5 de fevereiro de 2020

Dia 5 - Óbidos e Mosteiro de Alcobaça.


   Inicialmente, coloquei o Mosteiro de Alcobaça e o Mosteiro da Batalha. Acontece que eu tenho uma pequena característica que pende para o defeito ou para a virtude, consoante a perspectiva em que se veja: nunca estou plenamente satisfeito. Pesquisei roteiros de viagens pelo centro do país e deparei-me com Óbidos, a vila medieval que, por acaso, nunca me suscitara o interesse, e mal. Incluí-a na semana de visitas com Alcobaça, autonomizando o dia dedicado ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória.

A Igreja de Santa Maria 


  Óbidos é aquela cidade que mais se assemelha a uma vila. Faz-nos entrar quase num cenário pitoresco, com as suas ruas tradicionais que nos encaminham até ao seu castelo. A par do castelo e das ruelas, destacaria a Porta da Vila, revestida a azulejos oitocentistas, e a Igreja de Santa Maria, cuja construção remonta ao século XII, com diversas modificações ao longo dos séculos. Óbidos é conhecida como vila medieval.


O Castelo de Óbidos 


   A nossa próxima paragem levar-nos-ia até Alcobaça, ao famoso mosteiro que começou a ser erigido pelos monges da Ordem de Cister ainda no século XII. A nave central é imponente, pela envergadura das arcadas e da abóbada. Claro que o grande encanto da igreja reside nos túmulos de Dom Pedro I e Dona Inês de Castro - a galega que arrebatou o coração do príncipe herdeiro e que pagou tal amor proibido com a vida -, dois sarcófagos que configuram o melhor da escultura gótica em Portugal. Salientaria ainda o túmulo de Dom Afonso II, numa nave colateral.


Eis aqui o nosso belo Mosteiro de Alcobaça 


O claustro

   O claustro medieval, o refeitório e o dormitório  são pontos de referência obrigatórios no mosteiro. O claustro principal, o claustro Dom Dinis, não é o único; outros há, mas é provável que não estejam acessíveis inteiramente. Na primeira divisão da visita, após a nave central, há a apreciar as esculturas dedicadas aos Reis de Portugal na Sala dos Reis, incluindo uma alegoria à entronização de Dom Afonso Henriques com inscrições em latim nos belíssimos azulejos.

O túmulo de Dom Pedro I 

A nave central




    À noite fui ao cinema ver o galardoado 1917, de que lhes darei conta noutra publicação.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone ou com a minha câmara Canon. Uso sob permissão.

6 comentários:

  1. Gosto de Óbidos, que visito regularmente, já que conheço pessoas que ali residem próximo.
    Não me entusiasma a vila, pois está tão cheia de pessoas, que mais parece uma povoação de "faz-de-conta". O encanto perdeu-se. Mas não se pode ter tudo. "Sol na eira e chuva no nabal" não existe! Não é possível!
    Aquilo está transformado num arraial, com milhares de gentes empilhadas pelas ruelas, restaurantes que não são nada baratos, festivais do chocolate, festivais da ginginha, festivais de tudo e mais o que quer que seja.
    Todo o encanto que me recordo de há 40 anos atrás pura e simplesmente desvaneceu-se, mas as pessoas ali estão muito mais ricas e confortáveis na vida, lá isso estão. Deixo este mundo para quem o quer apreciar.
    Lembra-me de uma pequena aldeia que visitei na Baviera, Rothenburg ob der Tauber, totalmente destruída durante a II Guerra Mundial, reconstruída com ajuda internacional (e ainda bem), mas que de vernáculo já não tem nada. É tudo um faz de conta monumental.
    Senti-me como um dos milhares de mirones que enfeitam as ruas, as quais estão todas revestidas de janelas e pequenas sacadas com flores que obedecem a um plano municipal: cada rua só pode ter flores de uma determinada cor definida previamente pela edilidade - lá se vai toda a criatividade pessoal e a curiosidade e espanto pelo inusitado ... apeteceu-me pintar algo nas paredes, mas, como é meu hábito, acatei e retirei-me para locais mais ao meu gosto.
    No entanto, e voltando a Óbidos, tenho verdadeira paixão pela pintura de Josefa de Óbidos, a qual pintou um retábulo dedicado a Santa Catarina para a igreja de Santa Maria da localidade. Lindíssimo!!!!!!
    Toda a sua obra é fantástica, e foi pouco reconhecida durante tantos anos, só mais recentemente esta artista foi reabilitada e reconhecida como um dos nossos expoentes maiores da pintura do século XVII. E merecidamente!!!
    Proveniente de uma família de pintores, o facto de ser mulher e pintar num estilo mais intimista, e ligado à religião, acabou por não funcionar posteriormente a seu favor, no entanto, enquanto esteve no ativo, era muito popular, mesmo famosa, e teve inúmeras encomendas, acabando por morrer rica, nunca se tendo casado.
    Conhecida pela sua pintura de índole religiosa, de um ou outro retrato da família real portuguesa, são as suas naturezas mortas que considero de um encanto que considero ímpar na história da arte portuguesa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Manel.

