16 de setembro de 2019

Plan 9 From Outer Space.


   Este é outro dos filmes que merece uma crítica autónoma. Considerado pela crítica especializada como o pior filme de sempre, tornou-se, ao longo dos seus sessenta anos, um filme de culto, e não apenas do terror, mas da sétima arte no geral.

   Em jeito de começo, a organização do MOTELX esteve bem ao incluir este clássico entre as suas sessões. Plan 9 From Outer Space, do mítico Ed Wood, surgiu no último ano da década de 50, em 1959, há precisos 60 anos, como um filme de terror. Dois anos antes, a URSS lançara o primeiro satélite artificial para o espaço, o Sputnik 1, inaugurando a corrida espacial com os EUA. Este filme provavelmente reflecte esse efeito, nas artes e na mente fantasiosa das pessoas, de um choque civilizacional que se julgava estar prestes a assolar a humanidade.

   Quando um filme tem dois ou três clichés, é mau; tendo cinco ou seis, é muito mau; quando tem todos, é bom. É o caso desta longa a preto e branco, que provocou risadas constantes na audiência. As más interpretações, os cenários desastrosos, os inúmeros erros de filmagem, a utilização desmedida de imagens de arquivo, em suma, o amadorismo que se verifica no conjunto, tornam-na num filme docemente acarinhado. Quando nos rimos deste filme, não o fazemos em tom de troça ou de fastio, mas com algum carinho. Quer-se dizer, não é para todos ficar em último, e o mérito de ser falado, ainda que por más razões, ao fim de sessenta anos, deve ser reconhecido.




    Ed Wood terá tido pouco orçamento, mas, ainda assim, persistiu na ideia de levar este filme até ao fim. É de se louvar quando alguém acredita num projecto e se empenha para o concluir. Naqueles anos, o cinema não chegava às pessoas de forma tão completa e finalizada, como actualmente o faz. Não. Havia espaço para que o espectador imaginasse. O realismo não era assim tão importante, mediante que se criasse nas pessoas espaço para que estas sonhassem. O cinema tinha magia. Lembre-se do King Kong, de 1933.

   O estatuto de superpotência também tem destas. Os norte-americanos levam o galardão do melhor e do pior cinema de sempre. E nós, cá no nosso pequeno país, temos filmes maus, muito mau, tão maus ou piores do que este. Recordo-me, por ora, de Alentejo Sem Lei, que não foi um filme, mas uma série de três episódios. E ai de nós se quiséssemos ficar com o pior filme de sempre!

  Em Portugal, os cineastas conhecem bem as dificuldades de se fazer cinema. Plan 9 From Outer Space representa quase simbolicamente todos os que querem fazer muito com poucos meios. Na cabeça de Ed Wood, este seria um clássico da ficção científica. Acabou por sê-lo, de uma forma ou de outra.

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