10 de fevereiro de 2024

Debates IL-PAN, PS-LIVRE e CHEGA-PCP.


   Ontem, dia 9, tivemos outros três debates para as legislativas de Março. Sem mais delongas, começando pelo primeiro, Iniciativa Liberal-PAN, foi um debate da ideologia, a IL, vs. um partido das causas, o PAN. Falou-se pela primeira vez de ambiente. A IL defende a energia nuclear, que é efectivamente uma energia limpa, porém, e bem, Inês Sousa Real lembrou que Portugal tem um problema crónico de seca, e os reactores nucleares necessitam de água para arrefecer. Ressalvo que, aparentemente, a IL já não nega a emergência climática.

   Falou-se também de corrupção, com, uma vez mais, o PAN a acusar a IL de ter votado contra num caso de alegada corrupção protagonizado por Galamba. A IL, pela sua ideologia, é sempre acusada de querer dar as mãos à banca e ao grande capital. Nesse sentido, Sousa Real referiu mesmo que o que a IL promete é, e cito, “um bilhete para um parque de diversões”, aludindo, estou em crer, à impossibilidade de concretização do programa da IL. Por seu turno, Rui Rocha acusou o PAN de ter estado ao lado do PS na votação dos OE, procurando colar o partido ao Governo socialista e ao estado actual do país.

  Foi um debate civilizado, com uma Inês Sousa Real mais agressiva, sendo que Rui Rocha soube-se defender. Destaco de novo o afastamento -provavelmente deliberado- do PAN da sua tradicional agenda muito focada nos animais. Imagino que seja estratégia para chegar às pessoas, o P de PAN, contudo, esse nicho animalista-ambientalista é do PAN, pode ser o que lhe garanta a sobrevivência (o partido passou de 4 deputados para 1, e arrisca-se a não eleger nenhum). Ao deixar passar em branco os animais, tem o LIVRE a disputar esse eleitorado.


     E foi precisamente entre o LIVRE e o PS que tivemos o segundo debate da noite. Um debate calmo. Vislumbra-se ali um hipotético casamento, passo a expressão, se o eleitorado o permitir, entre PS e LIVRE. Pedro Nuno Santos quis apelar ao voto útil no PS, ao que Rui Tavares respondeu com a necessidade de aumentar a representação do seu partido na Assembleia da República. Numa jogada bem dada, disse que útil é ajudar as pessoas nos seus problemas quotidianos, procurando desviar-se dessa vertente mais “pedincheira”, se me permitem, de um PS que não sabe se ganha, se perde. Naturalmente, o LIVRE está mais à vontade nas propostas que faz, não sendo um partido com aspirações governativas.

    O secretário-geral do PS -numa atitude que, aliás, é muito comum nos políticos- respondeu às questões apresentadas pelo moderador como bem lhe pareceu. Não foi claro se viabilizará um governo minoritário da AD, tendo dito, não obstante, que seria um risco demasiado elevado deixar a oposição para o CHEGA, isto é, se o PS não ganhar e não conseguir governar, e também o frisou, faz oposição. 

    Falou-se dos professores e dos cortes na carreira, de habitação, do Serviço Nacional de Saúde, onde ambos, regra geral, convergiram.


     Eu estava muito expectante com o último debate do dia entre o CHEGA e o PCP. Imaginava um confronto difícil. Superou as expectativas. Foi um debate terrível para ambos. Ventura ganhou, sobretudo pela impreparação de Paulo Raimundo, que se apresenta pela segunda vez num debate de forma muito mal, sem dominar os temas, com uma atitude displicente. Trocaram-se inúmeras acusações. O CHEGA acusou o PCP de ter assassinado pessoas em 1974, durante o PREC (sim, foi-se tão longe quanto isso), houve ameaças… Enfim. Já sabíamos que existe um fosso insuperável entre comunistas e… cheganos?, exigindo-se, ainda assim, um mínimo de bom senso e cordialidade de ambas as partes. Como ouvi por aí, Raimundo chegou de foice e Ventura passou-lhe por cima com o seu já habitual tractor demagógico e populista, no entanto, convém dizer-se, Ventura também não esteve bem. Ganhou com recurso a ataques populistas. 

