25 de setembro de 2019

One Taxi Ride.


   «A veces pienso que si no hubiera subido a ese taxi, no habría sucedido esto, pero en México tenemos un dicho que dice: "Si no lo hubiera hecho no existe".»


   One Taxi Ride é um documentário sobre dor, vergonha, culpabilização e medo que anda a agitar os ecrãs de cinema do México. Erick, aquele rapaz de visual andrógino, tem uma excelente família, e sempre o soube. Embora tenha passado por um terrível incidente que lhe deixou marcas físicas (infecção por HIV) e psicológicas, ter uma mãe, e sobretudo irmãos, que querem saber e se preocupam, é uma dádiva da qual nem todos podem desfrutar.

  Erick, pela sua instabilidade emocional, por parecer volátil nos relacionamentos amorosos, leva-nos, numa primeira análise, a alguma apreensão, mas quando atentamos no seu percurso difícil - ausência de uma figura paterna, abuso sexual seguido de um diagnóstico de seropositividade - apercebemo-nos de que poucos conseguiriam ter um percurso rectilíneo e coerente após tamanhas provações.




   O tom intimista e familiar do documentário conferiu-lhe credibilidade. Aquelas pessoas despojaram-se de capas. Choraram quando acharam que deviam chorar, sem que a lágrima tenha sido forçada. Não senti que tenha havido "encenação". Erick e a família perceberam que o seu testemunho certamente que ajudaria milhares de mexicanos na mesma situação. Quando alguém é vítima de um abuso sexual, ou seja lá que abuso for, a culpa jamais é da vítima. Para um homem, o caso de Erick, para mais homossexual, é duplamente difícil encarar a as autoridades, a família, a sociedade, porque ao medo juntam-se a vergonha e o preconceito. "Como é que um homem pode ser violado?", diz um irmão de Erick a determinado momento. Uma pergunta que assolará a muitos, que não concebem que um homem nem sempre é forte, corajoso, destemido.

     Numa cultura latina profundamente machista, não há dados sobre quantos homens são violados e sobrevivem no México. São estatísticas que não importam, realidades que se chutam para debaixo do tapete. Mais uma razão que justifica que um documentário tão pessoal quanto este seja exibido em vários festivais ao redor do mundo, desde logo em "casa", no festival de Guadalajara, onde fez sucesso.

5 comentários:

  1. UAU, este é o meu estilo/género.
    Está disponível na HBO ou Netflix?
    Obrigado.
    Abraço,
    P.

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    1. Não faço ideia. É uma questão de pesquisares. :)

      És o P.?

      Um abraço.

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    2. Insensato, nome do blogue.
      P. inicial do meu nome. ;)
      Abraço rapaz.
      P.

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    3. Sim. Eu sei. A pergunta surgiu porque havia um senhor que vinha habitualmente ao meu blogue e que se identificava pela inicial "P.". A minha pergunta era no sentido de saber se tu eras ele.

      Um abraço.

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    4. Não, Mark. Regra geral assino com o nome próprio.
      Só mesmo o ambiente inusitado que se vive em algumas escolas, levou-me a adotar as iniciais. Mesmo assim, são iniciais.
      Já andei por aqui há uns 10 anos. Não sei se na altura já tinha WordPress. Entretanto, o cancro lançou a sua rede nos meus pais, bem como a doença de Alzheimer na minha avó. Num ápice, tornei-me cuidador informal, órfão de pai...
      Abraço,

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