24 de maio de 2021

Eurovision Song Contest 2021.


   Eu nunca gostei da Eurovisão. Não sou bicha festivaleira. Em pequeno, gostava das votações dos países. Nunca prestei atenção às músicas, ao brilho, embora, já no plano interno, recorde algumas das canções mais emblemáticas que Portugal levou àquele que é o maior certamente musical europeu. Lusitana Paixão, Amor d’Água Fresca, A Cidade (até ser dia) Chamar a Música são quatro das que fizeram parte da minha meninice, a par, claro, dos velhos clássicos dos anos 70 e 80, que não vivi e que todos conhecemos.

     O meu marido gosta e até fui eu quem lhe propôs assistir à Eurovisão na noite de sábado. Vimo-la na cama, através da televisão do quarto, que o M. estivera de plantão na noite anterior e se encontrava bastante cansado. Surpreendentemente, não foi um frete. As prestações dos países sucederam-se de modo dinâmico, assim como as votações. E gostei de algumas canções. As do Chipre, da Grécia, da Alemanha, da Rússia, etc., ficaram devidamente guardadas na minha biblioteca da Apple (depois de ter conseguido mudar a loja da Apple Store da portuguesa para a espanhola, que há quase um ano e meio moro aqui e continuava com a Apple Store configurada para Portugal, num processo que me impossibilitou de aceder à minha conta da Apple Music por uns dias).

    A última vez que vira a Eurovisão foi justamente em 2017, quando o Sobral ganhou, num bar de ursos no Príncipe Real, e já mal me lembrava do quão inesperada era a votação do público, que no sábado provocou uma tremenda reviravolta no resultado: a França e a Suíça, as duas grandes favoritas, ficaram atrás da Itália, que arrebatou assim a sua terceira vitória, feito que lhe escapava há trinta e um anos (1990 foi o último ano em que Itália empunhou o troféu).

   A prestação de Portugal, longe de ser das que me caíram no goto, foi equilibrada, em inglês, e conseguiu um azedo 12º lugar, pouco num país que já saboreou a vitória e razoável considerando a história das participações do país no festival europeu. Portugal obteve sempre lugares maus e modestos. Nos anos 90, posicionou-se algumas vezes entre as dez melhores, e presumo que o mesmo tenha ocorrido excepcionalmente antes disso (em 1980, por exemplo, José Cid, com Um grande, grande amor, saiu de Haia em 7º).

   Sinto uma mudança a nível europeu no que respeita ao prestígio da música e dos intérpretes portugueses, o que acompanha a evolução na qualidade da música nacional. Temos uma música que se aproxima mais do melhor que se faz lá fora, e já nos conseguimos igualar na disputa. Os Black Mamba, goste-se ou não do género ou da decisão de se levar um tema em inglês, passariam por um grupo internacional. É bem verdade que a Eurovisão deveria ser o festival da variedade cultural, que se reflecte na música, nas danças e nos trajes que se apresentam em palco, mas não devemos ignorar a tendência para se obter um padrão que vende, que vence, e esse padrão geralmente obedece a determinadas características: cantar-se numa língua franca internacional ou adoptar-se a um estilo que esteja de moda. São as regras informais do jogo. Depois, claro está, cabe a cada país optar por se manter fiel às raízes ou apostar em algo mais mainstream. Portugal ganhou não sendo comercial, eurovisivo, festivo, um feito que não sei se se repetirá com frequência independentemente do país. Naquele caso em concreto, pesou mais, quanto a mim, o facto de Salvador se apresentar como anti-vencedor e de ter interpretado, mais que cantado. A música, como é de idioma universal, chegou aos europeus, que o escolheram em massa. Foi, de certa forma, a fórmula que a França levou, sem sucesso. A França não é aquele pequeno país do sul da Europa que jamais havia ganhado e que levava uma canção meio jazz, meio bossa nova, numa língua amplamente desconhecida no continente. Houve um conjunto de causas que levaram Portugal ao primeiro lugar.

   O factor surpresa torna a Eurovisão num espectáculo aliciante: pode ganhar uma Netta (com uma interpretação totalmente eurovisiva), um Sobral ou uns Maneskin, contrariando-se apostas e preferências.

2 comentários:

  1. Foi um ano muito atípico apesar das casas das Apostas terem dito que ganhava a Itália e ganhou :)

    Abraço amigo

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