Nos dias que correm, as redes sociais dispõem de um poder decisivo, exponenciando os assuntos, tornando-os virais e afastando-nos das soluções. Da moda das hashtags às reivindicações de justiça popular, instantaneamente morrem sem deixar rasto, como se milhões de publicações houvessem solucionado os problemas. É o que ocorre com o afro-americano assassinado recentemente.
Por momentos, julguei que voltara aos anos 60 e à luta de Luther King pelos direitos dos negros. Os EUA mantiveram, por décadas, leis raciais duríssimas que faziam impender aos negros uma situação social e jurídica intolerável. As leis mudaram, é certo, mas o preconceito ficou lá. É quase anacrónico falar-se de um racismo tão evidente. O racismo persiste, sobretudo o racismo dissimulado, o racismo do comentário abafado e desdenhoso, o racismo de bastidores, aquele a que o império da lei não chega porque nem conseguiria chegar.
Não consigo evitar abordar uma temática tão apaixonante no que a Portugal diz respeito. Eu diria que não há um racismo predador em Portugal. Haverá, quando muito, um paternalismo. O português, pelos tempos, julgou-se o tutor do corpo (e das almas...) daquelas pessoas. Esse paternalismo, evidentemente, comporta um sentimento mais ou menos presente de superioridade rácica, embora o português tenha sabido conviver com aqueles povos, miscigenando-se e, na maior parte do casos até, virando costas à Europa, constituindo família por lá. Daí que mereça a pena enquadrar o racismo nas suas diversas vertentes: o racismo não se consubstancia apenas no acto vil de se tirar a vida de alguém pela sua cor da pele; o racismo também se verifica quando julgamos que a nossa cor de pele, a nossa origem, nos dá qualquer ascendente sobre outrem, ainda que estejamos munidos das melhores intenções. O caso português será este último.
No caso dos EUA, o racismo está relacionado com a própria existência da nação americana, porquanto o esclavagismo negro esteve subjacente à Guerra da Secessão. Nos estados do sul, as atitudes hostis contra as comunidades negras continuam. As raízes do preconceito racial naquele país são demasiado profundas. Levar-se-ão décadas para que o americano médio do sul entenda que o vizinho negro é tão americano quanto si próprio, e que a América branca terá de conviver com a América negra e a América hispânica. Acrescente-se ainda que os EUA terão herdado uma prática social e racial inglesa bem mais dura com os povos nativos do que a portuguesa ou a espanhola. Caso disso é o Brasil, onde a mistura das componentes europeia, africana e indígena é notoriamente maior.
A aplicação escrupulosa da lei ajudará a demover o cidadão do crime por motivos rácicos. O endurecimento da legislação também. Contudo, uma vez mais, a educação desempenhará aqui um papel decisivo. De pouco valerá ter espelhada na lei determinada concepção ética valorativa quando, nas famílias, se transmite a ideia de que a nossa cor nos faz especiais.
Por momentos, julguei que voltara aos anos 60 e à luta de Luther King pelos direitos dos negros. Os EUA mantiveram, por décadas, leis raciais duríssimas que faziam impender aos negros uma situação social e jurídica intolerável. As leis mudaram, é certo, mas o preconceito ficou lá. É quase anacrónico falar-se de um racismo tão evidente. O racismo persiste, sobretudo o racismo dissimulado, o racismo do comentário abafado e desdenhoso, o racismo de bastidores, aquele a que o império da lei não chega porque nem conseguiria chegar.
Não consigo evitar abordar uma temática tão apaixonante no que a Portugal diz respeito. Eu diria que não há um racismo predador em Portugal. Haverá, quando muito, um paternalismo. O português, pelos tempos, julgou-se o tutor do corpo (e das almas...) daquelas pessoas. Esse paternalismo, evidentemente, comporta um sentimento mais ou menos presente de superioridade rácica, embora o português tenha sabido conviver com aqueles povos, miscigenando-se e, na maior parte do casos até, virando costas à Europa, constituindo família por lá. Daí que mereça a pena enquadrar o racismo nas suas diversas vertentes: o racismo não se consubstancia apenas no acto vil de se tirar a vida de alguém pela sua cor da pele; o racismo também se verifica quando julgamos que a nossa cor de pele, a nossa origem, nos dá qualquer ascendente sobre outrem, ainda que estejamos munidos das melhores intenções. O caso português será este último.
No caso dos EUA, o racismo está relacionado com a própria existência da nação americana, porquanto o esclavagismo negro esteve subjacente à Guerra da Secessão. Nos estados do sul, as atitudes hostis contra as comunidades negras continuam. As raízes do preconceito racial naquele país são demasiado profundas. Levar-se-ão décadas para que o americano médio do sul entenda que o vizinho negro é tão americano quanto si próprio, e que a América branca terá de conviver com a América negra e a América hispânica. Acrescente-se ainda que os EUA terão herdado uma prática social e racial inglesa bem mais dura com os povos nativos do que a portuguesa ou a espanhola. Caso disso é o Brasil, onde a mistura das componentes europeia, africana e indígena é notoriamente maior.
A aplicação escrupulosa da lei ajudará a demover o cidadão do crime por motivos rácicos. O endurecimento da legislação também. Contudo, uma vez mais, a educação desempenhará aqui um papel decisivo. De pouco valerá ter espelhada na lei determinada concepção ética valorativa quando, nas famílias, se transmite a ideia de que a nossa cor nos faz especiais.
Uau! Palmas para sua reflexão. Acredito que o ódio e a supremacia tem dominado a sociedade atual. Temos que conviver com nossos semelhantes de forma pacífica. Somos todos seres humanos.
ResponderEliminarBom fim de semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia
Racismo estrutural em Portugal. Forte.
ResponderEliminarE o privilégio branco em que crescemos dificulta a sua visibilidade no nosso seio.