Na semana em que deambulei pela zona centro do país, não resisti a entrar nas livrarias dos monumentos - dizia-me um rapaz, há dias, que os livros eram muito caros nas livrarias dos monumentos. Pergunto: em que local do país os livros não são caros? A cultura, em Portugal, sempre foi um sector sujeito às maiores contenções e vicissitudes. Certamente se recordarão do governo (não me lembro se do PS ou do PSD, mas isso não vem ao caso) que prescindiu de um Ministério da Cultura…
Os Históricos e Religiosos |
Literatura e Ciência Política |
Sucede que se proporcionava comprar os livros ali, naquele momento, e adiar só faria com que perdesse a oportunidade. Comprei dezassete volumes ao todo, entre Literatura (com Poesia), livros de História (com Biografia), Religião e Ciência Política. Ao certo, embora tenha guardado os recibos, não sei em que locais específicos comprei cada um; entretanto, uns foram adquiridos ainda em Lisboa, numa livraria do Príncipe Real, outros em Alcobaça e na Batalha; os religiosos, no Santuário de Fátima e, finalmente, alguns em Évora.
Deixo-lhes os títulos e as fotos:
Literatura
Contemporânea:
- Amada Vida, de Alice Munro, das edições Relógio d'Água;
- Viagens, de Olga Tokarczuk, das edições Cavalo de Ferro;
Clássicos:
- Os Irmãos Karamazov (2 volumes), de Fiódor Dostoiévski, das edições Editora 34:
- Ilíada, de Homero, das edições Quetzal;
Poesia:
- Antologia da Poesia em Galego, de Ricardo Carvalho Calero (compilação), das edições Através Editora;
História
Biográficos:
- Salazar, de Filipe Ribeiro de Menezes, das edições Dom Quixote (LeYa);
- Henrique, O Navegador, de Peter Russel, das edições Livros Horizontes;
Históricos:
- História da Expansão e do Império Português, de João Paulo Oliveira e Costa (coordenador), João Damião Rodrigues e Pedro Aires de Oliveira, das edições Esfera dos Livros;
- História de Portugal, de Rui Ramos (coordenador), Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, das edições Esfera dos Livros;
- Dois Países, Um Sistema A Monarquia Constitucional dos Braganças em Portugal e no Brasil (1822-1910), de Rui Ramos, José Murilo de Carvalho e Isabel Corrêa da Silva, das edições Dom Quixote (LeYa);
- Portugal Medievo & Os Filipes, de António Borges Coelho, das edições Caminho (LeYa);
Religião
- Lutero, Palavra e Fé, de Joaquim Carreira das Neves, das edições Editorial Presença;
- O Projeto «Portugal» e a Relação Estado-Religião à Luz da Metáfora Conjugal, de Rui A. Costa Oliveira, das edições Paulinas Editora;
- Compêndio da Doutrina Social da Igreja, do Conselho Pontifício «Justiça e Paz», das edições Principia;
Ciência Política
- Hegel e o Estado, de Franz Rosenzweig (tradução brasileira por Ricardo Timm de Souza), das edições Editora Perspectiva;
Como se verifica, trata-se de um conjunto muito diversificado de temas e autores. Procurei, até porque a oferta não era muita, trazer o melhor, dentro daquilo que mais interesse me suscitava.
Terei muito com que me entreter pelos próximos meses….
O conjunto de livros que adquiriu é significativo para se ter numa biblioteca, pois apresentam diversas tendências, que é o que se pretende. As nossas bibliotecas não deveriam ser unilaterais nem apresentar tendências hegemónicas ou consensuais, antes devem levar à pesquisa proveniente de antagonismos saudáveis e discussões ilustradas e baseadas em opiniões que saíram de leituras díspares, mas fundamentadas. E devem ser diversificada. Que monotonia visitar uma biblioteca dedicada exclusivamente à ciência médica!!!! Ou a documentos jurídicos, ou só dedicado à disciplina de Estruturas, na Engenharia Civil … até me dá calafrios imaginar a situação!!!
ResponderEliminarPelo menos, esta diversidade seria uma das bases, ideal, claro, de formação de uma biblioteca. Não é o caso da minha, que não tem esta capacidade, nem eu tenho espaço para perfazer tal objetivo. Mas confesso que gostaria! Há lá coisa melhor que passar uma tarde de chuva dentro de uma biblioteca!!! Ou uma noite tranquila na pesquisa.
