17 de janeiro de 2019

Love is Strange.


   A Cinemateca tem, actualmente, um ciclo em exibição, 70 Anos de Cinemateca, com alguns filmes muito bons. O que lhes trago hoje, Love is Strange, de 2014, é um deles.

   Este Love is Strange é um drama familiar, protagonizado por dois homens de meia-idade que, ao fim de quarenta anos de relacionamento, se decidem casar, numa cerimónia íntima, com poucos, mas bons familiares. Todavia, como se não bastasse a dificuldade que ainda representa para muitos ser-se gay, na terceira idade pode ser atribulado. George e Ben sabem-no bem.

   Após um contratempo, ambos têm de se hospedar em casa de familiares, e tudo muda. Assistimos a essa degradação dos laços. Como Ben diz, a determinado momento, às vezes ficamos a conhecer as pessoas mais do que queríamos.



   É um drama do nosso tempo, das nossas cidades. Foca problemas reais, e quotidianos, como a especulação imobiliária, o preconceito, o peso excessivo do Estado na vida dos cidadãos, sobretudo devido à carga fiscal elevadíssima, a precariedade e a situação de desamparo em que se pode ficar numa idade particularmente sensível. E também de amor, de companheirismo, de solidão, de entreajuda, mesmo na doença, que, quando é, é para sempre.

   Foi interessante ter este lado, esta versão do ser-se gay numa grande metrópole como NY. Mas não enquanto jovem sadio, musculado, atlético; ver a mesma realidade em homens reais, avançados na idade. Nem sempre a indústria cinematográfica sente apelo para falar destas pessoas. Uma estória simples sobre dilemas concretos, que todos conhecemos.

  Gostei imenso do desempenho dos actores, quer dos principais, John Lithgow e Alfred Molina, quer dos coadjuvantes, inclusive do que encarna o jovem Choey - que, ali pelo meio, dá azo a algumas desconfianças, dada uma certa amizade que tem por um enigmático jovem, mas que não se vêm a verificar. De certo modo, é o típico adolescente, que até sabe morrer de remorsos quando é caso para tal.

   Está mais do que aconselhado.

4 comentários:

  1. Já tinha visto este filme, e fiquei algo incomodado, pois é algo que poderia suceder a qualquer um, e nisto me incluo, pois tenho idade próxima da dos intervenientes.
    A fragilidade das relações (e nestas incluo todo o tipo de relação), quando sujeitas às vicissitudes da vida, é algo alarmante. E dificilmente as coisas ficam incólumes após estas provas de fogo, transformam-se, e é difícil predizer onde terminarão.
    Quando se pensa que há algo de forte e duradouro, percebe-se que nada é para sempre, e tudo é transitório.
    Um bom final de semana
    Manel

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    1. Sim, e no filme é bem evidente: ao início, no copo d'água, alegria, risos e declarações; quando eles precisaram verdadeiramente dos amigos e dos familiares, é que o que se vê. Como se costuma dizer, nas dificuldades é que vemos os amigos.

      Curiosamente, a contrastar, forte e duradoura foi aquela relação, que sobreviveu a tudo.

      Um bom final de semana, Manel, e obrigado.

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