31 de maio de 2023

A Praia 19.


   Estive a falar com um amigo português que andou aqui nos blogues durante muitos anos (o Horatius, do Aqui no Campo), e calhou em conversa o tema das praias e do nudismo. Nunca fiz nudismo; ele sim. E acabei por comentar-lhe que estive duas vezes, salvo erro, na famosa Praia 19, ou simplesmente a 19. Fui com um amigo de há muitos anos (que não é aqui dos blogues), um dos meus melhores amigos -um rapaz excelente, diga-se, com um coração d'ouro-, e que tem queda para o cruising. Ele gosta, como tantos e tantos na comunidade gay, e eu, felizmente, deixei-me de moralismos. As coisas são como são. O cruising foi importante para muitos homossexuais durante os anos da repressão, aqui e em todos os países. Eram os únicos locais de encontro, onde, além das práticas sexuais, se podia conhecer alguém igual, semelhante nos gostos e preferências. Até um amigo. Não era apenas uma imoralidade, um “vício contra a natureza”, um atentando ao pudor público. Era muito mais que isso: era um tubo de escape para o ostracismo, a perseguição social e legal, o isolamento. 


Foto na 19, e já tenho saudades do Verão! (Setembro 2019)


    Sim, estive na Praia 19. Sim, fui pelos arbustos e pelas dunas com o meu amigo. Não, não fiz nada com ninguém. Ninguém me perturbou. As pessoas estão nas suas vidas. Querendo, fazem; não querendo, não fazem. Mas vi. Vi práticas sexuais, algumas, e não me choca dizê-lo, ao contrário do que me chocou na altura ao vê-lo. Na inversa, é bom conhecer tudo o que há no mundo -isso é cultura-, e não viver numa bolha, indiferente ao que se passa. Assim, depois de conhecer, posso dizer com propriedade que não é o tipo de praia que goste de frequentar, não me sentindo à vontade, porém, lá está, há que conhecer para se saber, e há que conhecer antes de se criticar.

4 comentários:

  1. Bem verdade, fui lá algumas vezes, porque prefiro a praia de Carcavelos :)
    Gostos
    Abraço amigo

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    1. Eu, para praia, o Algarve (em Portugal); em Espanha, tenho ido nos últimos dois anos às Canárias e adoro. As praias de Lisboa (distrito) são um gelo, quer Cascais, quer a Costa. A Carcavelos nunca fui. Fui algumas vezes à praia da Parede.

      Um abraço, amigo
      Mark

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  2. Nasci numa ilha, por isso, a praia rodeava-me. Eu não ia à praia, estava na praia.
    Em Portugal, nos anos 80, e mesmo início dos 90, fui inúmeras vezes à praia, e a 19 foi um dos meus destinos, senão favorito, pelo menos, popular. E aqui, pratiquei sempre nudismo.
    E fui igualmente um dos que pratiquei sexo no areal. Afinal, um homem não é de ferro!!! :)
    A partir de 92 passei a ter um companheiro, e, logo em seguida, , passei a ter problemas de pele devido à incidência solar, o que significa que não vou passar um dia à praia há cerca de 30 anos.
    Claro que vou à praia, e, nas últimas semanas, estive em Barcelona, onde aliás estou amiúde, e aí sim, costumo chegar às cálidas águas do Mediterrâneo ao final da tarde, dou um mergulho e... vou para casa. Nunca fico. Mas continuo a praticar nudismo. É um prazer sentir a liberdade do corpo sem qualquer coisa que me impeça de sentir o contacto total com a água.
    No entanto, creio que os meus dias na praia terminaram. Limito-me a ir, dou um mergulho, seco-me, e 20 minutos depois estou em casa.
    Muitos cumprimentos para vós
    Manel

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    1. Olá, Manel

      Nasceu na Ilha de Moçambique, suponho.

      Eu ia muito à praia com os meus pais. Todos os anos, pelo Verão; o meu pai adorava praia, a minha mãe nem tanto. E eu… adoro praia. Adoro nadar. Adoro estar na praia, sentir a alegria e a agitação que o Verão provoca nas pessoas, aquela luz vívida. Costumo, aliás, dizer que há dois momentos do ano que eu adoro: a semana (geralmente é sempre uma semana) de férias na praia, pelo Verão, e o Natal.

      Eu conheci a 19, como refiro na publicação, através desse meu amigo. Da primeira vez, levou-me por uma ribanceira extremamente íngreme, que desci com imensa dificuldade (e medo, inclusive). Cá em baixo, deparei-me com algo totalmente novo para mim: o sexo ao ar livre. Dois homens a praticarem sexo oral a um terceiro, uma penetração. O meu amigo, deslumbrado, movimentando-se, e eu encavacado, sem saber como reagir. Fui assediado, no entanto, por medo e constrangimento, “fugi” para a praia.

      À época, pareceu-me uma experiência degradante. Senti um certo nojo por ter tido contacto com aquele mundo; hoje, entretanto, à distância de alguns anos, e sendo mais velho, vejo que foi pertinente conhecê-lo; que faz parte de um processo de aprendizagem e experiência a que estamos continuamente sujeitos enquanto vivemos.

      Cumprimentos!
      Mark

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