O país não quis acreditar no que acabara de ouvir. Eu diria, mesmo à distância, não estando em Portugal, que o sentimento de indignação foi generalizado. Cabe-nos contestar a justiça, questioná-la, da mesma forma que o fazemos com o legislativo e o executivo. Sócrates será submetido a julgamento, a priori, mas caíram por terra, na fase de instrução, as acusações mais graves que lhe haviam sido imputadas pelo Ministério Público. Os crimes de corrupção, nomeadamente, tendo sido divulgadas escutas telefónicas, havendo dinheiros e gastos que não encontram explicação plausível. A justiça dos tribunais, a verdadeira, não é a do povo, e a justiça não pode decidir de acordo com a vontade popular. Juízes não podem ser afastados pelas suas decisões. São, como dita a Constituição, irresponsáveis e inamovíveis; todavia, cometem erros, não são imunes a pressões, a aliciamentos, extrapolando este caso em concreto. Cabe o recurso ao Ministério Público. A decisão, porém, a convicção formada no colectivo, está há muito tomada, e o descontentamento e a descrença na justiça também.
O sector da justiça tem sido dos principais alvos da crítica dos cidadãos, comparável talvez ao da saúde. A corrupção em Portugal e na generalidade dos países do sul da Europa impede que os respectivos países progridam no que concerne às políticas de igualdade e de distribuição de riqueza, contribuindo para o descrédito junto dos organismos internacionais e das populações. O caso português é particular. As operações sucedem-se, as condenações escasseiam, e sabemos que houve delitos, que houve casos de corrupção, de branqueamento de capitais, de tráfico de influências. Exigem-se, e não será populismo nem justiça popular, nomes.
Sócrates não foi o primeiro e certamente não será o último duma avalanche que ninguém parece conseguir suster. Surpreende-me que haja quem conviva bem com estas decisões de alguns órgãos judiciais -acreditando que as há de excepcional rigor e assertividade-, quem as menorize e despreze. Desprezam que o que está verdadeiramente em causa não é a liberdade de Sócrates, mas todo o sistema judicial. E num país onde a justiça é injusta, pegando num chavão, não há democracia.
Pois, eu sou mais um dos que ficaram boquiabertos. O tipo está metido naquela trampa até ao pescoço. :/
ResponderEliminarPS.: Descobri hoje o teu blogue e gostei bastante. Ando aqui às voltas com o estudo e acho que já li dezenas de posts.
Ainda bem.
EliminarBem-vindo então. Espero que gostes. :)