8 de fevereiro de 2020

Dia 6 - Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha).


    O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, também conhecido por Mosteiro da Batalha, foi, de tudo quanto pude ver durante aquela semana, o monumento que me arrebatou, com o Convento de Cristo. Pensando melhor, talvez esteja a ser injusto com os demais.


É um belíssimo e colossal monumento


     Devemos a Aljubarrota não só a nossa independência, que foi assegurada após a crise de 1383-85 na célebre batalha campal travada na Idade Média, como também esta jóia da arquitectura tardo-gótica / manuelina, dado que a sua construção se prolongou no tempo, chegando ao século XVI. O mote coube a Dom João I, o Mestre de Avis, ordenando a sua edificação como gesto de agradecimento à Virgem pela vitória na batalha. A Batalha de Aljubarrota representou um momento decisivo na afirmação do sentimento nacional. Partindo em inferioridade numérica, numa desproporção bastante significativa, as hostes portuguesas lideradas por Nuno Álvares Pereira, auxiliadas pelos ingleses, encurralaram o inimigo castelhano, conduzindo-o à amarga derrota. Os corpos amontoavam-se, e o exército de João I de Castela viu-se obrigado a retirar.


O traçado da fachada lateral 


    Voltemos ao Mosteiro. Com o estatuto de Panteão Nacional desde 2016 (que divide com outros monumentos), o Mosteiro encerra os túmulos de Dom João I e de Dona Filipa de Lencastre e da sua prole, a Ínclita Geração, na Capela do Fundador, um espaço lindíssimo, verdadeiro panteão régio. De estrutura quadrangular, ergue-se ao centro um octógono, coberto, finalmente, por uma delicada abóbada decorada a vitrais. Os túmulos régios foram minuciosa e detalhadamente trabalhados, e são absolutamente deslumbrantes.


O túmulo régio (Dom João I)


    A meio do claustro real, encontramos uma porta de acesso à Casa do Capítulo. Desde 1921 que jazem neste espaço os corpos de dois soldados portugueses desconhecidos, mortos na I Guerra Mundial. Quando o visitarem, não percam, podendo, o render da guarda, um momento solene, repleto de simbolismo e de respeito por aqueles que, pela Pátria, derramaram o seu sangue. Deixo-lhes o vídeo do render da guarda por mim filmado.




    As Capelas Imperfeitas guardam os túmulos, designadamente, de Dom Duarte e Dona Leonor. O vocábulo Imperfeitas virá de inacabadas. É que este panteão régio, pelo que podemos intuir, não está arquitectonicamente concluído. Nunca o foi, por circunstancialismos vários, o que em nada melindra à sua beleza.

As Capelas Imperfeitas


    Não se esqueçam ainda da igreja e dos claustros, maravilhosos. Levar-lhes-á todo um dia para, em segurança, ver tudo o que há para explorar.


Deslumbrante 


   Em Lisboa, decidimo-nos pela gastronomia japonesa e experimentámos os sabores do Japão no Afuri Lx, no Chiado. Entre sushi, sashimi e bao, reconhecendo o nosso desconhecimento na matéria, não podemos dizer que tenhamos saído insatisfeitos. Em verdade, não é aquilo de mais gosto, mas… vale pela experiência. 


O sushi propriamente dito

O bao

O sashimi

     O dia seguinte teria uma vertente mais religiosa, pela manhã, e ao ar livre, de tarde.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone ou a minha câmara Canon. Uso sob permissão.


6 comentários:

  1. Esta é uma das edificações mais emblemáticas em Portugal, mas não a que mais prazer visual me dá no seu interior, apesar de considerar que é muito curioso, e possui uma capela do Fundador absolutamente notável.
    À sua construção presidiram influências inglesas, sobretudo na altura da nave principal da igreja, apesar de, exteriormente, toda a edificação apresentar uma horizontalidade a apontar para uma construção mediterrânica.
    As influência do gótico flamejante nas aberturas, e em alguma da decoração fazem deste edifício uma lição de história da arquitetura.
    A edificação foi entregue inicialmente a um mestre português, Afonso Domingues, mas após a sua morte passou para um outro mestre cuja vida está cercada de desconhecimento, pois não se sabe muito bem de onde foi proveniente, se bem que dizem que terá vindo da Irlanda, e terá sido recomendado a D. Filipa. Esta proveniência é algo encerrada nas brumas da memória.
    Terá sido este mestre que lhe terá conferido estas proporções mais ao gosto do gótico inglês. Também foi o autor da Capela do Fundador, e em boa memória o fez, pois produziu algo de muito belo aqui. Nem toda a ínclita geração aqui está, encerrada nos túmulos dos arcosólios, pois falta uma das princesas mais importantes desta geração: D. Isabel, que se casou com o Duque de Borgonha para ali foi viver e ali faleceu. Uma das princesas mais cultas e famosas do seu tempo, parece que, no entanto, não terá sido muito favorecida pela beleza, mas seguramente o compensou com uma elegância, dignidade e cultura ímpares.
    Foi ela que tudo fez para que o seu sobrinho, Afonso V, desse ali sepultura a D. Pedro, morto às portas de Lisboa pelas tropas desse mesmo Afonso V, soberano fraco, sugestionável e pouco preparado para a governação, como a história o demonstrou.
    Os vários claustros são dignos de nota, sobretudo o Real (o que mais gosto), planeado por Afonso Domingues, terminado por Huguet e sofrendo obras de alteração por mestre Boitaca, um século depois.
    Quantas vezes me passeei à sombra destes claustros, agora menos, posto que abandonei as terras dos meus antepassados, não muito longe da Batalha.
    As portas das Capelas Imperfeitas de Mateus Fernandes, são dignas de nota, mas parecem-me um pouco demais, não seria necessário tanta exuberância decorativa para terem imponência e elegância.
    O segundo piso, da autoria de João de Castilho, adicionado no século XVI, é especialmente bonito.
    Este João de Castilho também trabalha em Alcobaça, no Convento de Cristo e dizem que também foi o autor dos túmulos de D. Afonso Henriques e D. Sancho I em Coimbra, apesar da obra ser normalmente atribuída ao mano, Diogo de Castilho.
    É efetivamente um período de ouro para a nossa arte em geral e arquitetura em particular.
    Uma boa semana e gostei muito dos seus passeios
    Manel
    Claro que este edifício sofreu com o terramoto do século XVIII, em que várias partes caíram, nomeadamente um telhado em forma piramidal que coroava a Capela do Fundador.

