26 de setembro de 2019

And Then We Danced.


   «Não há sexualidade na dança georgiana. Isto não é a lambada.»



  And Then We Danced é um filme novo sobre preconceitos antigos. Ambientado na Geórgia, conta-nos a história de um rapaz, bailarino, o protagonista, que se vê confrontado com a sua orientação sexual em colisão com os valores da sociedade georgiana. Ser-se homossexual, por lá, é ser-se alvo de repressão social, em âmbito familiar, profissional e escolar. Quando descoberto, a um homossexual não resta mais do que ser confinado algures, à força. Conseguindo escapar, tem as ruas de Tbilisi para se prostituir - e vemo-lo suceder a um aluno da companhia, cujo fatalismo paira sobre a cabeça de Merab.

  Esta longa-metragem sueca e georgiana não se ocupa de maneira diferente daquilo que já conhecemos: a discriminação, os desamores, a moça que fica pendurada, apaixonada que está pelo amigo gay. O que torna este filme especial e atractivo é toda aquela mística que a dança e a música tradicionais, os costumes e a religião ortodoxa lhe conferem. Nesse sentido, a fotografia e os planos conseguem extrair das cenas aquilo que os actores e a atmosfera envolvente, quer ao nível da paisagem, quer ao nível dos cenários e do guarda-roupa, têm para dar.




    A sociedade georgiana é tão tradicional quanto a russa e outras que dividem o mesmo âmbito geográfico. Pede-se a um bailarino que seja másculo, que os seus passos reflictam a virilidade dos povos do leste. Ora, Merab não se enquadrava nesse arquétipo pré-definido. Movimentava-se elegantemente, embora com firmeza. Como o irmão lhe disse, o seu lugar não era naquela sociedade ainda tão pouco disponível e preparada para aceitar que nem sempre homens gostam de homens e mulheres de mulheres. E já que me lembrei do irmão de Merab, que parece um rufia, um pinga-amores, um ingrato, o argumento troca-nos as voltas quando o sujeita a defendê-lo e à sua honra, e o último diálogo trocado por ambos é de um carinho e compreensão que não julgaríamos possível.

   A última dança de Merab é um grito de liberdade. Merab choca o professor e o outro manda-chuva da companhia de bailado georgiana com a sua dança provocativa. O momento em que a arte enfrenta o moralismo, o preconceito. Já não lhe importava se conseguiria ou não ser o escolhido - havia apenas uma vaga. A sua dor física, no pé que sangrava, aliava-se à dor que sentia pelo abandono de Irakli. Serviram-lhe aqueles minutos para exorcizar o que o atormentava e para se provar que conseguia superar-se.

   Merab é o rosto da pureza, da candura. O seu amor por Irakli é tão bonito quanto inocente, e ele transporta para toda a narrativa essa aura de beleza e espontaneidade, nos pequenos toques, nos pequenos gestos, nos sussurros, nos olhares de soslaio e nos sorrisos, nos diálogos afectuosos com a avó, mas também nas brincadeiras com os amigos, quando corre para apanhar o transporte público ou quando dança eroticamente para o seu novo colega.

2 comentários:

  1. O melhor filme que vi até agora, também não vi muitos ehehehehhehe

    abraço

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