14 de fevereiro de 2024

Debates AD-CHEGA, PCP-LIVRE e CHEGA-BE.


   Anteontem assistimos ao confronto -foi um confronto- entre Luís Montenegro da AD e André Ventura do CHEGA. Dizem os comentadores que foi uma estrondosa vitória para Montenegro. Eu, que vi o debate, não vi nenhuma vitória tão significativa. Aliás, não vi vitória nenhuma, de nenhum. Vi um debate acalorado, com troca de acusações, com muitas interrupções e poucas ideias. Montenegro quer fazer convergir o complemento solidário para idosos com o salário mínimo nacional e Ventura pretende convergir todas as pensões. Tal proposta do líder do CHEGA levou a que Montenegro o acusasse de irrealista quanto à execução do seu programa. Depois, houve ofensas. Ventura disse que Montenegro era o “idiota útil do PS”; por sua vez, Montenegro disse que o CHEGA era uma formação racista e xenófoba. Mais do mesmo. Após a instrumentalização dos idosos -táctica antiga, que o diga Paulo Portas- perdeu-se demasiado tempo com as forças de segurança, PSP e GNR, que sem dúvida alguma, no meu entender, devem ver a sua profissão e o risco que ela acarreta devidamente reconhecidos, porém, não posso concordar com Ventura na defesa da greve para os polícias. Quem assegura o Estado de Direito e a ordem pública? “Ai, houve ali um homicídio. Não há polícias. Estão de greve”. No populismo realmente vale tudo. A questão dos serviços mínimos em caso de a lei vir a reconhecer a greve das forças policiais teria de ser muito bem estudada. Não me parece que possamos propor essa revisão com tanta ligeireza. Por algum motivo o legislador preferiu excluir essas classes profissionais do direito à greve.

 
  Montenegro pediu uma maioria absoluta. Despudoradamente. Creio que tudo o que os portugueses não querem é uma maioria absoluta. Preferem um entendimento entre várias forças políticas, como aquele que resultou das legislativas de 2015. Veremos no dia 10 de Março se eu tenho razão. 

      Honestamente, eu acho que quem quer votar CHEGA vai votar CHEGA, independentemente do desempenho dos debate ou do balanço que os comentadores façam. E fá-lo-á por simpatia a Ventura e às suas ideias. Não vejo como meia hora de debate poderá demover alguém de votar Ventura para votar Montenegro. O eleitorado de Ventura é o dos descontentes, e os descontentes estão-no com o sistema. O PSD representa o sistema.



     No dia de ontem, houve dois debates, o primeiro entre PCP e LIVRE e o segundo entre o CHEGA e o BE. Começando pelo primeiro, foi um debate ameno, educado, onde se discutiram ideias. Eu diria que, no plano internacional, à semelhança do que víramos com o BE, a principal diferença entre o PCP e o LIVRE é o eurocepticismo dos primeiros frente ao europeísmo dos segundos. Paulo Raimundo parece ficar embaraçado em assumir que o PCP está, como sempre esteve, ao lado da Rússia, embora o tenha procurado disfarçar colocando os Estados Unidos e a NATO como interventores na guerra da Ucrânia. Rui Tavares, nesse ponto, foi muito mais claro ao reconhecer que a Ucrânia nunca mais teve paz desde que Putin chegou ao poder. Ambos concordaram, e eu também, já na política interna, que o voto útil é um voto que impeça a direita mais retrógrada de governar, e que promova um entendimento entre as forças de esquerda. Os portugueses estão cansados de maiorias absolutas. Pareceu-me, sobre as forças de segurança, ouvir por parte de Raimundo uma defesa do PCP quanto à fusão da PSP e da GNR num único órgão. Gostaria de ver essa ideia adensada.