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    1. Olá, Manel.

      Eu adorei o monumento. Considerei-o bastante impressivo.

      Sim, Dona Isabel não está lá sepultada, mas espaço não faltaria.

      Discordo do Manel quanto a Dom Afonso V. Nada fraco, bem antes pelo contrário. Não falamos do mesmo. No seu reinado, conquistámos variadíssimas praças em África. Casado com Joana, a famosa "Beltraneja", invadiu Castela para fazer valer os direitos da sua mulher, e seus, ao trono de Castela (que ficaria para Isabel). Procurou acudir o Papa quando se deu a Queda de Constantinopla às mãos dos otomanos… Pelo contrário, foi um homem de muita garra. É provável que o Manel o esteja a confundir com outro monarca.

      Não considerei as Capelas Imperfeitas assim tão exuberantes. Enquadram-se bem no conjunto.

      Também não podemos esquecer uma igreja primitiva que foi, pasme-se, demolida nos anos 60. Como é possível!...

      Uma continuação de boa semana.

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  2. Não, não estou enganado no Afonso V. Tanto mais que estudei a vida dele bem ao pormenor, pois apresentei um trabalho sobre ele.
    Continuo e continuarei a manter a mesma opinião, e duvido que algum poder sobre a terra tenha o condão de me fazer mudá-la, tanto mais que esta não está sujeita a nova documentação que entretanto venha a surgir sobre ele, mas na sua ação governativa que manteve, historicamente reconhecida, e as suas pelejas, erradas, tanto no Norte de África como em Castela, e o casamento, igualmente desastroso, com a Beltraneja, que praticamente nos deixou à mercê dos castelhanos e, por pouco, a sua ação como chefe de estado nos conduziu a um poder real foi quase destroçado, não tivesse ele tido o filho que teve!
    É controverso, mas não me engano sobre este personagem, nem poderia.
    Mas admito a sua opinião, como a de qualquer outra pessoa, aliás, nem faria sentido doutra forma.
    Uma boa semana
    Manel

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    1. Pois, eu não estudei a vida ao pormenor. Tenho uma biografia do Rei e faço outra leitura do seu reinado e das suas decisões. Longe de mim querer mudar a opinião do Manel a respeito de Dom Afonso V. Como sabe, nada na vida, e ainda menos a História, é linear. Se ler um livro de Veríssimo Serrão e outro de Oliveira Marques, sobre o mesmo assunto, verá que são diferentes.

      Vamos lá a Dom Afonso V: os conflitos com Castela já eram intemporais ao tempo d' "O Africano". Como sabe, Joana era a filha legítima de Henrique IV e sua herdeira, malgrado tudo o que se disse. Dom Afonso V não fez mais do que qualquer monarca do seu tempo faria: reivindicar os seus direitos, por via da sua mulher, ao trono. Mais, a Batalha de Toro resultou num impasse militar. Acaso o partido de Dom João tivesse ganhado, Dom Afonso V teria unido Portugal e Castela sob o ceptro português, e provavelmente hoje teríamos uma península unida sob a hegemonia de Portugal, e não como está, sob a hegemonia de Castela. Como o Manel deve saber, não havia "nações" e nem "estados" naquela altura, ou seja, não havia as susceptibilidades que hoje há: todos os monarcas peninsulares queriam a reunificação dos reinos cristãos sob a sua égide. Dom Afonso V não lhes foi excepção.

      Em relação às pelejas, como lhes chama, tão-pouco vejo assim: conquistámos inúmeras praças, e o rei interessou-se directamente pela expansão através da costa africana.

      Uma boa semana.

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