As suas compras de literatura histórica são as que mais me agradam, por serem as minhas preferidas. A História de Portugal que mais utilizo, e tenho várias, acaba por ser a coordenada por José Mattoso. Mas continuo a ler de forma afincada a História de Portugal de Alexandre Herculano, no que toca à nossa 1ª dinastia, a que mais interessante me parece, e cuja leitura se coaduna com o processo de pensamento que tenho por mais lógico. É sempre discutível, claro, mas temos de ter linhas mestras para nos guiar na procura pela nossa história.
Nutro também um gosto especial pela temática que aborda o processo de passagem da dinastia de Avis para a dos Habsburgos, e que os nossos vizinhos denominam como de Áustrias.
Tenho alguma literatura neste sentido, assim como da ida/fuga da corte portuguesa para o Brasil no início do século XIX, quando os infames Bragança fogem perante a invasão francesa. São períodos que me interessam especialmente, e que, com o tempo, acabei por estabelecer juízos próprios nestas causas.
Sobre a personalidade/regime de Salazar descrita por Menezes, tenho algumas dúvidas sobre aquilo que ele nos apresenta.
No entanto, ele tenta ser desapaixonado nos juízos, e procura realizar uma obra credível sobre um regime/homem por forma a não transformá-lo nem num panegírico, nem num anátema ao período dominado por Salazar.
Tenta uma análise mais documentada e fria, o que muito agradeço ao escritor, pois não há grandes tentativas deste sentido na nossa literatura contemporânea.
Há sempre a tendência de cair ou numa bajulação, ou num saudosismo bacoco ou ainda numa visão do homem como uma profanação diabólica que nos caiu em cima. É necessário que a visão sobre este homem, tão importante no século XX português, seja desassombrada e esclarecida, para que seja colocado no sítio certo e não nos coloque dentro de uma camisa-de-forças que nos tolhe os movimentos e não nos permite ver o país como um todo, com mais de oito séculos de existência.
A vida de Henrique o Navegador é difícil de clarificar pois é um personagem envolto em mistério, nem sequer se sabe ao certo onde nasceu, apesar de muitos o pretenderem colocar no Porto. Tudo o que se escreveu sobre ele não é consensual, e a sua figura tanto nos pode apresentar um herói da nossa talassocracia, como um vilão que, a frio e cruelmente, invocando razões de estado, foi sendo sempre de opinião que Ceuta não deveria ser devolvida em troco da vida do irmão Fernando. Claro, estávamos a guardar Ceuta para a dar de presente a Filipe II e aos espanhóis, no século XVI, até hoje ...
ResponderEliminarE incomoda-me a fixação deste homem (e não menos a de D. Sebastião) pelas conquistas aos sarracenos, pois tentou muitas vezes propor-se como comandante de um exército português para ajudar os espanhóis na tomada de Granada, o que os reis católicos, prudentemente, sempre declinaram. E a conquista das ilhas Canárias foi sempre um espinho na sua carne, e que nunca o deixou até morrer. Se fosse hoje, seria denominado como um dos extremistas e radicais a combater pela fé cristã de forma muito pouco positiva, formando a sua própria Intifada.
Mas concordo que é um personagem apaixonante e digno de figurar em qualquer biblioteca de história que se preze.
Quanto ao Dostoiévski, foi algo que li na minha adolescência, a escondidas do meu pai, claro, que achava que ler qualquer russo seria um crime capital, nem que ele estivesse enterrado no passado czarista. Russo é "vermelho", seja lá de que época fosse, e podia colocar ideias "vermelhas" na minha imaginação "impressionável" de adolescente!!!! Há sempre extremismos em qualquer classe da sociedade, em qualquer fase da nossa história.
A Íliada, que ninguém sabe muito bem se seria de Homero ou não, pois coloca-se hoje em dúvida esta paternidade, foi algo que descobri muito jovem. Não li a obra em versos, mas antes a história da História, que é fascinante, e imprescindível para a compreensão da civilização grega, e sobretudo para a sua arte. Muita da pintura e da escultura clássica seriam incompreensíveis sem esta leitura. Sempre me maravilharam sobretudo as pinturas da cerâmica grega, e um dos temas, várias vezes interpretado na pintura, nunca cessa de me fazer ficar muito impressionado, trata-se da história de Pentesileia e de Aquiles.
Fico muito impressionado com esta parte da Ilíada. Vale a pena conhecer as versões passadas para a arte, deste acontecimento.
Espero que tenha tido voas viagens e continue, pois é assim que a formação duma pessoa fica completa
Manel