As forças mais à esquerda fazem por não recordar o 25 de Novembro. Agora, com a primeira celebração oficial pelo parlamento português, quase 50 anos depois, creio que já podemos falar de O 25 de Novembro, como dizemos, com propriedade, O 25 de Abril, designação muito mais comum do que Revolução dos Cravos ou qualquer outra.
Independentemente de convicções políticas, a história é o que é. O Partido Comunista Português, que se continuar assim brevemente se extinguirá, apoiou o movimento revoltoso que pretendeu operar em Portugal um golpe de Estado que, caso se tivesse concretizado, provavelmente teria conduzido o país a mais uma ditadura. Teríamos saído de uma para outra. Como a história não se faz de "ses", tudo o que podemos é supor. Portugal foi membro fundador da NATO e pertencia à EFTA. Ter-nos-ia isso, em contexto de guerra fria, salvado de um regime pró-soviético? Teríamos sido invadidos por Espanha com o apoio dos EUA para evitar a sovietização? De algo, não me restam grandes dúvidas: teria sido péssimo para o país, que ainda convulsionava de uma revolução, com retornados a chegarem, uma economia exausta pelo esforço de uma terrível guerra colonial e com independências (mal feitas) recentemente. Portugal precisava de estabilidade, e foi o fracasso desse pretenso golpe de Estado que nos permitiu sair do PREC para o PCEC (Processo Constitucional em Curso), e avançar, ainda que timidamente, para uma democracia europeia com uma economia de mercado (e digo timidamente porque até 82 estivemos sob tutelar militar, com uma Constituição fortemente socialista, e só em 89, na segunda revisão, foi eliminada a irreversibilidade das nacionalizações).
A história tratou de romantizar o ciclo, como se a democracia tivesse chegado de um dia para o outro; como se tivéssemos adormecido em ditadura e acordado em democracia. Não foi assim. Qualquer pessoa com mínimos conhecimentos históricos e sociais da época sabe que não foi assim, e a evocação do 25 de Novembro de 1975 é mais um passo nesse sentido, no sentido do reconhecimento de que houve outros momentos igualmente decisivos para que hoje tenhamos o Portugal democrático que temos.
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