7 de julho de 2020

Tempos difíceis.


     Andava eu perdido nas minhas memórias, hoje à tarde, e dei por mim a reflectir no quão dramático tem sido este século, logo desde 2001, com o ataque ao World Trade Center. No mesmo ano, mais tarde, a Guerra do Afeganistão. Em 2002, tivemos o desastre ecológico aqui na Galiza. No ano seguinte, a invasão do Iraque. Em 2004 e 2005, mais ataques jihadistas na Europa, em Londres e Madrid. Perdi-me. Sei que, pelos anos seguintes, tivemos a intervenção na Líbia, ataques em Paris, na Bélgica, uma crise económico-financeira global que nos levou à bancarrota e à intervenção externa... Um sem-número de peripécias. Não bastando, agora, uma pandemia de um vírus misterioso. Ontem mesmo, li sobre ameaças de surtos de peste negra na China, uma doença bacteriana que actualmente é facilmente curável. Aonde iremos parar?

    Há um ano por estes dias, imaginávamos que estaríamos assim? De máscaras sanitárias na cara e gel nas mãos (e que tanto pão têm dado a comer a quem vive disso)? Temos mais do que razões para temer o futuro próximo. O apocalipse, retratado na sétima arte e na literatura, cada vez mais é uma fantasia que assumimos como possível, vistas as coisas. Não querendo ser fatalista, que epidemias, crises e guerras houve muitas, o que temos, efectivamente, é a escalada galopante na sucessão de acontecimentos. E ainda só levamos vinte anos! Nas guerras, dispomos hoje de arsenal bélico capaz de destruir o planeta em menos de nada. As crises levam ao endividamento praticamente crónico das famílias, ao surgimento de bolsas de pobreza que torturam as pessoas e as impedem de competir num sistema tão exigente, impiedoso e avassalador. As doenças, bom, pense-se no globalismo e na facilidade com que qualquer vírus, à mercê da democratização no acesso às viagens, tem de se propagar de um continente para o outro e o outro em poucas horas.


  Acreditávamos -os que perdiam tempo com isso- que provavelmente desapareceríamos como os dinossauros, devido ao impacto de um meteorito; quiçá quando o Sol deixasse de consumir hidrogénio, aumentasse de tamanho e, por fim, explodisse e engolisse a Terra; ou ainda com o dito aquecimento global, que inviabilizaria a manutenção da vida tal qual a conhecemos. Afinal, a hipótese parcamente especulada de doença pandémica começa a ganhar forma. Quando surge uma doença nova, multiplicam-se as exigências de vacinas. E se elas nem sempre chegarem? Veja-se o VIH/SIDA, cuja cura foi dada como garantida durante anos, e que só ao fim de mais de 30 milhões de mortos conseguimos torná-la crónica, não obstante, com todos os condicionamentos.

   De um lado, gozamos de liberdade como nunca antes se vira. Saímos e gostamos de sair. Vivemos melhor, o que se traduz em férias que os nossos avós nem sonhariam, idas a restaurantes, bares, ginásios. Do outro, é bastante provável que tenhamos de aprender a viver com restrições, mais isolados. É nesse confronto e nessa contradição -liberdade e reclusão?- que se jogará a nossa sobrevivência.

1 comentário:

  1. Infelizmente vivemos numa realidade que é, em vários aspectos, bastante imprevisível. Algumas das coisas que mencionaste passaram um pouco ao lado da maioria de nós porque não influenciaram muito a nossa maneira de ser, o nosso dia-a-dia. Outras mexeram um pouco mais connosco porque tiveram repercussões maiores, como é o caso da crise económica. E agora sim, esta crise pandémica veio mostrar que ninguém está a salvo e que não podemos ter nada como garantido pois a qualquer momento pode surgir algo que nos tira o chão. Esse sentimento de insegurança é algo que me tem feito alguma impressão nos últimos tempos.

    Tentamos manter pensamento positivo, mas na realidade, nem todos os dias ou nem em todos os momentos do dia, se consegue abstrair da nova realidade a que temos de nos acostumar.

    Boa sorte para todos nós!

    Abraço.

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