Que Trump é uma besta quadrada, nunca suscitou dúvidas. Um homem com cara e modos de pedreiro - com todo o respeito pelos pedreiros - que tem dinheiro a mais e a quem foi confiado, pelos seus compatriotas não muito mais ajuizados, o destino da nação mais poderosa do planeta, e o nosso, indirectamente. Só a mediocridade intelectual poderá justificar que se ameace um país como Trump o fez, numa atitude que, salvo erro, não tem paralelo na diplomacia: arrasar com o património arquitectónico e cultural. A mediocridade intelectual a que se junta, quiçá, a falta de história e de memória.
Este gesto, inaudito, reportou-me aos talibãs e há uns anos idos, quando ameaçaram - e cumpriram! - destruir dois budas milenares esculpidos em rocha no Afeganistão, deixando-nos a todos mais pobres. Naquele caso, património da humanidade desapareceu. Hoje, não resta mais do que as inscrições em pedra, os contornos de dois símbolos que resistiram ao tempo, à acção da Natureza, mas não à crueldade e insensatez dos homens. Nem os nazis chegaram a tanto, quando ocuparam Paris e se falou na destruição da Torre Eiffel, designadamente.
Não há da minha parte qualquer simpatia pelo regime teocrático iraniano. Não compactuo com tiranias que submetam as pessoas e as suas liberdades. Vejo, entretanto, a desproporção de forças e de meios. E vejo a ingerência desmedida dos EUA nos assuntos internos de outros países. Julgam-se os justiceiros. Propõem-se a dar soluções, porém, quando agem, tornam o mundo num local bastante mais inseguro. Foi assim com o Afeganistão, com o Iraque, com a maioria dos palcos de guerra que criam e alimentam.
A cristandade vive a paredes meias com o islão. Estas guerras não são religiosas, são políticas, e transformam-se em religiosas porque lhes subjaz um antagonismo milenar. Há dois blocos claros: o dos EUA (e aliados) e o dos países islâmicos. É quase uma repristinação da cena política que tínhamos antes de 1991, mudando apenas um dos actores.
A reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, infinitamente adiada, ajudaria, talvez, ao equilíbrio - não faz sentido que a cúpula da ONU seja o reflexo da conjuntura vitoriosa emergida da II Guerra Mundial. Nós não queremos mais viver naquele clima de insegurança, de suspeição e de permanente tensão. Eu não o conheço, não vivi a Guerra Fria, e desde 2001 que temos a espada de Dâmocles sobre a cabeça, sempre com um novo atentado terrorista à espreita.
Quando se fala tanto em sustentabilidade ambiental para as próximas décadas, que ideia de futuro temos com tamanha hostilidade entre as nações? Não estaremos a descurar outras prioridades? De que adianta procurar reverter os malefícios que durante décadas causámos ao planeta se tão-pouco conseguimos coabitar cordialmente, no respeito pelas culturas, patrimónios, idiossincrasias, soberanias?
Parabéns pela contextualização!
ResponderEliminarObrigado, meu amigo.
EliminarVerdade!! O Ser Humano mal apareceu nestes anos todos de existência do planeta e quase que quer acabar com ele... Tudo para ver quem tem a pilinha maior dassssssss
ResponderEliminarAbraço amigo
Um abraço, amigo.
EliminarTrump é um mentecapto e, na sua obtusidade, julga que os outros não vêem o que está por detrás desta operação. É uma criatura primária e sem qualquer respeito pelas outras culturas e povos.
ResponderEliminarÉ uma ação verdadeiramente digna dele, que é indigno de pertencer à raça a que, afinal, todos pertencemos.
Quer convencer os americanos a votar nele na reeleição. E, como nunca se pode adivinhar o que este povo meio tonto vai fazer (afinal elegeram-no), talvez até tenha sucesso. Cometer o erro uma vez é grave, duas seria ... catastrófico.
Não sinto qualquer simpatia pelo regime iraniano, mas é algo que devemos respeitar, se na verdade queremos ser respeitados da mesma forma.
Os iranianos são governados por um poder de índole religiosa radical, com caraterísticas totalitárias e castrantes (o mundo feminino, sobretudo, que o diga), mas se quem lá vive está de acordo com o que tem, ou se o permite, quem sou eu para mandar matar sem quem for. Passa a ser o "olho por olho, dente por dente" a acompanhar um total desrespeito pelas populações.
Imagine-se que a Rússia ou a China teriam sido responsáveis por esta ação (com certeza são responsáveis por muito mais do que isto, mas não me parece que o espalhem aos quatro ventos, nem assumem a ação de uma forma tão orgulhosa, como o fez este mentecapto), então todo o mundo ocidental condenaria, teria caído em cima deles, chamando-os disto e daquilo e exigindo reparação.
Estariam na razão, claro, mas sendo os EUA, ficam algo calados e, diplomaticamente (porque têm "o rabo preso"), tornam-se neutrais, fazendo de conta que nem sequer sabem do que se trata. Não condenam mas não apoiam ... hipocrisia pura e simples. Ainda ficam admirados porque é que a classe política é tão pouco credível e vilipendiada ... então não o merecem????
Os movimentos antagónicos existem, como vemos na comunicação social, mas são tíbios e desvalorizam-se.
"Shame on them", como diria a sueca!
Mais uma vez saliento que não sinto qualquer simpatia pelos iranianos ou pelo seu regime, mas há limites para as regras de convivência.
Uma boa semana
Manel
Olá, Manel.
EliminarSim, e Trump ainda lida com a tal vontade de se avançar com um impeachment. Bom, também se diga que a esquerda política, que domina cultural e socialmente, quer derrubar todos os que se lhe oponham. Fala-se no impeachment a Trump como se fala para Bolsonaro. Dois ogres, é verdade, mas do mal o menos. Com Trump é que não simpatizo mesmo nada. Acho-o detestável. Há dias, um amigo chamou-lhe, hilariamente, "estalajadeiro". Ri imenso.
Foi um golpe baixo, foi.
Uma boa continuação de semana.