curioso, não? Podia eleger o British Museum ou outro qualquer, e tive muito mais prazer numa casa singela, sem luxos, decorada com gosto e com quadros bonitos, é certo, mas uma casa comum. Poderia ser a minha casa. 

   Tivemos a sorte de ser os únicos da visita (lembrei-me imediatamente da minha visita à casa de Amália Rodrigues, em que também fui o único). Passámos pela entrada, pelo escritório, o quarto (onde morreu, no Verão de 2010), a sala, a cozinha, o jardim -no qual contemplava o oceano-, e depois, noutro recinto em frente à casa, do outro lado da rua, a sua gigantesca biblioteca composta por milhares de exemplares.





     Aparentemente sem nada de especial, foi uma visita muito significativa para mim. À saída, na loja, adquiri várias obras de Saramago e mais umas quantas lembranças. O guia, espanhol, foi excepcional. Contou-nos algumas curiosidades sobre a casa e o próprio Saramago. Sendo os únicos, pudemos usufruir de uma atenção personalizada.

       Para terminar, um pouco da história da casa. Saramago e Pilar compraram aqueles terrenos, mandaram construir a casa, e Saramago estabeleceu lá a sua residência em 1993, em virtude de um dos seus livros, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, ter sido vetado pelo governo de Cavaco a um prémio literário europeu. Todas as obras a partir de então foram escritas em Lanzarote, muito embora Saramago tivesse um apartamento em Lisboa que, aliás, continuou a ser a sua residência oficial, e onde vinha com frequência. Recomendo.

4 comentários:

  1. Só li um livro de Saramago, o "Memorial do Convento", que tem um início brilhante, mas que, depois .... só consegui terminar a sua leitura a "duras penas". Os outros livros, um ou outro ainda tentei folhear e começar, mas desisti logo. Saramago não é para mim e não gostei do que li.
    É igualmente verdade que não simpatizo com o escritor, mas há muito escritor com que não simpatizo, mas que adoro ler, como é o caso de Maria Filomena Mónica, só para dar um exemplo.
    Claro que Saramago trata a língua de uma forma perfeita e até poética, mas o conteúdo e a forma com nos serve o enredo não me diz nada.
    Durante muito tempo achei que o problema era meu, até encontrar muitas mais pessoas , leitoras assíduas, e as quais admiro, que congregavam da mesma opinião, e com as quais tive ocasião de debater o assunto e perceber de certa forma a razão do que sentia.

    Há coisas que não vale a pena continuar a ler, pois o mundo tem tanta, e tão boa literatura, que não merece a pena insistir naquilo que nada nos diz!
    Deixo Saramago para quem o consegue gostar.
    Só tenho pena dos alunos que são obrigados a lê-lo e estudá-lo nos cursos do secundário, que os conheci e em grande quantidade, e recordo o desagrado quase unânime.
    Não é desta forma que se faz uma pessoa ter prazer na leitura. Lembro-me como detestei Camões, dada a forma como me foi "servido" no liceu (sou do tempo do "liceu"), sendo que, mais tarde, pela mão de gente competente, que sabia como levar uma pessoa a gostar da literatura do século XVI, acabei por me apaixonar por aquilo que escreveu.
    Não se aguenta um currículo em que se obriga um jovem de 15 anos a dividir em orações os versos dos Lusíadas. É a melhor forma de fazer detestar a leitura, seja ela qual for. Não admira que tanta gente tenha abandonado a leitura por completo.
    Cumprimentos
    Manel

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    1. Manel,

      Eu tive de ler, como todos no 12° ano, o “Memorial do Convento”. Achei tremendamente enfadonho. Não o consegui ler todo. Já havia internet, claro, então o que fiz -assumo-o agora- foi ler pequenos resumos da obra online. E olhe, chegou-me para fazer o exame nacional de português, que -lembro-me perfeitamente- caiu uma pergunta sobre a Blimunda.

      Desde essa data, não voltei a pegar em nada de Saramago. Não sei se gosto, se não gosto, mas estou disposto a lê-lo.

      Há muita gente que inclusive põe em causa a sua qualidade enquanto escritor. Lobo Antunes, por exemplo. Não sei até que ponto é uma questão de gosto pessoal ou pura inveja, afinal, Lobo Antunes é um eterno candidato ao Nobel.

      Tão-pouco gostei de Camões, nem de Eça. Gostei de Pessoa. Pessoa era um génio. Camões também o era, mas achei muito pesado.

      Cumprimentos,
      Mark

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  2. Estou a adorar
    Obrigado pela partilha
    Abraço amigo

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