25 de julho de 2020

Sylvester (1947-1988).


   Sylvester James foi um cantor da disco sound e um activista pelos direitos da comunidade LGBT. Eu tê-lo-ei descoberto provavelmente nalguma das minhas incursões pelo Youtube. Sendo sincero, não me recordo. O que me atraiu na sua figura foi o pioneirismo que encabeçou, assumindo-se como homossexual muito antes de que outras figuras públicas o fizessem, e a morte trágica por que passou.
 
    Em 1987, no talk-show da comediante Joan Rivers, Sylvester anunciou que se iria casar com um homem. Uma revelação bombástica e ousada para a época, como se depreenderá. Por um terrível infortúnio, Sylvester viria a falecer no ano seguinte, em 1988, vitima de complicações decorrentes do VIH/SIDA.
 
   Sylvester, que se recusava a ver a si mesmo como drag queen (a Joan Rivers, quando confrontado com o rótulo, exclamou somente: "I'm not a drag queen. I'm Sylvester!"), será mais conhecido pelo seu sucesso musical de finais dos anos 70, que ainda hoje é um dos maiores êxitos das pistas de dança. Falo-lhes de You Make Me Feel (Mighty Real). A partir de então, a carreira de Sylvester não conheceria outro sucesso tão estrondoso, muito embora o cantor tenha gravado vários álbuns até ao final da sua vida. O último dos quais foi Mutual Attraction, de 1986, que justificou então a comparência do performer no programa de Rivers, por forma a promover o trabalho.
 
Sylvester, algures por 1986
 
    Não há muito material de Sylvester na internet. Tive imensa curiosidade em ver entrevistas suas no Youtube e nada encontrei. A única que há, a Joan Rivers, mostra uma pessoa feliz, delicada no trato e na postura, profundamente enamorada do seu companheiro, Rick Cranmer. Aliás, outro facto caricato é que Sylvester acabou por revelar, à nação americana, a sexualidade do seu parceiro, arrancando risadas da plateia e proporcionando uma brincadeira de Rivers. Por aqueles dias, estávamos na passagem de ano de 1986 para 1987, e Cranmer, o companheiro de Sylvester, já se sabia doente de VIH. Morreria ao largo de 1987. A Sylvester, entretanto, ao menos não parecia haver qualquer inquietude. Vislumbra-se apenas uma pessoa que se diverte em palco, confortável na sua pele e na sua sexualidade, vivendo uma história de amor.
 
    Sylvester, que foi uma das primeiras pessoas a falar do VIH e a actuar na recolha de fundos para a doença, sucumbiria dela. É fatídico. Foi a triste realidade de muitos homossexuais, transexuais, travestis e por aí fora naqueles tempos. Sem qualquer medicação realmente eficaz e sob um enorme preconceito social, o único caminho era a união de todos os que por aquela tormenta passavam. Recorde-se que Ronald Reagan só falara pela primeira vez da SIDA (AIDS, em inglês) um ano antes, em 1985, após a morte de Rock Hudson, um conhecido actor que inclusive pertencia ao núcleo de amigos do Presidente. O desconhecimento acerca da doença imperava.
 
    Julguei conveniente dar-lhes a conhecer um artista que não devia ser tão ignorado quanto presumo que seja.

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