15 de janeiro de 2020

Da delinquência.


   Soubemos, na semana passada, de dois homicídios brutais, um em Lisboa e o outro a norte, em Bragança. Dois homicídios num espaço de tempo relativamente curto entre si, e ambos envolvendo jovens e etnias diferentes. Num caso, um português de vinte e quatro anos assassinado por três guineenses; no outro, um rapaz cabo-verdiano assassinado, aparentemente, por jovens caucasianos. Estes dois casos causaram um enorme alarde junto da opinião pública, tendo sido até, quanto a mim, e sobretudo no que diz respeito ao último, instrumentalizados. Houve manifestações ruidosas, declarações precipitadas, quando é às autoridades (OPC) que compete investigar.

  Creio que nos afastámos do essencial. Andámos a discutir qual o pior dos crimes, como se houvesse um homicídio mais censurável do que o outro, e sinto que é pecado comum, mudando apenas as motivações, os lados da barricada. Facto é que perdemos dois jovens, dois jovens que estudavam e que, findo o percurso escolar, académico, seriam uma mais-valia para a comunidade. Facto ainda que os perdemos barbaramente, por motivos torpes, o que nos deverá levar a uma reflexão sobre os brandos costumes, apregoados há décadas e muito fomentados por Oliveira Salazar, que talvez já não sejam tão brandos assim - quanto aos crimes passionais e à violência doméstica, nunca o foram.

   No crime do Campo Grande, ou Cidade Universitária, como queiram, que foi cometido ali entre a Faculdade de Ciências da UL e o Campo Grande, há muito que se pede mais policiamento no local. Por experiência pessoal, os jardins traseiros da Faculdade de Direito albergam actividades sexuais e movimentações de pessoas estranhas ao campus universitário. O sentimento de insegurança não é recente. No crime de Bragança, fundamental é que se deixe a investigação prosseguir sem quaisquer pressões. Ouvi que a polícia descartava a hipótese de um crime racial. Nem todos os crimes que envolvam negros e brancos são raciais. Um negro pode ser vítima de um crime praticado por brancos, e vice-versa, sem que lhe subjazam motivações de índole racial. Temos de o ter conta, como temos de ter em conta que o racismo não é unidireccional. Não podemos, não devemos, minorar os casos de racismo que atinjam caucasianos mascarando-os de classismo e de revanchismo. Todos os crimes motivados pela cor ou etnia da vítima, sejam elas quais foram, são crimes de ódio.

   André Ventura garante que temos um problema com algumas minorias. Temo-lo, sim. E sabemos onde. Os três guineenses são oriundos de uma freguesia dos arrabaldes de Lisboa conhecida pela marginalidade e exclusão social. Todo aquele concelho, de resto. Sabemos onde estão estes focos de violência e de criminalidade. Falta-nos agir sem medo da retórica instituída. E devemos, de seguida, ponderar a nossa política de imigração. Quando temos conhecimento de que a taxa de natalidade desce para mínimos históricos, de que o nosso país é o mais envelhecido da Europa Ocidental, de que temos (e teremos cada vez mais) uma das maiores esperanças de vida, que Portugal estamos a criar? Um Portugal mais instável, mais perigoso? Esperava-se que houvesse uma política clara de incentivo à natalidade, e não à imigração. Pelo contrário, perdemos jovens prometedores que não encontram oportunidades nas suas cidades e que levam todo o seu potencial lá para fora. Somos cada vez menos e mais velhos, e aos poucos jovens resta emigrar. Não me oponho, por tendência, à imigração, da mesma forma que tão-pouco a defendo e estimulo. O país é pequeno, tem debilidades, fragilidades várias, e cabe-nos dar primazia aos portugueses.

   Veremos se estes dois casos não irão comprometer o nosso lugar na lista do Índice Global da Paz deste ano.

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