Ontem, finalmente, numa emissão tripartida entre RTP, SIC e TVI, deu-se o embate final entre o Partido Socialista, através do seu secretário-geral, Pedro Nuno Santos, e a coligação Aliança Democrática, na pessoa do presidente do Partido Social Democrata, Luís Montenegro. Embora o que esteja em causa seja a eleição dos nossos deputados (e, a propósito, recebi hoje, por correio, o meu voto - que voto, ainda que viva no estrangeiro), assistimos desde há muito àquilo a que um saudoso professor de Direito Constitucional que tive, o Prof. Paulo Otero, chamava de “eleições para se escolher um primeiro-ministro”. Por isso, ontem pudemos ver o debate entre um dos que será o nosso futuro líder do Governo.
Luís Montenegro começou mal. Pedro Nuno Santos esteve mais combativo, mais “agressivo”, e conquanto estivesse, aparentemente, em posição de desvantagem, uma vez que não só se apresenta como líder de um partido desgastado por 9 anos de governação como ele próprio pertenceu a esse governo, conseguiu ganhar o debate. A determinado momento, Nuno Santos alertou para o facto de Montenegro não ter convidado Passos Coelho para o acompanhar, ao que Montenegro respondeu algo como: “Nem você chamou o Sócrates”. Interessante comparação. (risos) Passos Coelho deve ter ficado muito lisonjeado.
Pedro Nuno Santos, segundo se dizia, vinha numa espiral de maus resultados nos debates, e, pelo contrário, Luís Montenegro vinha-se afirmando, mas ontem sucedeu o inverso. Logo ao início, Nuno Santos disse claramente que não aceitaria negociar sob coacção, porque tivemos a circunstância inédita e surrealista de ter uma manifestação de polícias à porta do local do debate. Eu não vejo assim tanto perigo para a democracia como se apregoou. Estou com os polícias nesta questão. Acho que são profissionais mal estimados, mal remunerados e profundamente cansados de tanta tareia dos sucessivos governos. Todavia, Nuno Santos aí teve uma posição de firmeza, e reiterou-a ao longo do debate. Montenegro esquivava-se às perguntas, atropelava o adversário, não respeitava os moderadores, foi nitidamente beneficiado com o tempo do cronómetro e tem, isso já numa apreciação pessoal minha, um sorriso arrogante que me deixa agoniado. Pedro Nuno Santos foi mais claro nas contas, mais assertivo, mais sereno e mais responsável no debate, defendendo-se quanto ao que fez e ao que pretende fazer. Falou-se dos temas já habituais nos debates (SNS, habitação, economia, saúde, emprego), com ambos a reafirmar o que vêm dizendo nestes debates.
Restam-nos dois debates: um hoje, dos partidos sem assento parlamentar, e outro, o último, no dia 23, onde estarão todos os partidos com assento parlamentar. Não sei se os analise, uma vez que o primeiro é manifestamente desinteressante e o segundo será uma repetição de tudo quanto tem sido dito nesta maratona de 30 debates que vi, vi todos. E também verei os que faltam. Outra coisa é que escreva sobre eles. Já verei.
Dever-se-ia arranjar uma forma de cada um dos entrevistados/intervenientes, poder expor as suas ideias sem a interrupção disruptiva do outro, pois quando falam um por cima do outro, não se consegue perceber, nem que querem dizer, nem quais os objetivos que estão na base do raciocínio. Perco-me na confusão gerada.
ResponderEliminarAcabo por ficar sem entender o que pretendem dizer, que, por vezes, até pode ser importante.
Quando atiram com os números referentes ao estado da economia para cima da mesa, os leigos, como eu, que pouco entendem do assunto, ficamos a pensar que somos todos burros. Aqueles valores todos, sem uma devida e prévia explicação, não têm significado.
Aliás, faz-me suspeitar que me estão, ou me querem, enganar. É contraproducente fazer aquele estendal todo. Sapiência desperdiçada no eleitorado leigo!!!! A alguém há-de aproveitar, estou certo, mas não à vasta maioria dos cidadãos.
Mas tanto se esforça este bloco central AD/PS (julgo que o mesmo será verdade para os outros, só que terão menos hipóteses) por adquirir o poder, que mais me convenço que me querem enganar mais uma vez, para que possam, novamente, entrar em compadrios e corrupções.
Não temos organismos nem poderes suficientes para vigiar de perto estes políticos, que, pelos visto, não passam de corruptos, corrompidos ou corruptores, ou ambos, salvando-se muito poucos. E, o que é mais estranho (é um problema que vem da educação que o ser humano recebe desde o berço, talvez acumulada com a própria índole do individuo), é que necessitemos destes poderes controladores.
Numa sociedade ideal, a corrupção não seria praticada, pois a própria formação destes seres humanos não o permitiria.
No norte da Europa, pelo que leio, as sociedades aproximam-se mais deste modelo social ideal, mas será necessário viver lá para saber qual a extensão e verdade desta situação. Se tal for verdade, não poderei deixar de os admirar e congratular.
Espero sinceramente que não tenhamos mais maiorias absolutas, pois parece-me que estas situações dão azo a corrupções mais vastas e profundas. Os partidos têm que acabar por se controlar uns aos outros, infelizmente parece ser esta a melhor solução!!!
Cumprimentos e agradeço-lhe estes comentários que, tão pacientemente, veio colocando aqui. Sei que lhe dá prazer, mas também lhe deu trabalho
Manel
Manel,
EliminarComeçando pelo final, eu é que agradeço a sua atenção de ler estas pequenas análises. Dão trabalho, sim. Vejo os debates com um caderninho de notas. Sou muito tonto.
Todos os estudos indicam que os países menos corruptos do mundo são realmente os do norte da Europa. Eu creio que tem que ver com o factor educação. São países excelentes. Tenho imensa curiosidade em visitá-los. Só ainda não fiz por dois motivos: nas férias de Verão, gosto de fazer praia; nas férias de Inverno, tenho medo de levar com um nevão que torne a viagem uma desilusão.
Quanto ao debate, se as interrupções fossem educadas, eu não veria mal, caso contrário não estamos perante um debate, senão um monólogo, uma exposição solitária de ideias. Os debates podem ter interesse, e tivemo-los ao longo da nossa história. Houve grandes debates, como, por exemplo, entre Mário Soares e Álvaro Cunhal, ou mesmo nas presidenciais de 86 entre o mesmo Soares e Diogo Freitas do Amaral. O que se passa agora é que estes “debatentes”, passo a expressão, são muito fraquinhos. E depois não há tempo. As ideias discorrem de forma rápida, maquinada, porque os tempos televisivos não se compadecem da troca de ideias serena, justamente o que tínhamos nos anos 70 e 80. Agora é tudo de consumo rápido. Levam umas frases pensadas e memorizadas e debitam-nas.
Cumprimentos, e obrigado
Mark
Obrigado pela tua análise,
ResponderEliminarConfesso que não vejo ninguém com capacidade para liderar este país, desculpa o meu desabafo
Abraço amigo
Já somos dois.
EliminarUm abraço,
Mark