    O segundo debate opôs Mariana Mortágua do BE e André Ventura do CHEGA. Bem, não sei se lhe chame debate ou batalha. Ganhou a demagogia, como em todos os debates em que participe Ventura. Ele transforma-os a todos em conversas de taberna. Falou-se de corrupção, de imigração, de habitação, contudo, o que se retém são os ataques dum lado e doutro, com uma nítida supremacia de Mortágua. Ventura parece cansado, ou então -o mais provável- o discurso populista que apregoa esgota-se em si mesmo. Tenho a dizer, em abono da verdade e da coerência, que concordo com Ventura quando diz que não podemos aceitar imigrantes sem controlo, que a questão dos vistos da CPLP foi um disparate. E também considero que estamos a esticar demasiado a corda com a ideologia LGBT. Ensinar ao respeito é necessário - eu fui uma vítima de bullying homofóbico na escola; conheço as terríveis consequências que pode ter numa criança e num jovem. Ainda assim, não é com conteúdos imorais e impróprios que se promove o respeito. Cai-se facilmente na ridicularização. Quanto à habitação, o BE tem telhados de vidro. Lembramo-nos do caso Robles, também nos lembramos dos familiares de Catarina Martins que têm alojamento local. O BE tem um mau historial no tema da habitação. No restante, foi-se demasiado longe, com acusações de terrorismo e até assassinatos por parte de membros das listas de ambos os partidos. Creio que esse estilo não dignifica o debate.

6 comentários:

  1. Vi alguns destes debates, e não gostei.
    Este achincalhamento em nada ajuda ao esclarecimento, antes à percepção que não passam de uns arruaceiros que pretendem o poder a todo o custo.
    Se não estivesse decidido já a não votar em nenhum destes partidos, ficá-lo-ia agora.
    A política como ela é, no seu pior.
    Já nos habituámos, infelizmente, a este estendal de roupa suja e pouco esclarecida.
    Mas também não me admira, vindo de quem vem.
    Obrigado pelos resumos
    Manel

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    1. Olá, Manel

      Se calhar não o tenho conseguido, mas eu tenho pretendido que estas publicações sejam mais do que meros resumos, daí que introduza também a minha opinião sobre os temas escrutinados e os desempenhos.

      Os debates mais civilizados têm sido à esquerda.

      Cumprimentos,
      Mark

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  2. De facto não vi nenhum debate, mas vi nas notícias os votos dos comentadores ao chega, tudo abaixo de 4 ou 5. Recordo-me do Zé Maria no BB quando todos "malhavam" e votavam nele... Quem ganhou?! Como tu referiste bem e muito bem, quem vota chega está farto das Histéricas e dos mimimimim da Esquerda, da corrupção com a publicidade da estante e dos milhões da Madeira... As pessoas revoltadas não votam em branco, votam zangadas, irritadas... Curioso que ninguém fala na Habitação, Saúde, Educação, Justiça como os pontos nos Is. Não era a Esquerda e o mamadu que chamaram merda à Polícia há uns anos?! https://www.record.pt/fora-de-campo/detalhe/deputado-do-psd-insulta-mamadou-ba-no-facebook-o-mamadou-e-se-fosses-bardamerda
    Agora não podem fazer greve porque?! Há muita criminalidade em Lisboa e a crescer todos os dias... As nossas avós diziam: Vais colher amanhã o que plantaste hoje
    Obrigado pelos teus resumos
    Abraço amigo

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    1. Eu chamar-lhe-ia análise.

