Ontem houve outros três debates para as legislativas de 10 de Março. O primeiro pôs frente a frente Rui Tavares do LIVRE e Inês Sousa Real do PAN. São dois partidos que disputam o mesmo eleitorado, um eleitorado ambientalista e animalista. Sousa Real, como vem sendo habitual, apresenta-se bem preparada, com um discurso fluente e ideias claras. Eu diria que saiu por cima de Tavares, conquanto tenha sido um debate educado. Falou-se de ambiente, da revisão extraordinária da Constituição (que, segundo Sousa Real, o LIVRE não acompanhou o PAN), e foi, em síntese, um debate sem atritos.
O oposto foi o debate seguinte entre Pedro Nuno Santos do PS e André Ventura do CHEGA. Ventura assumira que o PS era o seu principal adversário, e eu devo dizer que este debate, entre todos aqueles em que participou Ventura, foi o menos demagógico. Naturalmente houve acusações de ambas as partes, alguns insultos (Ventura chamou Nuno Santos de “frouxo”), porém, trocaram-se ideias, repetiram-se outras. A estratégia de Nuno Santos foi a de descredibilizar Ventura e o programa do CHEGA, aludindo à sua inexequibilidade. Nuno Santos, importa dizer, foi partícipe de um governo que agora está em gestão, e portanto traz esse ónus de, por um lado, apresentar as suas ideias e, pelo outro, procurar escudar-se relativamente àquilo que fez.
Populista ou não, Ventura tem razão quando diz, por exemplo, que a justiça em Portugal é o que é; José Sócrates esteve preso preventivamente há 10 anos e ainda andamos com recursos e mais recursos, a adiar-se o julgamento. Há crimes que podem prescrever. Ventura não diz só o que as pessoas querem ouvir; ele diz a verdade. São formas distintas de se olhar para a mesma realidade. Uns metem debaixo do tapete; outros confrontam. Outra coisa é se ele mudaria algo ou deixaria tudo como está. Contudo, começar por se dizer as verdades na cara é importante. A justiça em Portugal é podre - e a frase é minha.
Os comentadores aos debates parecem-me bem pouco imparciais. Também neles há uma espécie de cordão sanitário a Ventura. Nunca lhe dão a vitória nos debates. Vale o que vale. Não é essa, contudo, a percepção do eleitorado. Naquele debate em concreto, de ontem, Ventura esteve por cima. Nuno Santos, um pouco mais desenvolto, ganhou um certo fôlego quando procurou desconstruir o programa do CHEGA, mas mesmo assim não creio que tenha sido mais eficiente do que Ventura.
O último debate foi sobretudo ideológico, entre Rui Rocha da Iniciativa Liberal e Paulo Raimundo pela CDU. Raimundo vem ganhando confiança nos debates e saindo-se melhor. Queria destacar um ponto do debate, que me ressaltou e que envolve um centro hospitalar que conheci relativamente bem: Rocha pôs em causa o fim das PPP (parcerias público-privadas), o que na sua opinião deteriorou a gestão dos hospitais públicos. Eu conheci, infelizmente, o Hospital de Vila Franca de Xira enquanto era uma PPP. Parecia um hospital privado. Funcionava bem. Quando se acabou com as PPP, o declínio foi evidente. Posto isto, não é verdade que o Estado seja melhor gestor. Eu sou favorável às PPP, acho que foi um erro ter acabado com elas. Por outro lado, o que as pessoas querem, além de um SNS que responda à procura, é que os seus problemas de saúde sejam resolvidos, no privado ou no público, portanto, faz-se mister apostar nessa colaboração sobretudo quando o SNS não responde, e muitas vezes não responde. Vemo-lo com as listas de espera para se marcar uma consulta ou conseguir uma cirurgia ou com grávidas que não têm onde dar à luz. A obstinação ideológica do PCP pode servir os interesses do partido, mas não serve o das pessoas comuns que recorrem aos centros de saúde e aos hospitais.
Tem absoluta razão no que toca à justiça em Portugal. Está feita para servir de apoio e ajudar os cidadãos podres, que têm dinheiro suficiente para adjudicar o serviço de apoio a escritórios de advogados bem pagos, que sabem perfeitamente como o sistema funciona, e recebem valores milionários para protelar, protelar... e esperar que, após anos de recursos, os processos expirem de velhos, porque já ninguém se lembra do que aconteceu. É assim que o processo se desenrola.
ResponderEliminarQuem não tem meios, bem, esses darão conta que a justiça é exemplar.
Se se tem dinheiro tudo passa, se não houver posses, então aí, funciona a justiça, que de cega não tem nada.
Que o Chega, ou outro partido qualquer consiga mudar o código penal português, não acredito. Não possuem percentagem necessária para introduzir as alterações à constituição do estado. É populismo barato pretendê-lo.
Nem para decidir onde fica o aeroporto eles conseguem entender-se, imagine-se mudar o código penal....
Cumprimentos
Manel
Manel,
EliminarMais do que mudar o Código Penal ou o Código de Processo Penal, seria necessário combater eficazmente a corrupção na justiça, e não só a corrupção: dotá-la de mais meios de investigação. Uma justiça lenta é, na verdade, uma injustiça. Há processos que prescrevem porque a justiça tarda uma eternidade para julgar e, sendo caso disso, condenar.
Cumprimentos,
Mark
Obrigado pela partilha das tuas análises :)
ResponderEliminarAbraço amigo
Obrigado eu.
EliminarUm abraço,
Mark