Nunca prestei atenção ao Festival da Canção. Quando nasci e cresci, já estava em franca decadência (anos 90), portanto, as minhas memórias do certame vão pouco mais além de cantarolar “peguei, trinquei e meti-te na cesta” da Dina, com as minhas coleguinhas da primária. Em 2017, assisti à final da Eurovisão -que Portugal ganhou- num bar de ursos, no Príncipe Real, e foi giro pela convivência. E é tudo. Não sou a tradicional bicha festivaleira e eurovisiva. Contudo, este ano, soube, comemoraram-se os 60 anos do Festival da Canção (1964-2024), e achei por bem escrever algumas linhas sobre o festival de 1983. E porquê de 83? Teve algumas especificidades: foi o primeiro que se realizou fora de Lisboa (Porto), o Herman José ficou em 2° com A Cor do Teu Baton, o Carlos Paião e a Cândida Branca-Flor (paz à alma de ambos) imortalizaram a patriótica Vinho do Porto, Vinho de Portugal e, para terminar, houve uma pequena grande pérola: uma miúda chamada Tessa levou um tema chamado Ave do Paraíso que foi… bom, é melhor que o vejam e oiçam, porque não há palavras. Apenas uma interrogação: como foi possível? Deixo-lhes o vídeo:
Tenho muita pena, mas não consegui ouvir mais do que algumas estrofes, era por demais ridículo e confrangedor. Como é possível que ninguém dissesse à menina que era melhor que ela se limitasse a cantar no banho????? E, se possível, em surdina.
ResponderEliminarNão vejo um festival deste calibre desde o início dos anos dos anos 70. Creio que a última vez que assisti a uma prova desta ganhou uma senhora que cantava "Menina e Moça", talvez Tonicha? Será, não tenho paciência para ir procurar. E acabou, nunca mais assisti a estas provas. E até aos finais dos 60 vivia num país onde não havia televisão. Por isso, a minha experiência nestes festivais foi muito reduzida.
E, quando cheguei a Portugal, durante alguns anos, em minha casa, não havia aparelho de televisão, porque se acreditava que era algo que estragava o gosto das pessoas e as impedia de conversar à noite, de ler ou conviver, por isso ... baniu-se o aparelho.
E hoje, acabo por não ter sequer acesso à televisão no Alentejo, nem faço nada por alterar a situação. Realmente não necessito nem me interesso muito. Para quê ter uma coisa que consigo ver durante 10 minutos e ... adormeço logo de seguida.
Adormeço cedo e acordo cedo, e durante o dia as minhas tarefas consomem-me as horas todas.
Mas eu também não sei cantar, não obstante, adoro ouvir música.
Quando andava num colégio religioso, que tinha um espetáculo no final do ano onde contracenavam os "rebentos" de todos os progenitores orgulhosos das suas crias, deram conta que eu não sabia fazer nada, um caso perdido para as artes performativas.
Quando me colocaram numa coreografia para dançar uma dança qualquer tradicional (o Vira ou o Malhão ... que sei eu?), eu não descortinava a esquerda da direita, nem sabia como contar os passos e estar atento à minha parceira em simultâneo, e fazia todos as outras crianças caírem uns em cima dos outros, era terrível. Tiraram-me da coreografia com receio de provocar uma catástrofe a sério, pois o espetáculo era feito em cima de um placo bastante alto. Depois tentaram-me colocar a recitar alguma poesia ... (eu detesto poesia), ou participar numa peça de teatro, mas é aflitivo, não consigo lembrar-me das palavras, por mais que as tentasse decorar, e fazia-o mesmo a sério (era uma criança, e nestas idades ainda se tenta levar as coisas a sério !!!) ... debalde. E deveria ser confrangedor ver uma pessoa com terror de multidões, tentar apresentar-se perante centenas de pais e restante família.
Decidiram que o local onde eu faria menos "estrago" seria pertencer a um coro. Havia uma maestrina espanhola que tentava colocar-nos a cantar a várias vozes ... de cada vez que ela passava por mim, para verificar se estávamos na voz certa, ela arrepiava a cara e quase semicerrava os olhos, pelo que percebi que a minha queda para o canto estava comprometida.