      Obrigado eu,
      Mark

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  3. Sim Mark, é agradável verificar a sua opinião crítica.
    E agradeço-lha porque tenta colocar algum bom senso, do pouco senso que existe em alguns debates. Os debates onde o Chega aparece só vejo populismo, apelo ao voto e à camada de população que parece ser apologista deste partido, e isto é perigoso, pois foi exatamente o mesmo tipo de argumentos que utilizou Hitler nas suas abordagens às massas, e veja-se no que deu!!! Não que este populista de "meia-tigela" se possa comparar a um estadista como Hitler, mas as técnicas são as mesmas.
    E a chusma que rodeia este populista é ainda pior, quando abrem a boca mais valia que a mantivessem fechada. Mas ainda bem que a abrem, pois assim consegue-se verificar o quão maus são, o que escondem, as coisas feitas em cima do joelho, só para apelarem às massas, e o poder a todo o custo. Não quero saber o que fariam com o poder na mão, pois a ideia assusta-me. Sinto-os uns arruaceiros, que só não passam à ação porque ainda não detêm o poder. Os apelos homofóbicos são assustadores, as teorias sobre imigração raiam as de Trump, só que sem a qualidade requintada deste último.
    Não sou apologista da vaga de imigrantes que temos vindo a registar em Portugal, simplesmente porque não temos capacidade de os alojar e dar-lhes uma vida condigna, como merece toda a pessoa que trabalha. E, por isso, começa a exploração desta pobre gente (até acredito que a maioria é válida), e a vida, com estas pessoas a viver uns em cima dos outros, fruto de uma exploração desenfreada de uma camada da população portuguesa, determinada a fazer dinheiro fácil de qualquer forma. Lembro-me que os portugueses que foram para França, "a salto", como se dizia na altura (não havia Schengen nem nós fazíamos parte da Comunidade Europeia), nos anos 60, viviam todos "ao molho" nas famosas "bidonville". E eu conheci muitas pessoas destas, que viviam vidas miseráveis naqueles "guetos", e algumas até eram familiares meus. O que me contavam far-me-ia ficar com os cabelos (que hoje não tenho) em pé, no entanto faziam-no para poderem dar às famílias que aqui ficavam uma vida melhor.
    Eu próprio, quando vivi em Paris nos anos 70, vivi precário, sem poder trabalhar de forma legal, pelo que fui completamente explorado. Mas era a forma como as coisas se nos apresentavam.
    Após alguns anos a viver com outras pessoas, e a alugar quartos, tentei ir viver sozinho em 1982, quando Balsemão, e a sua famigerada AD estavam no poder (após a morte de Sá Carneiro), mas, à altura eu ganhava 12 000$00 e a renda da casa (umas 2 assoalhadas, em estado sofrível, em Benfica) era 25 000$00 (fruto da especulação que na altura se fazia, dada a lei de arrendamento que existia). E este apartamento era considerado um achado, mais barato do que outros que eram alugados por outros conhecidos!!!! Não tive outra hipótese senão ter de arranjar outras pessoas que compartilhassem a casa comigo, prática que mantive pelos quase 15 anos seguintes, pois não conseguia manter-me independente.
    Este problema de alojamento não é só de agora, arrasta-se desde que me conheço. Conseguir alugar uma casa em 1970 por um preço razoável, era necessário ter uma rede de conhecimentos desenvolvida, e muiiiiita sorte!!!!

    A sua opinião é-me importante, claro, pois é uma pessoa que me parece equilibrada, não tendenciosa, e tenta ser o mais neutral possível, e por isso lhe agradeço tanto.
    Muitos cumprimentos
    Manel

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    1. Olá, Manel

      Já lhe tinha dito que adoro os seus testemunhos de vida? A sua vida parece-me tão rica, tão completa, com tantas experiências e aventuras. A minha, por sua vez, é banal. Acho que se um dia tivesse de escrever algo sobre a minha vida, faria como Fernando Pessoa: poria a data de nascimento e alguém acrescentaria a da morte. Tudo o que fica “no meio” é uma inutilidade. Não há nada de interessante na minha vida. Perdoe-me o desabafo, mas fico sempre entusiasmado quando leio relatos de pessoas que tiveram experiências, boas, más, de tudo. Eu também as tenho, mas a minha vida é uma pasmaceira.

      Ainda me lembro do escudo! Tinha 16 anos quando foi substituído pelo euro, portanto, consigo ter noção do que eram 12 contos, 25 contos (12.000$00, 25.000$00). Parece pouco, mas naquele tempo com uma nota de 5 contos comprávamos comida para um mês. Lembro-me pela minha mãe.

      Sobre a especulação imobiliária. Eu nunca passei por ela porque não sou uma pessoa independente do ponto de vista económico. Odeio apartamentos (isto é um aparte). Não tolero o ruído de vizinhos. Admito que possa ser mesquinho neste tema, porque realmente sou muito intolerante a ruídos. Olhe, dá um bom post quando terminar isto das legislativas.

      Obrigado por me acompanhar. A ser ser sincero, já me custa escrever sobre os debates - são muitos. Agora que comecei, há que acabar.

      Cumprimentos,
      Mark

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