      Tive sorte, então: a par de uns "chinocas", não estavam mais do que os turistas habituais. Nada de gente excessiva. Contudo, apercebi-me de que ali no castelo fazem feiras disto e daquilo.

      Não entrei na igreja. Não tive tempo. Quis percorrer a "vila" e o castelo. Vi-a somente por fora.

      Eliminar
  2. Quanto à igreja do Mosteiro de Alcobaça, tem uma fachada barroca lamentável, que nada tem a ver com o interior austero e belo, com uma iluminação rara, que cai das alturas, pois a sua estrutura interior utiliza um esquema raro à época em Portugal (só viria a ser comum mais de um século depois), com abóbadas à mesa altura, e um clerestório igualmente austero que aporta uma luminosidade que parece provir dos céus.
    O modelo original desta igreja perdeu-se durante a Revolução Francesa, pois inspirou-se na abadia de Claraval, em França, sendo esta fundada pelo próprio teórico da ordem de Cister: o universalmente aclamado São Bernardo, doutor da igreja, cuja regra guiaria os próprios Templários.
    Entre os seus amigos contam-se papas e o muito célebre Suger, considerado como um dos influenciadores para o aparecimento daquilo que se chamaria de Gótico, em arquitetura.
    Lendo alguns dos seus escritos (de S. Bernardo) não posso deixar de concordar com muitos dos seus postulados, que, se tivessem sido seguidos, seguramente teriam expurgado a igreja católica de muitas das suas vicissitudes.
    Sobretudo aquilo que constitui os seus princípios ligados à arquitetura dos edifícios cistercienses é algo de transcendente e inovador.
    Como mencionei, Alcobaça, à semelhanças de muitas outras igrejas cistercienses construídas na Europa, foi inspirado por Claraval, mas a sua construção foi igualmente experimental, pois ao ser construída, iniciaram-se as obras simultaneamente pelas suas extremidades, e, quando as paredes se encontraram a meio, e havendo alguma diferença no alinhamento delas, notam-se discrepâncias ao fazê-las "casar".
    Assim, há uma reentrâncias que se construíram na altura para que os paramentos se pudessem unir.
    O deambulatório é único, ao comunicar com elegantes arcadas à capela-mor. Este deambulatório com capelas radiais torna o edifício numa igreja de peregrinação, sem que o fosse na verdade. Serviu de panteão a alguma da família real da 1ª dinastia, no que a torna uma edificação de eleição.
    Já não quero falar da ação fantástica da ordem de Cister em toda esta região, que foi fundamental ao desenvolver a agricultura praticada na época, drenagem de terras e incrementou sobretudo a farmacopeia e os métodos da ciência médica trazidos pelos monges iniciais e os métodos construtivos, na altura desconhecidos entre nós.
    Estas ordens são fundamentais para o povoamento e desenvolvimento das regiões conquistadas pelos primeiros reis portugueses.
    A escrita já vai longa, tive de partir o comentário em dois :( ... uns bons dias de repouso
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. De facto, também lamento a fachada barroca. Parece não "casar", numa expressão sua.

      Sentimo-nos esmagados na nave central, pela sua estrutura esguia e pelas abóbodas sucessivamente dispostas lado a lado.

      Obrigado pelos seus maravilhosos aportes! Aprendo imenso de arte e arquitectura consigo.

      Cumprimentos e um bom fim-de-semana!

      Eliminar