30 de janeiro de 2024

A Inversão Sexual.


   Não costumo falar dos livros antes de os ler, mas fiquei tão entusiasmado com esta compra que preferi não esperar, até porque tenho tantos em lista de espera para ser lidos que provavelmente demoraria anos a escrever uma palavra sobre eles.

   Hoje mesmo chegaram-me, de Portugal (eu continuo a pedir livros de Portugal, através dos sítios das editoras, pela internet), dois livros que são clássicos da literatura médico-científica sobre a homossexualidade, curiosamente ambos com o mesmo título: A Inversão Sexual; um deles o primeiro livro que aborda a homossexualidade desde um ponto de vista médico-científico em língua inglesa, de 1897, por Havelock Ellis, médico britânico, e o outro, de dois anos antes (1895), por Adelino Pereira da Silva, médico português que também se debruçou num estudo sobre a homossexualidade - o primeiro em Portugal.





     Provavelmente -seguramente- parecer-me-ão leituras antiquadas, contudo, não está mal conhecer a perspectiva médico-científica de então, com todas as suas falhas, preconceitos, imperfeições e juízos de valor enviesados. Sobretudo, há que fazer-se uma leitura descomplexada, tendo sempre em consideração a época em que foram escritos. Hoje mesmo relatei, nas minhas redes sociais, episódios de homofobia que sofri no colégio, no final dos anos 90 do século passado. Imagine-se no final do século XIX. Soube, entretanto, que pelo menos no que concerne ao primeiro, inglês, tem uma abordagem bastante tolerante para a época. Mais, só poderei acrescentar depois de os ler.

    Resta dizer que os comprei através da Amazon, e que são edições da Index eBooks, uma editora LGBT, cujos donos conheço pessoalmente - privei com eles nalguns jantares de blogues, e eram pessoas bastante assíduas, inclusive, aqui na blogosfera. Um deles era o João Máximo.

9 comentários:

  1. Temas interessentes
    Boas leituras
    Abraço amigo

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  2. Não tenho opinião sobre o assunto, pois é um mundo do pouco conheço, assim como tantos outros assuntos que parecem incomodar tanta gente.
    Também não é assunto que me interesse muito, devo confessar.
    Sei que quaisquer desvios à norma podem incluir grande dramas pessoais, o que lastimo, pois não acredito que o ser humano tenha nascido para ser infeliz. Aliás, nós não somos tidos nem achados no ato de nascimento, apesar da sociedade nos incutir um sentimento de culpa castrador, quando a nossa condição se desvia da norma.
    Espero que cada pessoa encontre o seu caminho e que esteja o melhor possível com ele. Será o melhor para cada ser humano, e para os que o rodeiam e que dele gostem. Escolho sempre a tolerância, desde que esta não seja perniciosa ou destruidora.
    Convivi com demasiados alunos com problemas graves, que resultaram em distúrbios de comportamento, para lhes desejar o que quer que seja de mal, ou que queira, ou deseje, que eles se conformem com a norma. Cada um é um ser humano peculiar e original na sua integridade, pelo que deve ser respeitado como tal, e ajudado, se necessário, a ser ele mesmo.
    Manel

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    1. Manel,

      Não entendi a que mundo se referia.

      Se for em relação ao tema dos livros, como a homossexualidade era vista no século XIX, pois eu também não sei, mas imagino que não fosse muito bem vista no meio científico. A julgar pelo que disse Egas Moniz alguns anos depois…

      Eu tive, e tenho, distúrbios de comportamento fruto dos traumas que sofri na infância. Foram muitos. Isso deixa a sua factura. Não pode desculpabilizar, mas pode justificar.

      Não nascemos para ser infelizes, não obstante, nascemos e somos infelizes. Vivemos num mundo de dor, sofrimento, cheio de momentos maus. Não poderei falar por cada uma dos 7 biliões de pessoas (ou 8?) que tem o planeta, no entanto, creio que não me afastarei da verdade se disser que a esmagadora, mas esmagadora maioria tem mais momentos infelizes do que felizes. Devemos, inclusive, tê-lo em conta na hora de decidir ter um filho. Sei que não é o seu caso e nem o meu (jamais seria pai, por uma multiplicidade de razões que não são chamadas aqui), mas as pessoas não costumam ponderar sobre isso: colocar alguém no mundo é um enorme risco. Eu, se tivesse podido escolher antes, teria dito que não. Veja os meus pais: puseram-me no mundo, e agora “abandonaram-me”, com 37 anos. Não me refiro a abandonar no sentido literal, pois nem eles tiveram culpa directa nas suas mortes. Tiveram-na indirectamente. Não se cuidaram. Beberam, fumaram, fizeram noitadas, o que me levou a estar “órfão” com menos de 40 anos. Quando a esperança de vida está nos 90, ou perto, perdi a minha mãe com 64 anos e o meu pai com 73 anos. Não pensaram em mim. Não pensaram no impacto que as suas mortes teriam no meu já frágil equilíbrio.

      Não sei se respondo bem ao seu comentário. Confesso que tive alguma dificuldade em situá-lo no contexto desta minha publicação.

      Cumprimentos,
      Mark

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  3. Sendo homossexual não penso muito sobre isso, pois é algo que não me interessa. Sou-o, aceito-o, e passo à frente.
    No entanto, sei que há pessoas com muita dificuldade em aceitar este sair da norma, e conheço muitos que vivem vidas enfernizadas, escondidos pelos cantos, com processos de culpa tremenda devido à tradição da moral judaico-cristã. Não me identifico com nada disto. É ao que me refiro, ao mundo castrado dos inconformados e dos que não se aceitam. Tento ser feliz da forma que sei e que me parece mais correta para a minha forma de pensar e sentir. Será a melhor? Será a pior? É a única que aprendi. E durmo tranquilo sabendo que não estou a trair-me.
    Cumprimentos e obrigado por esta troca de ideias, que é gratificante
    Manel

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    1. Manel,

      Ahhh, agora fui lá. Relativamente a isso, eu também sempre me aceitei. Aliás, sei que sou homossexual desde pequenino. Eu era extremamente feminino, sentia atracção pelos meninos, e isso levou-me a saber que era diferente dos outros rapazes. Mesmo que não me tivesse dado conta da minha “diferença”, a sociedade não mo teria deixado passar despercebido, porque me fizeram comer o pão que o diabo amassou com insultos de toda a forma e feitio. As pessoas foram mesmo muito más comigo.

      A religião nunca desempenhou qualquer papel na minha família. Os meus pais não ligavam a isso, e felizmente sempre me aceitaram. Eram extremamente liberais relativamente à homossexualidade. Jamais, quer o meu pai, quer a minha mãe, me discriminaram por ser gay. Isso nem se falava. Eu era como queria e ponto final. É o lado bom de ter uns pais que frequentavam a noite, que conheciam muita gente. O meu pai (creio que o contei no blogue) trabalhou no primeiro bar de travestis de Lisboa. Isto nos finais dos 70 / início dos 80.

      Trocar ideias consigo é sempre gratificante. :)

      Cumprimentos,
      Mark

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    2. Enfernizadas=infernizadas - lapso ortográfico

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  4. Olá Mark, obrigado pelo post simpático sobre estas nossas 2 edições! Um forte abraço para ti. João

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    1. Olá, João.

      Eu é que agradeço o vosso labor em prol da cultura.

      Um forte abraço,
      Mark

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