23 de julho de 2020

Amália, o centenário.


   Assinala-se, hoje, o centenário de Amália Rodrigues. Desde o dia 1 de Julho, decorre um ciclo de espectáculos, iniciativas e encontros evocativos do legado da Rainha do Fado que, pelos próximos doze meses, dará a conhecer mais da faceta pessoal e artística do nome maior que Portugal, pelas artes musicais, exportou.

   Como se tal fosse determinante na avaliação do seu percurso, discute-se actualmente qual a verdadeira convicção política de Amália. Mais uma evidência de um país minúsculo (em todas as acepções) que ainda não está em paz com o seu passado. Certo e relevante é que Amália conseguia chegar aos corações de todos quantos a ouviam, independentemente de idiomas e proveniências. Foi assim com soviéticos e japoneses, emocionados sem entender nada daquilo que a cantora exprimia nas suas actuações. Dispensam-se atitudes redutoras, e nem Amália as merece.




   Por um tempo, houve quem se intitulasse herdeiro de Amália. Verdade se diga, muitas vezes o rótulo era-lhes atribuído sem qualquer manifestação de mera intenção das suas partes. Amália, entretanto, foi mais do que o género musical; Amália foi -é- a personificação do fado. Não deixou descendência. 

  Recordamo-la não apenas pela sua voz, única, como pela sua graciosidade espontânea e postura pública. Amália era toda uma persona singular, nos trejeitos, nas gargalhadas, nos trajes, sem nunca ter perdido a humildade e inclusive ingenuidade de menina que cantarolava e encantava os bairros de Lisboa enquanto vendia laranjas com a mãe e os irmãos.

   Da minha parte, descobri-a no dealbar de uma adolescência que se viria a verificar terrível, e, longe de enjeitar tudo o que fosse popular e nacional, deleitava-me ao som dos belíssimos poemas que entoava, alguns escritos por si. Seria injusto nomear canções. Nas palavras de um dos seus poetas favoritos, David Mourão-Ferreira, os mais belos versos cantados por Amália eram aqueles que haviam saído do seu punho. Uma faceta de cançonetista que muitos desconhecem.

   Amália, enfim, um nome irrepetível que soará para sempre nos nossos corações.

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