18 de setembro de 2024

Olivença (uma vez mais).


   Voltámos de férias, e ainda me propunha a falar dos nossos dois destinos primeiro (sem contar com Chaves, que já me mereceu uma publicação), porém, Olivença e a sua questão são um tema que me apaixona. Sou patriota, defendo Portugal, e Olivença não me é -nunca me foi- indiferente. Provavelmente já terei falado da questão em momentos anteriores, mas, em termos gerais, houve uma guerra (uma de muitas com Espanha) em 1801, a Guerra das Laranjas, no contexto das invasões napoleónicas. Espanha era aliada de França e Portugal do Reino Unido. A guerra, ganhou-a a aliança franco-espanhola. Espanha anexou várias localidades fronteiriças, bem assim como Olivença. Devolveu-as a todas num acordo de paz, excepto Olivença, que manteve como “conquista de guerra”. Portugal, fragilizado, aceitou os termos do tratado (de Badajoz). No Congresso de Viena, em 1815, que se propôs a redefinir o mapa da Europa após a derrota de Bonaparte, os tratados prévios foram anulados e Espanha comprometeu-se a devolver Olivença a Portugal. Até hoje.

    Portugal manteve a reivindicação, que foi esmorecendo com o tempo. Entretanto, nos subsequentes tratados de reconhecimento de fronteiras entre os dois Estados, Portugal recusou-se a reconhecer a soberania espanhola. Desde então, de tempos em tempos, Portugal vai recordando o Estado espanhol dos seus direitos -legítimos direitos- sobre Olivença. Desta vez fê-lo por Nuno Melo.

  Naturalmente, muitos consideram um não-assunto, algo anacrónico e patético. Os oliventinos sentem-se espanhóis (pudera, duzentos anos depois e após um processo de extermínio da cultura e língua portuguesas!), Portugal prefere não comprometer as ditas “boas relações” com Espanha e o tempo tratou, dizem, de sanar o assunto. Eu não penso assim. Como diz o povo, numa frase tão simples, “uma coisa é uma coisa; outra coisa, é outra coisa”. Nem o tempo e nem o etnocidio do povo oliventino podem eliminar o direito português a uma parcela do seu território. Pretensões que o Direito Internacional acolhe. E se já que não levamos o assunto às instâncias internacionais -e deveríamos-, pelo menos temos o dever de, de tempos em tempos, ir recordando Espanha de que mantém, ilegal e ilegitimamente, território português. Admitam-no ou não. Eu só lamento que haja tantos portugueses a levar o assunto com tanta displicência.

4 comentários:

  1. Totalmente de acordo contigo, mas depois da devolução de Macau (foi oferta a Portugal) e como já passaram 200 anos...
    Abraço amigo

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    1. Macau foi mais um disparate, porque a China reconheceu a soberania perpétua portuguesa. Enfim, falta-nos amor próprio.

      Um abraço,
      Mark

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  2. Olivença é um local que visito de quando em vez.
    Acho sempre curioso que a toponímia seja referida nas duas línguas, e há tudo à nossa volta, nomeadamente a arquitetura, que nos faz lembrar a portuguesa, sem qualquer dúvida. Já o mesmo não sucede com a população.
    Franco, durante os anos da ditadura (talvez porque tivesse receio de algum referendo, ou simplesmente porque lhe fazia sentido), não só facilitou como incentivou a ocupação das terras deste enclave por espanhóis provenientes doutras regiões, para que a população nunca tivesse veleidades de se considerar portuguesa.
    E assim é até hoje. Quem a visita apercebe-se de uma forte ocupação espanhola da região, só se ouve falar espanhol, quando falo português, respondem-me em castelhano, e, estou certo, se houvesse um referendo hoje naquela região (porque não foi só Olivença a ter-nos sido espoliada, há mais localidades), as pessoas que quereriam regressar à soberania portuguesa constituiriam uma ínfima parte.
    Desde 2014 que os oliventinos podem pedir a nacionalidade portuguesa, só uma ínfima parte o fez!
    Não acredito que aquela cidade alguma vez regresse a Portugal, está totalmente virada para a soberania e cultura espanholas.
    Aquilo que sinto é algo contraditório, pois, passeio-me por aquelas ruas de Olivença, e invade-me uma nostalgia tremenda, reconheço tudo aquilo como essencialmente português, no entanto, Portugal, não tem sido muito generoso com o interior do seu próprio território, que se encontra votado ao abandono, o património a cair em pedaços, sem que ninguém lhe acuda, os serviços estão centralizados nos grandes centros, próximo do litoral, os hospitais são bons sítios de morte, no interior de Portugal, quer pela ausência de profissionais, quer pela carência de meios com que as unidades de socorro estão providas - e eu sou bem o exemplo deste facto, quando, há bem pouco tempo necessitei de cuidados médicos urgentes, e foi necessário que me levassem para Lisboa para conseguir sobreviver. Teria lá ficado, se não me tivessem levado para um bom hospital privado na capital.
    Por sorte tenho a hipótese de ter acesso a um hospital destes, o que não é o caso da grande maioria da população.
    E o Alentejo tem uma população a morrer de velhice e das mais variadas maleitas!
    Só quem tem acesso aos cuidados de saúde privados tem uma maior possibilidade de sobreviver, e assim vai o interior de Portugal.
    Nesta situação, e em muitas outras, entendo que os oliventinos não estejam interessados em pertencer a Portugal.
    E, em Olivença, há uma dinâmica que por vezes não se vê nas cidades raianas portuguesas, com exceção de alguns, poucos, centros mais importantes, como é o caso de Elvas ou Campo Maior.
    Enfim, o futuro se encarregará de resolver a situação, mas, sendo pragmático, como sou, não espero milagres.
    Espero que estejam bem e que tenham feito um belo périplo pelo norte.
    Muitos cumprimentos
    Manel

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    1. Olá, Manel

      Agora dizem que Olivença é um bom exemplo da cooperação transfronteiriça e da multiculturalidade ibérica, num caso único na península. Balelas. Olivença pertence de facto ao Estado espanhol, ilegal e ilegitimamente.

      Como comentei ao Francisco, falta-nos amor próprio e coragem. Falta-nos “tê-los no sítio”. Espanha reivindica até hoje Gibraltar, mesmo tendo reconhecido a soberania inglesa. É que a incoerência é tal que me revolta.

      Nunca estive em Olivença, e quero ir. Às vezes penso que a visita me deixará ainda mais triste e revoltado. Portugal tem culpa, tem muita culpa, ao ter deixado o assunto arrastar-se estes duzentos anos.

      Sobre as férias, não foram no norte do país. De Chaves, rumámos para o Atlântico. Serão os temas dos próximos posts.

      Cumprimentos,
      Mark

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