Um dia foi mais forte que ela e, frente a todos, gritou-me "Mira, tu no cantas, ni pienses en cantar, solo vas a mover tu boca, nada mas!"
O meu talento artístico ficou ali decidido.
E assim acabou a minha carreira musical, como deveria ter acabado também para esta "ave do purgatório"!!!!
Cumprimentos
Manel
Manel,
EliminarO Festival da Canção foi, durante décadas, um grande evento social e televisivo. As famílias juntavam-se para ver o festival -até porque não havia mais nenhum canal-. Era, também, uma plataforma de lançamento para os artistas. Além de mero programa de entretenimento, desempenhou uma função política quando se levavam canções com mensagens implícitas (algumas escapavam à censura, como a “Tourada”).
Sim, refere-se a “Menina do Alto da Serra”. É de 1970 ou 1971, interpretada pela Tonicha. Eu conheço alguma coisa dos festivais históricos.
É interessante o que diz sobre a televisão. Concordo inteiramente consigo. Sempre me fez imensa confusão aquelas pessoas que jantam a ver televisão -um costume arreigado em Portugal-. Até me vem à memória uma entrevista da filha de Marcello Caetano, Ana Maria Caetano. A determinado momento, o entrevistador (salvo erro, Manuel Luís Goucha) pergunta-lhe algo do género: “Imagino que não se visse televisão lá em casa à hora do jantar?”, ao que ela responde, qual tia de Cascais, “Alguma vez…”.
Os espanhóis são brutos. É uma constatação. São-no, e essa brutalidade não se confunde com frontalidade. Mais do que frontais, são brutos, mal-educados. Não têm modos, e eu sei-o perfeitamente porque vivo entre eles e, infelizmente, tenho de lidar com eles todos os dias.
Quanto à poesia, aproveito que o Manel o confessou e também o confesso: não é, de todo, o meu estilo literário predilecto. Tenho ali uma compilação de Eugénio de Andrade, muito boa, e ainda não peguei nela.
Por último, o cantar. Eu gosto de cantar. Não tenho uma voz por aí além, mas consigo afinar, e não canto mal. Naturalmente, é algo que faço esporadicamente, quando estou sozinho. Isso deve-se, imagino eu, ao meu gosto por música. Eu adoro música. Já não me lembro quem o disse, mas faço minhas as palavras de quem disse aquela frase, que era mais ou menos como “o mundo sem a música seria um erro”. Nietzsche, talvez.
Cumprimentos,
Mark
Que pérola que foste desencantar ehehehehehehehhehe Muito Bom
ResponderEliminarDe facto, eu cresci a ver a Eurovisão e a ver aqueles minutos que antecediam as músicas que falavam um pouco de cada país
Anos mais tarde quando viajo, recordo-me tantas vezes de algumas imagens que vi pela primeira vez na TV graças à Eurovisão.
Quando os River Dance apareceram na Eurovisão na Irlanda em 1994 e depois nos anos 2000 tive a oportunidade de os ir ver ao Pavilhão Atlântico creio que ainda não era meo arena...
Ou quando estive na Bélgica em 2019 e lembro do J`aime la vie da Sandra Kim que ganhou em 1986.
Tantos momentos nostálgicos que tive ao ler este teu post e a escrever este comentário... Tanto que eu poderia dizer ou escrever, mas não irei abusar
Grande abraço amigo
Há quem diga que os pais desta miúda pagaram 5 milhões de escudos (5 mil contos) à RTP para ela ir cantar no Festival. Se é verdade ou não, não sei. Dizem as más línguas. No entanto, parece-me uma explicação plausível. Tamanho descalabro só se justifica a poder de dinheiro.
EliminarUm abraço,
Mark
Em Portugal o dinheiro flui mas apenas em algumas carteiras eheheheh
ResponderEliminarSomos um País de Favores e Cunhas
Abraço amigo