    Paulo Raimundo embrulhou-se ao ter comentado que a corrupção está nas privatizações. Uma afirmação leviana. A maior parte da corrupção em Portugal está no poder local, mas foi com a saída da União Europeia e do Euro, bandeiras do PCP, totalmente irrealistas nos nossos dias, que Ventura deu o golpe final. O secretário-geral do PCP simplesmente não respondeu. André Ventura também entalou Raimundo, passo novamente a expressão, com um caso de venda duma sede do PCP em Aveiro que se transformou num edifício com apartamentos à venda por valores que rondam os quinhentos mil euros. Num momento em que Portugal vive uma crise da habitação, como se explica esta atitude do PCP em vender uma sede que vai dar lugar a apartamentos de luxo? Não foi esclarecido. 

    Raimundo, nos debates que se seguem, terá de mudar de postura e vir melhor preparado, caso contrário antevejo tempos muito difíceis para o PCP, que como se sabe é um partido que tem vindo gradualmente a perder influência junto do eleitorado, e estes debates ajudam, sim, ajudam muito na decisão pelo voto num ou noutro partido. Refiro-me no geral, embora, pasme-se, o PCP e o CHEGA, por mais antagónicos que sejam, disputam um eleitorado mais rural, agrícola, menos escolarizado, e portanto mais susceptível ao discurso populista de Ventura.

4 comentários:

  1. Não vi nenhum (shame on me) eheheheh
    Como diz o Manel, também vou colocando as peças no puzzle :)
    Obrigado pela partilha
    Abraço amigo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oh, ora essa. Cada pessoa vê o que quer e o que pode. Nem todas as pessoas têm tempo para ver os debates. Há prioridades na vida.

      Um abraço,
      Mark

      Eliminar
  2. O PCP que o leve o futuro, pois não creio que me seja importante.
    Sempre fugi deles como da fome. Logo desde início, em 74, quando eu ainda era estudante do Técnico, eles tentavam a todo o custo tomar o poder do organismo associativo dos estudantes. Claro que as forças que tomaram o poder na altura também não eram muito melhores, no entanto eram diferentes! Eu era um satélite destas forças, mas sem grande convicção ... sentia-me um observador e um aprendiz, pois não estava habituado ao pensamento político, era tudo novo para mim, mas rápido percebi o que me convinha.
    PCP, não obrigado. Se desaparecerem não me fazem falta; com um discurso estafado, impreparado, sem qualquer discernimento, nem apelo ao raciocínio. Só fizeram furor no passado, perante pessoas que seguiam à regra o que lhes era dito, sem fazerem um esforço de pensarem por elas mesmas. Exceto as elites, claro, que essas é que punham e dispunham!!!!
    Os comunistas sempre me pareceram um conjunto de "seguidistas", onde o pensamento era deixado para as cúpulas, os outros só tinham que os seguir, como nas religiões!!!! E olhe que conheci muiiiitos seguidores do partido comunista, e dei-me ao luxo de tentar incutir alguma consciencialização junto de algumas pessoas que me agradavam de sobremaneira, uma sobretudo, por quem tive a desdita de chegar mesmo a apaixonar-me. Não serviu de nada, claro ... e a paixão durou muitos anos mesmo, mas sempre à distância, nunca mais tentei a aproximação, senão era eu que seria engolido na voragem.
    Agradeço-lhe os comentários aos debates, pois estou de viagem e não posso assistir.
    Cumprimentos
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Manel

      Quando entrei na faculdade, havia (não sei se conhece a Faculdade de Direito da UL), no átrio principal, várias bancadas partidárias a tentar seduzir-nos à filiação num ou noutro partidos. Eu não liguei nenhuma. Se calhar fiz mal. O meu pai aconselhou-me a meter-me na política.

      Eu, na faculdade, andava por andar. Não gostava do curso nem das pessoas. Foi uma experiência penosa. Também pouco me dediquei àquilo.

      O PCP, como diz, é muito pouco democrático. Aliás, tentou, depois do 25 de Abril, levar Portugal para outra ditadura. Embora respeite a história do partido, não me seduz nada.

      Cumprimentos,
      Mark

      Eliminar