14 de março de 2024

As bichas são perversas.


     O meu marido é um homem muito educado e diplomático. Evita os confrontos, procura dar-se bem com todos. É um rapaz criado no rural, no meio das vacas, e que portanto desconhece o meio gay. Nunca o viveu. Não sabe como é. Não subestimo a sua inteligência. É um rapaz extremamente culto e inteligente, mas há coisas que ou as vivemos ou não as conhecemos. Podemos intuí-las, porém, há que vivê-las.

     Há aqui um tipo, médico também -que contudo não trabalha no mesmo sítio que o meu marido-, com quem, por motivos profissionais (derivação de doentes etc), o meu marido teve de começar a falar. Trocaram Whatsapp e tal. Tudo bem. Acontece que a bicha -e bicha não porque seja feminino; a bicha, pronto- começou a fazer-lhe perguntas mais pessoais: desde quando sabe que gosta de rapazes, há quanto tempo estamos juntos, a insinuar que o meu marido estuda muito e que isso lhe parece sexy (acompanhado de um emoji insinuante…). Esse tipo de situações.

     Eu comentei a situação com o M. - ele, aliás, foi o primeiro a mostrar-me as mensagens-. Ele leva aquilo na brincadeira. Ri-se daquilo que considera ser um ciuminho bobo da minha parte e pergunta-me se não confio nele. Eu nele confio; eu não confio é nestas bichas, que não são desinteressadas. Eu não venho do meio das vacas. Venho duma cidade, lidei com muita bicha. Sei como elas são, como pensam, e o que querem.

     Sou um senhor, mas há coisas que não admito. Se a bicha estica a corda, conhecerá o meu pior lado, e acreditem, é muito mau esse meu lado. Sou menino para lhe estragar a vida aqui, começando pelo seu local de trabalho. Ele que se cuide.

3 comentários:

  1. Numa relação há sempre situações que se prestam a este tipo de ocorrência.
    Sou de opinião que, quando se entra numa relação, deve haver alguma preparação para este tipo de comportamento, sejam elas relações heteronormativas ou outras, pois ninguém esta a salvo de que algo deste calibre suceda.
    Não conheço o seu marido, por isso não posso dizer-lhe grande coisa, e mesmo que o conhecesse, não estou muito apto a aconselhar, pois eu próprio não sei muito bem o que fazer em tal situação. Sei disto porque me aconteceram situações semelhantes no passado, e, na altura, optei por ignorar.
    Foi o melhor? Foi o pior? Não deveria ter deixado passar em branco? Não sei a resposta, e, neste momento, também já não vai a tempo, pois essas relações que tive, terminaram, e não foi por situações semelhantes a estas. A decisão foi minha, quando as terminei, no entanto continuo com as melhores relações com dois desses meus companheiros, só que fora da cama, que não me interessa mais - pelo menos não com estas pessoas; quando se termina algo, fica terminado, é assim que eu reajo, pois deixei de sentir o que sentia.
    Tento, e procuro, dar tudo o que posso quando numa relação (ou pelo menos tentava, não sei se o faria hoje), mas quando termina não há volta a dar.
    Por todas estas razões não sei muito bem o que lhe dizer, mas o Mark, que conhece as pessoas em causa, saberá melhor.
    Peço desculpa por não poder ajudá-lo mais, no entanto estou certo que o Mark é inteligente e equilibrado para saber o que fazer. Mas, atendendo à situação, e conhecendo as pessoa em causa, seria bom se fizesse o melhor possível para manter as pessoas de quem gosta junto de si.
    Cumprimentos
    Manel

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    1. Manel,

      Eu vou aguardar. Queria realmente evitar ter de me indispor, mas, se não houver outra forma, far-lhe-ei uma visita para, como dizemos em Portugal, “pôr os pontos nos is”.

      Muitos gays -uma grande maioria- têm imensa facilidade para falar de sexo e de coisas íntimas quando mal conhecem as pessoas, e quiçá sem outras intenções. São naturalmente ordinários. Vou deixar passar e, evidentemente, continuar atento.

      Cumprimentos,
      Mark

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  2. « Mantem te atendo (o teu marido contou te e não escondeu)
    É bom haver ciuminho, mas ninguém tem paciência para Histerias e Possessividades...
    Quem sabe se ainda não poderão vir a ser bons amigos, por vezes as amizades nascem assim e como tu dizes o teu marido "veio" do campo e das vacas... Quem nos diz que o "outro" também não veio?
    Tranquilidade acima de tudo
    Abraço amigo»

    Francisco, o teu comentário não entrou, mas recebi-o no e-mail, publico-o aqui.

    Histerismo, não, nem possessividade. Chama-se respeito. Não me refiro ao meu marido, que sempre me respeitou e respeita, mas ao outro. O outro não tem de me respeitar; tem de respeitar o colega. E faltou ao respeito, fazendo-lhe perguntas e insinuando-se. Eu deixei clara a minha posição.

    Um abraço,
    Mark

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