4 de setembro de 2019

A II Guerra Mundial vista de cá, nos seus oitenta anos.


   Há oitenta anos, por estes dias de início de Setembro, a França e o Reino Unido, na sequência da invasão da Polónia, declaravam guerra à Alemanha. Tinha início o maior conflito de sempre da história da humanidade, aquele que mais vítimas civis e militares provocou, e provavelmente o que mais impacto teve na geopolítica do planeta. As suas causas, desenvolvimentos e consequências já foram sobejamente alvo da atenção de analistas e politólogos. Fala-se pouco, isso sim, do papel que Portugal desempenhou, se é que desempenhou algum, ao longo dos seis anos de guerra.

  Portugal manteve a sua neutralidade. Por forma a não beliscar as relações com o Reino Unido, e honrando o secular compromisso com os britânicos, permitiu-se que os súbditos de Jorge VI abastecessem por cá. Do Eixo, soube-se que a Alemanha chegou a ponderar invadir o território continental do Estado mais ocidental da Europa, mormente para evitar que os britânicos se servissem dele como satélite. Também os Açores escaparam por um triz. A importância estratégica do arquipélago é-lhe anterior, à II Grande Guerra. Remonta ao século XVI e à crise de 1580. Em meados do século XX, percebeu-se que a sua localização aproveitaria às nações beligerantes.

  Timor-Leste, possessão portuguesa na ilha de Timor, foi invadido pelos japoneses. Houve escaramuças entre portugueses e japoneses, o que não foi suficiente para provocar uma adesão de Portugal pelos Aliados. Não interessava a Salazar entrar numa guerra. Como grande estratega, soube dela nos livrar, "mas não da fome", em palavras que lhe são atribuídas. Apocrifamente? Não se sabe. Sabe-se, sim, que se movimentou diplomaticamente para impedir que a Espanha do Generalíssimo Franco se decidisse pela participação ao lado do Eixo. Como se adivinha, a personalidade discreta de Oliveira Salazar é um obstáculo a que o seu nome seja mencionado entre os manuais europeus de História. Tão-pouco os espanhóis conhecem a influência que Salazar teve sobre Franco, neste capítulo específico da II Guerra Mundial.

  Finda a guerra, o Estado Novo entra na sua segunda fase. Nada será como dantes. Há uma nova ordem mundial, e sobretudo uma nova realidade emanada do conflito, que colidirá com a nossa visão sobre o papel que ao longo de séculos desempenháramos entre os povos. O regime desdobra-se em justificações, algumas até de carácter científico, das quais nos dá conta o luso-tropicalismo, rejeitado primeiramente. Era uma engrenagem demasiado forte para que a pudéssemos suster.

  Como sempre, não fomos alheios àquilo que se passou na Europa e no mundo. Houve racionamentos, houve fome, mas contornou-se uma destruição sem precedentes, seguida de uma submissão humilhante e desmesurada. Portugal manteve-se, uno e íntegro. De cabeça erguida. O mérito é de Oliveira Salazar, o maior patriota que este país conheceu no século XX.

2 comentários:

  1. Para mim esta percepção era desconhecida e amei vêla tão bem cosntruída e analisada. Parabéns Mark, mais uma vez.

    Beijão

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    1. Obrigado, meu querido. Obrigado por ser um leitor e seguidor fiel.

      Um beijinho carinhoso.

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