9 de fevereiro de 2020

Marriage Story e The Irishman.


   O que me ocorria a cada cena do filme era o seguinte: «Porque é que vocês não estão juntos?» Manifestamente, aquele casal amava-se. Foram empurrados para um divórcio pelos advogados. Assuntos que deveriam ser resolvidos em família, valorizando-se o sacramento que é o casamento, aberto ao diálogo franco, passaram para a mão dos representantes legais. Uma família transformada em notificações e esgrima de argumentos para convencer um juiz. Curiosamente, no meio de tanta gente envolvida, ninguém os aconselhou à reconciliação. O divórcio pareceu sempre o caminho mais fácil.

   Naquela família, nem a sogra representava um empecilho. Ambos, marido e mulher, contribuíram para aquele desfecho. Deu-se um confronto nos objectivos. Os egos não se toleraram. Quando assim é, quando cada um se coloca na dianteira sobre a família, algo vai mal. A família - e tinham um filho de 8 anos, mas já lá irei - é o valor mais importante no casal. Ali, começaram pela solução de ultima ratio: dissolvê-la.



   A criança e a atenção que lhe davam, desmesurada, na satisfação de todas as suas vontades, foi outro factor para o mal-estar geral. É tratada como o centro das atenções, como o centro da vida do casal, ajudando ao desgaste. Numa família, e isto é conhecimento empírico, todos se complementam. Aquele casal deixou de pensar em si, deixou de se namorar. As suas carreiras enquanto actores e directores e o filho prevaleceram sobre o amor, e esqueceram-se de que foi o amor o gérmen da família. Não o alimentaram. Ele não morreu, de facto, mas não soube resistir à pressão. Depois, tudo sucedeu de forma demasiado rápida. Quando se deram conta, e isso é particularmente visível numa cena, tinham assinado os papéis.

    As interpretações de Scarlet Johansson e de Adam Driver são bastante convincentes. Justificam-se as nomeações para Melhor Actriz e Melhor Actor. Laura Dern, como advogada zelosa e escrupulosa no cumprimento do seu dever (talvez até demais…), também logrou a sua terceira nomeação, desta vez para Melhor Actriz Secundária.

   Marriage Story tem uma aura quase seventies, oscilando entre o glamour do cinema e o conforto do telefilme. Talvez seja um filme mais para o sofá, não deixando de ser um bom filme.

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    Provavelmente serei o único que destoa do coro de elogios a The Irishman, que é um filme que nos lembra o clássico de 1972 O Padrinho, ficando muito aquém deste. É demasiado longo, insistindo na fórmula que já conhecemos: a Máfia exige lealdade em troca de uns servicinhos. Quem falha, quem desonra "a família", é executado impiedosamente. A violência gráfica, explícita, deste filme vem por acréscimo. É necessária para dar aquele toque gangster. O cerne da questão, como diz o povo, é: o que retemos de Irishman para o futuro? Nada. Não fossem os grandes nomes da produção - Robert de Niro, Al Pacino, Joe Pesci - e ter-me-ia sido insuportável chegar ao final.




   Olhar para o passado em jeito de retrospectiva, contando a história de vida e lamentando os erros, não melhora em nada a experiência com The Irishman. Justificam-se, talvez, as nomeações para Melhor Direcção de Arte e Melhor Figurino, porque efectivamente há a elogiar o esmero na recriação das décadas em que o filme se desenrola, com tudo o que isso inclui: cenários, roupas, objectos. O toque a classe está lá. Falta-lhe é ser mais do que outro filme sobre a Máfia. Depois de Silence, que adorei, Scorsese mete o pé na poça. Nem arriscou, tão-pouco. Poderia ter sido mais arrojado. Foi previsível, tanto ao ponto de julgar que já tinha visto este filme. Já o vi, é certo, porque o que subjaz a filmes de mafiosos é sempre o mesmo. Definitivamente não voltaram a estar na moda.


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    Logo mais, estarei colado ao ecrã a ver os Óscares. Ainda não pude ver o Jojo Rabbit, o que duvido que viesse a alterar a minha escolha para Melhor Filme: 1917 ou Parasitas. Se o Joker ganhar, será profundamente injusto para com estes dois filmes nomeados na mesma categoria. Finda a cerimónia, nos próximos dias, direi algo sobre a entrega dos prémios e as minhas escolhas.

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